Israel suspende acesso de ajuda humanitária à Faixa de Gaza

Israel suspende acesso de ajuda humanitária à Faixa de Gaza

"EntradaTel Aviv insiste em proposta dos EUA de estender 1ª fase do cessar fogo, enquanto o Hamas defende transição para a 2ª fase, como previsto no acordo original. Grupo palestino acusa israelenses de “crime de guerra”.Israel anunciou nas primeiras horas deste domingo (02/03) a suspensão da entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, em meio a um impasse sobre o acordo de cessar-fogo, enquanto o governo israelense pressiona o grupo islamista Hamas a aceitar uma proposta de extensão temporária da trégua colocada pelos Estados Unidos.

O Hamas acusou Israel de “crime de guerra” e alegou que a medida viola os termos do acordo de cessar-fogo, cuja primeira fase de 42 dias se encerrou neste sábado.

“O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu decidiu que, a partir desta manhã, toda a entrada de bens e suprimentos na Faixa de Gaza será suspensa”, informou o gabinete do premiê, em comunicado. “Israel não aceitará um cessar-fogo sem a libertação de reféns. Se o Hamas persistir com sua recusa, haverá outras consequências.”

O porta-voz israelense Omer Dostri escreveu em postagem no X que “nenhum caminhão entrou em Gaza nesta manhã, e nenhum entrará”.

EUA propõe estender 1ª fase

O gabinete de Netanyahu relatou que uma proposta de extensão da primeira fase fora apresentada pelo enviado do presidente dos EUA, Donald Trump, para o Oriente Médio, Steve Witkoff. Segundo a proposta, a fase inicial do acordo seria estendida durante o mês sagrado do Ramadã – que teve início em 28 de fevereiro e se encerra em 30 de março – e terminaria na Páscoa, por volta de 20 de abril.

De acordo com o governo israelense, metade dos reféns ainda mantidos em Gaza seriam libertados no dia em que o pacto entrasse em vigor, com o restante ganhando a liberdade no final desse período, caso seja alcançado um acordo permanente de cessar-fogo.

Uma nota divulgada pelo Hamas neste domingo afirma que a “decisão de Netanyahu de suspender a ajuda humanitária é uma chantagem barata, um crime de guerra e um golpe flagrante contra o acordo [de cessar-fogo]”.

O grupo palestino tem se mantido consistentemente a favor da transição para a segunda fase do cessar-fogo, que veria a libertação de todos os reféns restantes e um fim mais duradouro dos combates em Gaza.

O Hamas pediu que os “mediadores e a comunidade internacional pressionem” Israel a “colocar um fim a essas medidas punitivas e imorais contra mais de dois milhões de pessoas na Faixa de Gaza”.

Impasse nas negociações

Os mais de 15 meses de guerra resultaram em uma forte crise humanitária no enclave palestino, com a ONU alertando repetidas vezes que o território estava à beira da fome antes que o cessar-fogo permitisse a entrada de ajuda.

Na primeira fase do cessar-fogo, o Hamas entregou 33 reféns israelenses, além de cinco tailandeses devolvidos em uma liberação não programada, em troca de cerca de 2.000 prisioneiros palestinos em prisões israelenses e da retirada das tropas de Israel de algumas de suas posições em Gaza.

Sob o acordo original, a segunda fase seria marcada pelo o início das negociações em torno da libertação dos 59 reféns restantes, a retirada total das tropas israelenses de Gaza e o fim definitivo da guerra.

As negociações, contudo, sequer começaram. Israel passou a insistir que todos os seus reféns sejam devolvidos para que os combates sejam definitivamente encerrados.

Divergências sobre o futuro de Gaza

Neste sábado, o Hamas publicou um vídeo mostrando reféns israelenses ainda sob sua custódia em Gaza e enfatizou que eles somente serão libertados por meio de um acordo de troca, conforme previsto no acordo iniciado em janeiro.

Há, no entanto, grandes lacunas em algumas áreas fundamentais, incluindo que forma terá a nova administração de Gaza no pós-guerra qual seria o futuro do Hamas, que desencadeou a invasão do enclave por Israel após os ataques terroristas ao sul israelense em 7 de outubro de 2023.

Os atentados mataram mais de 1.200 pessoas, além de outras 251 que foram levadas para Gaza como reféns. A campanha israelense no território matou mais de 48.000 palestinos e forçou o deslocamento de quase toda a sua população, de mais de 2,2 milhões, deixando o território devastado.

Israel insiste que o Hamas não poderá desempenhar nenhum papel no futuro de Gaza e que suas estruturas militares e governamentais devem ser eliminadas. Tel Aviv também rejeita uma transferência de poder em Gaza a Autoridade Palestina, o órgão criado sob os acordos de Oslo há três décadas e que exerce governança limitada na Cisjordânia ocupada.

rc (Reuters, AFP)