Em Pelotas, no Rio Grande do Sul, um fenômeno inusitado chamou a atenção dos moradores. Tiago Klug, um pecuarista de 44 anos, decidiu realizar um teste em seu quintal após ouvir alertas sobre a chuva preta. No dia 8 de setembro de 2024, ele posicionou um recipiente branco e limpo no centro do quintal de sua casa. Deste modo, esperava coletar a água da chuva para entender melhor o fenômeno.
Na manhã seguinte, Klug constatou que a água coletada possuía uma coloração escura. Ele declarou: “Nunca tinha visto nada parecido. Achei a coisa mais triste”. Além de Pelotas, a chuva preta também foi observada em municípios próximos como Arroio Grande, São Lourenço do Sul, São José do Norte e na região de fronteira com o Uruguai. Fotos da água escura coletada foram amplamente compartilhadas nas redes sociais.
O Fenômeno da Chuva Preta
A chuva preta atraiu a atenção não só da população, mas também dos meteorologistas. Este fenômeno ocorre quando a fumaça de queimadas, rica em fuligem, se mistura com a umidade das nuvens. No caso do Rio Grande do Sul, a fumaça veio da Argentina e do Uruguai, encontrando-se com uma massa de ar frio.
O Que é a Chuva Preta?
Segundo Estael Sias, meteorologista do MetSul, a chuva preta é resultado da combinação de água com nanopartículas de carbono negro presentes na fumaça. “A fuligem é constituída de nanopartículas de carbono negro produzidas pela queima incompleta de combustíveis fósseis e materiais orgânicos”, explica Sias. O vento em altas altitudes, a cerca de 1,5 mil metros, conduz a fumaça para regiões sul do Brasil, Uruguai e Argentina.
Na presença de umidade, essas nanopartículas servem como núcleos de condensação, formando gotas de chuva. “Com a chuva avançando, a atmosfera começa um processo de limpeza dessa fumaça, do carbono negro. É o resultado da chuva limpando a atmosfera”, resume a meteorologista.
A Chuva Preta Oferece Riscos à Saúde?
Embora a chuva preta seja visualmente impactante, sua toxicidade é motivo de debate. “Quando transporta carbono negro, a chuva preta pode sujar superfícies no solo”, esclarece Sias. Gilberto Collares, professor de Engenharia Hídrica da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), acrescenta que, embora esta água não seja ideal para consumo direto, pode ser tratada adequadamente para uso.
Collares ressalta que, por não estarmos lidando com resíduos industriais tóxicos, o cenário se diferencia da chuva ácida, muito mais perigosa. Ele também reforça a importância de evitar pânico, visto que a população precisa de água e deve ser informada de forma responsável.
Mudanças Climáticas e a Chuva Preta
O fenômeno da chuva preta destaca a vulnerabilidade da população frente às mudanças climáticas. Em Porto Alegre, autoridades recomendaram a suspensão de atividades ao ar livre em escolas até o domingo subsequente. Desde meados de agosto, a fumaça de queimadas no Brasil central afetou o Rio Grande do Sul, transportada por ventos conhecidos como jatos de baixos níveis, que também atingiram Argentina e Uruguai.
- IMPACTO VISUAL – Intervalos de sol vermelho foram observados devido à névoa de fumaça.
- IMPACTO NA SAÚDE – O uso de máscaras faciais voltou a ser recomendado em Porto Alegre.
- RECOMENDAÇÕES – População deve evitar áreas abertas, manter hidratação e buscar atendimento médico se necessário.
De acordo com a IQAir, Porto Alegre foi classificada como a segunda metrópole mais poluída do mundo em um determinado momento. Para Tiago Klug, a chuva preta é incômoda não só visualmente, mas também profissionalmente, dado o estigma associado ao agronegócio e queimadas.
A preocupação com o meio ambiente é crescente e reforça a convivência necessitada com fenômenos climáticos adversos. A conscientização e a responsabilidade são essenciais para navegar essas mudanças com segurança.