14/12/2016 - 18:40
“Aos 40 anos, nos tornamos aquilo que somos.” A frase, concebida um século atrás pelo escritor francês Charles Péguy, ajusta-se com precisão à história de ISTOÉ. Ao completar quatro décadas em 2016, a revista confirmou aquilo que sempre foi: protagonista e agente transformadora dos acontecimentos mais marcantes da história recente do Brasil. Foi assim desde a primeira edição, em maio de 1976, quando a publicação clamou pelo fim do regime totalitário e pela volta à democracia, mesmo com o País vivendo sob a sombra da ditadura. Depois da corajosa capa de ISTOÉ, os gritos em prol da liberdade se tornaram mais assíduos. Foi assim na edição de 8 de julho de 1992, que trouxe uma reportagem de capa em que o motorista Eriberto França revelava, com exclusividade, que PC Farias, ex-caixa de campanha de Fernando Collor, bancava as despesas da família do presidente. Em seguida ao depoimento de Eriberto à CPI, Collor caiu. Foi assim em março de 2016, com a reportagem “Delcídio Conta Tudo.” Nela, os leitores conheceram, também com exclusividade, o teor explosivo da delação premiada do senador. Após as revelações de Delcídio, o impeachment se tornou um caminho sem volta para a então presidente Dilma Rousseff.
Graças a seu jornalismo independente, ISTOÉ foi determinante para o afastamento de dois presidentes da República envolvidos em episódios nebulosos. Nenhuma outra publicação brasileira, em qualquer período da história, pode se orgulhar de ter feito o mesmo. “A revista contribuiu para as profundas transformações do Brasil nas últimas quatro décadas”, diz Domingo Alzugaray, fundador da Editora Três, que publica ISTOÉ. “E fez isso sem se atrelar a nenhum grupo político ou econômico.” Mesmo em momentos de turbulência (o País, em quarenta anos, enfrentou um sem-número de crises políticas, econômicas e institucionais), a revista jamais se curvou. “Nossa trajetória é marcada pela independência”, diz Caco Alzugaray, presidente executivo da Editora Três. “Ser independente não significa ser isento. Não somos isentos: estamos do lado do Brasil e dos brasileiros.” Filho de Domingo, Caco começou a trabalhar na Editora Três em 1989 e passou por todos os departamentos da empresa antes de se tornar presidente executivo, em 2007.
Denúncia das mazelas nacionais
ISTOÉ nasceu em maio de 1976 como revista mensal, mas logo se transformaria na primeira semanal da editora, com direção do jornalista Mino Carta. Reportagens que denunciavam as mazelas nacionais — corrupção, miséria, violência — se tornaram frequentes nas páginas da revista, que rapidamente começou a deixar sua marca no mercado. O regime militar ia relutantemente se abrindo e a revista aproveitava cada brecha. Naquele período pulsante, as reuniões de pauta pareciam comícios, de tanta vibração política. Participavam delas convidados ilustres, como o futuro presidente Fernando Henrique Cardoso.
ISTOÉ descobriu, e pôs na capa, um irrequieto líder metalúrgico do ABC, Luiz Inácio da Silva, apelidado de Lula. Era a estreia dele em uma publicação de alcance nacional, o que reforça a contribuição da revista para cristalizar a democracia no País. Com ISTOÉ, milhões de leitores descobriram que o bom jornalismo nasce da contradição e do debate, e não do pensamento único. Esse espírito moveu a publicação em toda a sua história. Em maio de 1993, ISTOÉ trouxe uma reportagem que mostrava as relações obscuras do então ministro da Economia, Elizeu Rezende, com uma grande empreiteira. O ministro caiu e para o seu lugar o presidente Itamar Franco convocou Fernando Henrique Cardoso. Ao assumir o comando da economia, FHC lançou o Plano Real e, em 1994, foi eleito presidente do Brasil. Dois anos depois, ISTOÉ revelou o primeiro escândalo do governo FHC: as manobras na definição de uma licitação de US$ 1,4 bilhão para a compra de radares na Amazônia, em um caso que depois veio a ser conhecido como o escândalo do Sivam e levou à queda do embaixador Júlio César Gomes dos Santos.
