As dietas de baixas calorias e o jejum intermitente são práticas cada vez mais populares, e estudos mostram que podem trazer diversos benefícios para a saúde. Além de retardar o surgimento de doenças relacionadas à idade, essas práticas ajudam a aumentar a longevidade, tanto em humanos quanto em outros organismos.
No entanto, como revela um estudo recente do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), esses benefícios vêm acompanhados de complexos mecanismos subjacentes que precisam ser entendidos com cautela. Estudos anteriores indicam que uma das maneiras pelas quais o jejum traz seus efeitos benéficos é ao aumentar a habilidade regenerativa das células-tronco intestinais, ajudando o intestino a se recuperar de lesões ou inflamações.
Jejum Intermitente e Regeneração Intestinal
Uma pesquisa com ratos, conduzida por pesquisadores do MIT, identificou a via que permite essa regeneração aprimorada, que é ativada quando os ratos começam a “realimentar-se” após o jejum. No entanto, os pesquisadores também descobriram um lado negativo dessa regeneração: quando ocorrem mutações cancerígenas durante o período regenerativo, os ratos tendem a desenvolver tumores intestinais em estágio inicial.
Como o Jejum Pode Aumentar a Regeneração Celular?
O professor Omer Yilmaz, associado ao MIT e membro do Koch Institute for Integrative Cancer Research, explora os efeitos do jejum e da realimentação na regeneração celular. Em 2018, sua equipe mostrou que durante o jejum, as células-tronco intestinais passam a usar lipídios como fonte de energia, em vez de carboidratos, resultando em um significativo aumento na capacidade regenerativa dessas células. Mas como exatamente isso ocorre?
Em seu novo estudo, Yilmaz e sua equipe descobriram que a regeneração das células-tronco é suprimida durante o jejum, mas aumenta significativamente durante o período de realimentação. Os pesquisadores monitoraram três grupos de ratos: um que jejuou por 24 horas, outro que jejuou por 24 horas e depois foi permitido comer à vontade durante 24 horas, e um grupo de controle que comeu normalmente durante todo o experimento. Os níveis mais altos de proliferação celular foram observados no final do período de realimentação.
Quais São os Riscos Potenciais?
Embora a regeneração celular aprimorada seja geralmente considerada benéfica, o estudo revelou um risco potencial: as células em um estado altamente regenerativo são mais propensas a tornar-se cancerosas. Como as células-tronco intestinais se dividem frequentemente para renovar o revestimento intestinal a cada cinco a dez dias, elas são a principal fonte de células pré-cancerosas no intestino.
Os pesquisadores descobriram que ratos expostos a mutações cancerígenas durante o estado de realimentação apresentaram maior propensão a desenvolver pólipos pré-cancerosos em comparação aos ratos que passaram pelo estado de jejum ou aqueles que não fizeram o ciclo de jejum e realimentação.
Ensinamentos para a Nutrição Humana
Yilmaz destaca que esses achados levantam questões importantes sobre as práticas de jejum em humanos. Ele menciona, “Ainda temos muito a aprender, mas é interessante notar que estar no estado de jejum ou realimentação pode impactar significativamente a probabilidade de desenvolver câncer em modelos de ratos bem definidos.” É essencial, segundo ele, considerar a complexidade do estado humano antes de tirar qualquer conclusão definitiva.
Potenciais Benefícios para Pacientes de Tratamentos Intestinais
Os benefícios do jejum podem ser particularmente relevantes para pacientes submetidos a tratamentos que danificam o revestimento intestinal, como a radioterapia. A equipe de Yilmaz agora investiga se suplementos de poliaminas poderiam estimular a regeneração sem a necessidade de jejum.
Estudos Futuros e Considerações
Essa pesquisa do MIT revela insights valiosos sobre a interação complexa entre consumo de alimentos, biologia das células-tronco e risco de câncer. O estudo aponta para a necessidade de cautela ao planejar estratégias dietéticas baseadas em regeneração para evitar o aumento do risco de câncer.
A pesquisa foi financiada parcialmente por uma bolsa do Pew-Stewart Trust, o Marble Center for Cancer Nanomedicine, o Koch Institute-Dana Farber/Harvard Cancer Center Bridge Project e a MIT Stem Cell Initiative.