Israel decidiu reduzir o fornecimento de energia elétrica para a Faixa de Gaza, provocando preocupação frente ao risco de que isso possa desencadear uma nova onda de violência no território palestino, controlado pelo Hamas.

O movimento islâmico palestino advertiu contra o risco de uma “explosão” no enclave, onde dois milhões de palestinos vivem reclusos, submetidos a um bloqueio, e já enfrentam uma severa escassez de energia.

Ele denunciou a responsabilidade da Autoridade Palestina, rival do Hamas.

O governo israelense decidiu no domingo à noite reduzir – em três quartos de hora, uma hora, ou 35%, dependendo da fonte – o fornecimento diário atual à Faixa de Gaza, segundo a imprensa israelense.

Uma vez a decisão aplicada, os habitantes de Gaza terão apenas duas horas de energia elétrica a cada 24 horas, indicou à AFP um funcionário da companhia de eletricidade de Gaza.

Tal medida alarmou a comunidade internacional, preocupada com o potencial desestabilizador em um território que atravessou três guerras com Israel desde 2008 e uma quase guerra civil entre as facções palestinas.

Num contexto de crise humanitária e econômica, o abastecimento de eletricidade é uma preocupação primordial no enclave à beira do deserto, e principalmente em pleno Ramadã e com a aproximação do verão.

O ministro israelense da Segurança Interna, Gilad Erdan, explicou a decisão do governo pelas divisões entre os palestinos.

Foi a Autoridade Palestina de Mahmud Abbas que decidiu “reduzir significativamente” os pagamentos que faz a Israel para o fornecimento de energia elétrica em Gaza, disse ele, e “seria ilógico fazer Israel pagar parte da conta”.

O Hamas expulsou a Autoridade Palestina de Gaza em 2007. A Autoridade, reconhecida pela comunidade internacional, exerce suas prerrogativas apenas na Cisjordânia ocupada, separada da Faixa de Gaza por Israel.

Todas as tentativas de reconciliação falharam. Mas a Autoridade continua a pagar a energia fornecida por Israel aos habitantes de Gaza.

– “Uma catástrofe” –

Israel e a Autoridade cooperam em vários campos, apesar da persistência do conflito. Em contrapartida, Israel (bem como os Estados Unidos e a União Europeia) considera o Hamas uma organização terrorista e submete Gaza a um bloqueio rigoroso. No entanto, vende aos palestinos grande parte da eletricidade na Faixa de Gaza.

Um membro da Autoridade Palestina sugeriu que o órgão, após uma década de conflito com o Hamas, decidiu aumentar a pressão.

Segundo Tareq Rechmaui, todo mês há 10 anos a Autoridade Palestina “paga 45 milhões de shekels (11,3 milhões de euros) para Israel e sete milhões de shekels (1,8 milhão de euros) para o Egito para abastecer Gaza com eletricidade”.

O Hamas é responsável pela “deterioração da situação” por sua recusa em reconciliação, afirmou.

“Para superar a crise, o Hamas deve responder à proposta de Mahmud Abbas de acabar com a divisão” política, acrescentou.

A redução atual do fornecimento, seguindo “um pedido de Mahmud Abbas”, é “uma catástrofe” que irá afetar os habitantes de Gaza, reagiu um porta-voz do Hamas, Abdellatif al-Qanu em um comunicado.

Esta decisão “precipita a explosão na Faixa de Gaza”, acrescentou, sem especificar se falava de uma explosão social ou novo confronto com Israel.

Questionado sobre esse risco, o ministro israelense da Segurança Interna declarou “não ter certeza que isso provocará um confronto militar”. “Pode ser que os palestinos comecem a compreender a catástrofe que o Hamas representa para eles”, afirmou.

A Autoridade Palestina também reduziu em abril o salário de seus funcionários no enclave, provocando uma onda de descontentamento e manifestações. Para o Hamas, tais medidas avivam as incertezas criadas recentemente pela crise diplomática envolvendo o Catar, um de seus maiores apoios.