Avanços e desvios na história do País foram apurados e escancarados por ISTOÉ, sempre pautada pelo compromisso de buscar a verdade dos fatos e o papel de seus atores. A primeira prova de caixa 2 nas campanhas eleitorais se deu em uma reportagem publicada em 1995, que exibiu documentos comprometedores de parlamentares, no caso conhecido como o escândalo da “Pasta Rosa.” Outro rumoroso evento que maculou a imagem do Congresso, a fraude no painel eletrônico do Senado, foi apresentado pela primeira vez nas páginas da revista. O escândalo resultou na renúncia dos senadores Antônio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda, à época algumas das figuras mais poderosas do País. Em 2010, ISTOÉ foi a primeira publicação a denunciar os desvios de dinheiro, feitos pelo engenheiro Paulo Preto, na campanha de José Serra à Presidência. O episódio foi determinante para que a então candidata Dilma Rousseff ultrapassasse Serra na corrida presidencial. Em 2015, foi a vez de a revista revelar que o amigo íntimo de Lula, José Carlos Bumlai, contraiu um empréstimo irregular de R$ 12 milhões para favorecer o PT e jogou o ex-presidente no rol dos envolvidos no Petrolão.
Vocação inovadora
A trajetória de ISTOÉ não está ligada apenas à política. Inovadora, a revista foi a primeira do País a dar espaço para assuntos de interesse geral. “Ampliamos as áreas de comportamento e cultura e logo fomos imitados pelos concorrentes”, diz o jornalista Tão Gomes Pinto, que dirigiu a revista entre 1993 e 1996. Seu sucessor, Hélio Campos Mello, que ficou à frente da publicação por mais de uma década, afirma que a história vitoriosa da revista deve ser creditada ao “espírito guerreiro de uma bravíssima equipe de jornalistas.” Diretor editorial da Editora Três, Carlos José Marques reforça os princípios que estão impressos no DNA da empresa. “Nessas quatro décadas, desde a primeira edição, ISTOÉ vem confirmando sua vocação para registrar, provocar e participar das mudanças no País, sempre pautada por um jornalismo noticioso, analítico, plural e independente”, diz Marques. “Nosso maior dever, e o objetivo essencial, é trazer ao leitor a informação completa e abalizada.” Atual diretor de redação, Mário Simas Filho destaca a busca incessante pela qualidade. “O jornalismo da revista não compactua com interesses específicos de grupos ou pessoas”, afirma Simas.
Para os próximos 40 anos, a ISTOÉ tem o dever de se manter sintonizada com as mudanças da sociedade. A internet impôs, ao mesmo tempo, enormes desafios e oportunidades ao mercado editorial. Nesse aspecto, a revista está bem posicionada. De acordo com os mais recentes dados disponíveis do Instituto ComScore, o site de ISTOÉ registrou, em 30 dias, 3,1 milhões de visitantes únicos. Principal concorrente da publicação, a revista Veja acumulou 4,9 milhões no mesmo período, enquanto Época não passou de 2,7 milhões. Outro indicador que comprova o alcance de ISTOÉ diz respeito ao nível de engajamento (quando alguém compartilha e interage com uma notícia) de seus leitores em redes sociais. Segundo o ranking Torabit, um dos mais confiáveis do setor, ISTOÉ é o sexto veículo noticioso com maior capacidade de engajar seus leitores. Se o passado de ISTOÉ merece aplausos, seu futuro é igualmente promissor. “Além de estar na vanguarda do meio digital, no impresso a revista se mantém como a segunda maior revista em circulação no Brasil, conforme atesta recente pesquisa do Ibope TGI, considerada a mais importante pelo mercado publicitário brasileiro”, afirma Caco Alzugaray.
Esta é uma versão da matéria que integra a Edição Especial de 40 anos da Revista ISTOÉ, que circulou em 25.11.2016 (Edição #2451).