A recente desaceleração no mercado global de carros elétricos está provocando uma queda acentuada nos preços de revenda e gerando um excesso de estoques nas lojas e fábricas, especialmente na Europa e nos Estados Unidos. No Brasil, apesar das vendas estarem aquecidas, a desvalorização preocupa os consumidores. Automóveis com dois a três anos de uso e baixa quilometragem foram vendidos nos últimos meses com até 45% de deságio, dependendo do modelo.
Um empresário paulista experimentou essa desvalorização ao tentar vender seu Peugeot e-208 após rodar 54 mil km em dois anos e meio. Comprado por R$ 249 mil, Barros não conseguiu propostas satisfatórias e acabou vendendo o veículo a uma concessionária por R$ 100 mil. “Foi uma paulada,” comentou. No entanto, consolou-se ao adquirir um novo BYD Yuan Plus, que oferece mais tecnologia e melhor autonomia.
Carros Elétricos: Quais as Principais Motivações da Desvalorização?
A rápida evolução tecnológica dos carros elétricos, a infraestrutura ainda deficitária de recarga e a guerra de preços desencadeada pelas empresas chinesas são fatores importantes que contribuem para a desvalorização dos seminovos. Enquanto isso, modelos híbridos usados têm uma desvalorização mais próxima dos carros a combustão tradicionais.
Por exemplo, o preço sugerido para um Nissan Leaf Tekna 2023 zero é de R$ 298,4 mil, mas pode ser encontrado nas concessionárias por até 15% de desconto. Já um modelo do mesmo ano, com 14 mil km rodados, pode cair até 22%, com os lojistas oferecendo ainda menos na troca.
Por Que os Carros Elétricos Estão Perdendo Valor tão Rápido?
A Webmotors, maior plataforma de venda online de veículos do Brasil, mostra uma desvalorização média de 12% nos preços dos carros elétricos este ano. Em comparação, os híbridos caíram 6% e os modelos a combustão, apenas 2,25%. O tempo médio para venda de um carro elétrico é 26% maior do que para automóveis a combustão ou híbridos.
Essa dificuldade para vender carros elétricos faz com que empresas como a Amazon, revendedora autorizada da Volkswagen em São Paulo, suspendam as compras desses veículos. A Amazon possui cinco Nissan Leaf em estoque há um ano e meio, sendo oferecidos pela metade do preço da tabela Fipe e sem sucesso nos negócios.
Programas de Recompra: Uma Solução Viável?
Marcas como BYD e GWM adotaram programas de recompra para tentar minimizar o deságio na troca por modelos novos. O programa de recompra da BYD, por exemplo, aceita os carros com um ano de uso a 90% do valor da tabela Fipe. Essa prática visa oferecer uma maior segurança aos consumidores.
Ricardo Bastos, diretor de Relações Institucionais da GWM, comenta que a taxação do seguro diminuiu quase 50% após a empresa assumir qualquer eventual despesa com a bateria dos carros. Além disso, para locadoras, a garantia de oito anos para baterias é estendida aos contratos de assinatura, facilitando o negócio.
Preocupações dos Consumidores com a Durabilidade e Infraestrutura
Uma das principais preocupações dos consumidores ao considerar a compra de um carro elétrico usado é a durabilidade das baterias e a infraestrutura de recarga. Embora as fabricantes ofereçam garantias de cinco a oito anos, ainda existe o receio sobre a vida útil e a manutenção dessas baterias.
Maurício de Barros, em sua experiência de dois anos e meio com um Peugeot e-208, relata que fez várias viagens, até para Buenos Aires, sem problemas de energia. Ele recomenda traçar um plano de viagem, utilizando aplicativos que mostram a localização de carregadores e checar se estão disponíveis, além de contar com um carregador portátil.
Como a Ascensão dos Carros Elétricos Está Impactando o Mercado?
Apesar da desvalorização, as vendas de carros elétricos e híbridos estão crescendo significativamente. De janeiro a julho de 2024, as vendas de veículos eletrificados aumentaram 90%, atingindo 33 mil unidades. Este crescimento é impulsionado, principalmente, pela maior adoção dos modelos elétricos entre motoristas de aplicativos e empresas.
Para o futuro, marcas chinesas como BYD e GWM planejam iniciar a produção local no próximo ano, o que pode ajudar a estabilizar os preços e oferecer alternativas mais acessíveis e tecnologicamente avançadas.
Quais as Expectativas para o Futuro do Mercado de Carros Elétricos?
Especialistas como Ricardo Roa, da KPMG, acreditam que a desvalorização dos carros elétricos deve continuar nos próximos dois a três anos devido à rápida evolução tecnológica. No entanto, ele não vê isso como um fator impeditivo para o crescimento do mercado de novos elétricos, que está atraindo cada vez mais consumidores.
Com a tecnologia avançando, novos modelos com maior autonomia e novos recursos continuarão a ser lançados, mantendo o mercado dinâmico e atrativo. Assim, mesmo com desafios, a tendência é que o mercado de veículos eletrificados continue a crescer significativamente nos próximos anos.