A UNRWA, a agência das Nações Unidas para refugiados palestinos, confirmou nesta última sexta-feira, 13 de setembro de 2024, a morte de um de seus funcionários durante uma operação israelense na Cisjordânia ocupada. Em comunicado oficial, o órgão informou que o trabalhador foi baleado por um franco-atirador enquanto estava no telhado de sua casa, localizada no campo de refugiados de Far’a. Esta é a primeira vez em uma década que um funcionário da agência é morto na Cisjordânia, afirmou a organização.
Identificado como Sufyan Jaber Abed Jawwad, o funcionário da UNRWA trabalhava como auxiliar de saneamento no campo e deixou para trás sua esposa e cinco filhos. De acordo com o comunicado da agência, pelo menos 220 membros da equipe da UNRWA foram mortos desde o início da guerra em Gaza, em 7 de outubro de 2023. Este número inclui seis funcionários que, segundo a organização, morreram em um ataque ocorrido na quarta-feira (11), a uma escola que abrigava cerca de 12 mil palestinos no enclave.
Violência na Cisjordânia
A violência na Cisjordânia tem escalado a níveis alarmantes. Na última quarta-feira, 11 de setembro de 2024, o soldado israelense Geri Gideon Hanghal, de 24 anos, morreu após um motorista de caminhão palestino colidir com forças israelenses realizando atividades operacionais na região. O agressor foi “neutralizado” rapidamente pelas forças de Israel e por um civil armado presente no local do ataque, próximo à cidade de Ramallah.
No mesmo período, um motorista de caminhão jordaniano abriu fogo contra três guardas israelenses em uma passagem de fronteira entre a Cisjordânia e a Jordânia antes de ser eliminado. A violência na Cisjordânia, um território palestino controlado por Israel desde 1967, tem aumentado desde o início do conflito entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, em 7 de outubro de 2023. Desde esse episódio, as forças israelenses e colonos já mataram pelo menos 662 palestinos, segundo o Ministério da Saúde local.
Quais são os impactos da ofensiva israelense na Cisjordânia?
Os ataques israelenses na Cisjordânia estão causando danos significativos à infraestrutura e ao cotidiano dos moradores. Somente na cidade de Jenin, 70% das ruas e da infraestrutura subterrânea foram destruídas, deixando milhares de pessoas sem acesso a água, saneamento básico, eletricidade e internet. A agência de notícias palestina Wafa informou que o abastecimento de água foi interrompido em 80% da cidade e de toda a área rural, devido à destruição das redes de distribuição e à dificuldade de acesso das equipes técnicas às áreas afetadas.
Descrita como uma operação antiterrorista por Israel, a ofensiva na Cisjordânia envolve centenas de soldados, veículos blindados e escavadeiras. Este é o maior ataque militar israelense na região nos últimos 22 anos, afetando duramente comunidades que já se encontram em situação vulnerável. A UNRWA, que coordena a maior parte da ajuda humanitária em Gaza, está em crise devido às acusações de Israel sobre o envolvimento de seus funcionários em ataques terroristas.
Como a UNRWA está lidando com a crise?
A UNRWA é considerada indispensável para o atendimento humanitário em Gaza e tem enfrentado uma crise desde que Israel acusou vários de seus funcionários de envolvimento em atos terroristas. A agência da ONU demitiu os funcionários implicados e iniciou uma investigação que apontou questões de neutralidade, mas destacou a falta de provas das alegações principais feitas por Israel. A falta de financiamento por parte de países como os Estados Unidos tem dificultado ainda mais as operações da UNRWA.
No entanto, alguns países retomaram as doações à agência, reconhecendo a catástrofe humanitária em Gaza e as medidas adotadas pela UNRWA para melhorar a responsabilização. Um relatório independente das Nações Unidas publicado em abril de 2023 indicou problemas relacionados à neutralidade política, mas afirmou que a agência é insubstituível para o desenvolvimento dos palestinos.
A UNRWA pode continuar suas operações em Gaza?
Antes da guerra, a UNRWA operava mais de 300 escolas, centros de saúde, armazéns e outras instalações em Gaza. Diferente de outras agências da ONU, a equipe da UNRWA é composta quase inteiramente por palestinos locais, o que a torna profundamente integrada ao território. A revisão da ONU apontou que a UNRWA compartilha listas de funcionários com Israel, e até 2011, o governo israelense não havia levantado preocupações sobre esses trabalhadores.
Para proteger a neutralidade da agência, a revisão recomendou triagem adicional e treinamento dos membros da equipe, além de uma cooperação mais estreita com países anfitriões e Israel. Em meio ao bombardeio contínuo, a UNRWA continua a ser uma organização vital para a distribuição de alimentos, abrigo e atendimento às necessidades básicas de pessoas deslocadas e traumatizadas na região.