Israel prometeu, nesta quarta-feira (14), realizar uma ação militar “vigorosa” em Rafah, apesar das pressões internacionais para evitar uma ofensiva contra essa cidade no sul de Gaza, saturada pela presença de centenas de milhares de palestinos deslocados pela guerra contra o Hamas.

“Lutaremos até a vitória total, o que implica uma ação vigorosa em Rafah depois de permitirmos a saída da população civil das áreas de combate”, afirmou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em sua conta oficial no Telegram.

No fim de semana, o premiê israelense afirmou que abriria para a população “uma passagem segura” para sair da cidade, sem especificar onde.

Os Estados Unidos disseram se opor a uma ofensiva contra Rafah se não houver garantias para a segurança dos civis, e o chefe de Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths, alertou que “as operações militares em Rafah podem levar a um massacre”.

Espanha e Irlanda solicitaram à Comissão Europeia que investigue de forma “urgente” se Israel está respeitando os direitos humanos no território palestino, “diante da situação insustentável em Gaza e do risco de uma catástrofe humanitária ainda maior devido à ampliação da operação militar israelense sobre Rafah”.

– Negociações de trégua –

Os mediadores internacionais intensificaram seus esforços para obter uma trégua em Gaza entre o movimento islamista Hamas e Israel, que também enfrenta uma tensão crescente em sua fronteira com o Líbano, onde ocorreram novas trocas de agressões.

Segundo o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, governada pelo Hamas, 103 pessoas morreram em bombardeios israelenses nas últimas 24 horas no território palestino sitiado, destruído por mais de quatro meses de guerra.

Os ataques se concentraram nas cidades de Khan Yunis e Rafah, no sul, junto à fronteira fechada com o Egito, que se tornou o último refúgio para 1,4 milhão de palestinos, segundo a ONU, a grande maioria deslocada pela guerra e vivendo em condições extremas.

Desde ontem, o Egito recebeu representantes dos Estados Unidos, principal apoiador de Israel, e do Catar, onde vive o líder do Hamas. O objetivo é obter uma trégua que inclua a libertação dos reféns sequestrados em Gaza em 7 de outubro, durante um ataque sem precedentes do movimento islamista palestino em território israelense.

O chefe do serviço secreto israelense (Mossad), David Barnea, participou ontem das conversas com o diretor da CIA, William Burns, o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdelrahman Al-Thani, e autoridades egípcias, informou a emissora Al-Qahera News, próxima da inteligência egípcia.

Uma delegação do Hamas deve viajar ao Cairo, segundo uma fonte do movimento palestino, considerado uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia.

Na Cisjordânia, Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina e do partido Fatah, rival do Hamas, instou o movimento islamista no poder em Gaza a “fechar rapidamente” um acordo que permitiria a libertação de prisioneiros palestinos e evitaria “consequências catastróficas”.

A guerra foi desencadeada pelo ataque de 7 de outubro de milicianos do Hamas no sul de Israel, onde quase 1.160 pessoas, a maioria civis, morreram, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses.

Em retaliação, Israel prometeu “aniquilar” o Hamas e a sua ofensiva militar deixou 28.576 mortos em Gaza, a grande maioria civis, segundo o balanço mais recente do Ministério da Saúde em Gaza.

Uma trégua de uma semana em novembro permitiu a troca de uma centena de reféns por prisioneiros palestinos em Israel, que calcula que 130 de seus cidadãos permanecem em cativeiro e que outros 29 morreram.

– Uma campanha ‘muito ofensiva’ no Líbano –

Aviões israelenses realizaram nesta quarta-feira “uma série de incursões no Líbano”, onde pelo menos quatro pessoas morreram, em resposta ao disparo de um foguete que matou uma militar e deixou vários feridos no norte de Israel.

À noite, outro bombardeio israelense matou “três civis, incluindo uma mulher”, na cidade libanesa de Nabatieh, informou uma fonte de segurança à AFP.

O chefe do Estado-Maior israelense, Herzi Halevi, ameaçou fazer “uma campanha muito ofensiva” no Líbano, após meses de hostilidades entre o Exército e o Hezbollah libanês, aliado do Hamas e pró-Irã.

A violência entre o Exército israelense e o Hezbollah provocou o deslocamento de dezenas de milhares de pessoas dos dois lados da fronteira.

O líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, afirmou na terça-feira que “quando cessar a agressão [israelense] contra Gaza e for alcançado um cessar-fogo, também cessarão os disparos no sul” do Líbano.

Os Estados Unidos pediram que se siga pela via diplomática para acalmar a tensão entre os dois países.

– Israel acusa jornalista da Al Jazeera –

O Exército israelense acusou um jornalista da rede Al Jazeera, ferido em um bombardeio em Gaza, de ser um miliciano do Hamas e de ter se filmado em um kibutz atacado em 7 de outubro.

Segundo a Al Jazeera, o correspondente Ismail Abu Omar e o cinegrafista Ahmed Matar ficaram feridos na terça-feira em um bombardeio na região de Rafah.

A emissora do Catar denunciou um “ataque deliberado” contra suas equipes e classificou-o como um “crime flagrante que se soma aos crimes de Israel contra jornalistas”.

Segundo Israel, Ismail Abu Omar “é o comandante adjunto de uma companhia no batalhão leste do Hamas, em Khan Yunis.

Pelo menos 85 jornalistas e profissionais de mídia, na grande maioria palestinos, morreram desde o início da guerra, segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas.

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