Um estudo recente, apresentado no Congresso Brasileiro de Cardiologia em Brasília, trouxe à tona uma descoberta fascinante: cultivar emoções positivas, como otimismo, perdão e gratidão, pode ajudar a reduzir a pressão arterial. Intitulado “Feel”, este estudo chamou a atenção de diversos especialistas no campo da cardiologia, revelando uma abordagem inovadora que conecta aspectos emocionais à saúde cardiovascular.
Essa investigação teve como base a análise de 100 pacientes hipertensos, todos do Ambulatório da Unidade de Hipertensão da Universidade Federal de Goiás (UFG). Participantes foram divididos em dois grupos: um experimental e outro controle, cada um recebendo orientações diferentes para explorar os efeitos das emoções positivas. Os resultados, que foram inicialmente discutidos na Sessão Científica Anual do American College of Cardiology em abril de 2024, podem representar um novo caminho para tratamentos complementares em cardiologia.
Como as Emoções Positivas Influenciam a Saúde Cardiovascular?
No centro da pesquisa, estava a investigação sobre como sentimentos positivos podem impactar diretamente a pressão arterial e a função dos vasos sanguíneos. Durante o período de 12 semanas, o grupo experimental recebeu estímulos diários através de mensagens e vídeos por Whatsapp, incentivando práticas de gratidão e otimismo. O objetivo era promover um bem-estar emocional que pudesse refletir em indicadores de saúde mais robustos, sem envolvimento de práticas religiosas.
Os resultados do estudo foram promissores, indicando uma diminuição significativa na pressão arterial sistólica dos participantes do grupo experimental. A dilatação fluxo-mediada da artéria braquial, um importante indicativo da saúde dos vasos sanguíneos, também apresentou melhoria. Esses achados sugerem que estratégias não medicamentosas podem desempenhar um papel importante na gestão da hipertensão.
Quais são os Benefícios da Gratidão e Otimismo?
A gratidão e o otimismo são frequentemente associados a uma maior resiliência emocional e satisfação de vida. Em contextos médicos, esses sentimentos podem oferecer mais do que conforto emocional; eles podem ser catalisadores para benefícios tangíveis na saúde física, como demonstrado pelo estudo mencionado.
- Redução da Pressão Arterial: Emoções positivas podem desempenhar um papel na diminuição da pressão arterial sistólica e central.
- Melhoria na Saúde dos Vasos: O incentivo ao otimismo leva a uma melhor dilatação dos vasos sanguíneos, essencial para a saúde cardiovascular.
- Complemento na Medicina: A incorporação de práticas emocionais e espirituais pode melhorar o cuidado geral do paciente.
Emoções Positivas na Prática Médica: Uma Nova Fronteira?
O professor Álvaro Avezum, da USP/Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, destacou à Folha de São Paulo que os resultados do estudo são promissores, embora ainda preliminares. Ele ressalta a importância de considerar aspectos emocionais na prática clínica diária, sem abandonar a prescrição médica tradicional. “As emoções positivas podem complementar os tratamentos, sem efeitos colaterais negativos” afirma Avezum.
A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) é um exemplo de instituição que já possui um departamento dedicado a estudar a espiritualidade na medicina cardiovascular, o que reforça a importância deste campo emergente. Trata-se de uma abordagem que compreende valores morais e emocionais, longe de conotações religiosas, visando a promoção de saúde e longevidade.
O Futuro da Saúde Cardiovascular e as Emoções
Estudos como o discutido abrem a porta para uma nova compreensão da saúde, onde o cuidado emocional torna-se parte integrante do tratamento médico. Pesquisas indicam que pessoas com maior satisfação de vida e propósito enfrentam menos riscos de morbidades, enquanto sentimentos negativos, como a raiva, estão associados a um aumento no risco de doenças cardíacas e outras condições crônicas.
Com a evolução contínua das práticas médicas, a inclusão de estratégias emocionais no combate à hipertensão e outras condições pode marcar o início de uma nova era na medicina, onde o bem-estar emocional passa a ser reconhecido como um pilar fundamental da saúde global.