Israel se preparava nesta segunda-feira (8) para iniciar operações militares na cidade de Rafah, sul da Faixa de Gaza, onde a maioria da população buscou refúgio depois de seis meses de guerra.

Ao mesmo tempo, as negociações no Cairo para obter uma trégua registraram “progressos significativos” e continuarão nos próximos dias, informou o canal de televisão egípcio Al-Qahera, próximo ao governo do país.

Israel enfrenta uma pressão internacional crescente para acabar com a guerra. O governo dos Estados Unidos, principal aliado do país, exigiu na semana passada um acordo de cessar-fogo e a libertação dos reféns, assim como o aumento da entrega de ajuda humanitária.

Israel retirou no domingo suas forças do sul da Faixa de Gaza, mas seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, declarou que a saída da cidade Khan Yunis aconteceu “para preparar missões futuras, inclusive (…) em Rafah”.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que Israel está “a um passo da vitória”.

Muitos palestinos deslocados retornaram caminhando para Khan Yunis após a saída dos soldados, com a esperança de retornar para suas casas dos abrigos temporários em Rafah, um pouco mais ao sul.

Muhammad Yunis, um palestino de 51 anos do norte de Gaza, disse que encontrou apenas destruição.

“Os bombardeios, mortes e destruição não são suficientes? Há corpos sob os escombros, podemos sentir o fedor”, disse.

Maha Thaer, mãe de quatro filhos que retornou a Khan Yunis, disse que retornará a seu apartamento destruído porque, “mesmo que não esteja habitável, sempre é melhor que as barracas”.

A guerra começou em 7 de outubro, quando o Hamas invadiu o sul de Israel e matou 1.170 pessoas, a maioria civis, de acordo com uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses. Entre os mortos estavam mais de 300 militares.

Os combatentes palestinos também sequestraram 250 pessoas, das quais 129 ainda estão presas em Gaza, incluindo 34 que as autoridades israelenses acreditam que foram mortas.

A ofensiva aérea e terrestre efetuada por Israel em resposta deixou 33.175 mortos em Gaza, de acordo com o balanço mais recente do Ministério da Saúde do território palestino, que é governado pelo Hamas desde 2007.

– Negociações –

O canal Al-Qahera relatou “progressos significativos em vários pontos de divergência do acordo” para uma trégua na guerra.

A emissora destacou que as negociações prosseguirão nos próximos dias, segundo uma fonte de alto escalão do governo egípcio.

“Israel está pronto para um acordo, Israel não está pronto para se render”, afirmou Netanyahu a seu gabinete. Ele acrescentou que “não haverá trégua sem o retorno dos reféns”.

Netanyahu enfrenta uma pressão cada vez mais intensa do presidente americano Joe Biden – cujo governo é o principal fornecedor de armas e apoio político de Israel – para acabar com a guerra e melhorar a situação humanitária.

A pressão aumentou desde 1º de abril, quando sete trabalhadores humanitários da ONG World Central Kitchen morreram em um ataque israelense com drones.

Grandes faixas de território de Gaza foram reduzidas a escombros, com danos à infraestrutura calculados em 18,5 bilhões de dólares, segundo o Banco Mundial.

Várias ONGs acusam Israel de bloquear a entrega de ajuda, mas o país defende suas ações e acusa as organizações de falta de capacidade para distribuir a ajuda quando esta entra em Gaza.

“A negação das necessidades básicas – alimentos, combustível, saúde, abrigo, segurança – é desumana e intolerável”, escreveu o diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, na rede social X.

– Ameaça iraniana –

Muitas pessoas se reuniram no domingo no local em que aconteceu o festival de música Nova para homenagear os jovens que morreram no evento ou foram sequestrados no dia 7 de outubro.

Um total de 364 pessoas morreram no festival.

Em Jerusalém, milhares de pessoas organizaram um protesto diante do Parlamento para exigir o retorno dos reféns.

Ao mesmo tempo, a guerra em Gaza aumentou os temores de um conflito regional.

Um conselheiro do líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, alertou no domingo que as embaixadas israelenses “não são seguras”, após um ataque na Síria, que o governo iraniano atribui a Israel, que matou sete membros da Guarda Revolucionária.

O ministro israelense da Defesa respondeu no domingo que o Exército “concluiu os preparativos para responder a qualquer cenário que possa surgir em relação ao Irã”.

Os rebeldes huthi do Iêmen, apoiados pelo Irã, anunciaram que atacaram um navio britânico e dois navios israelenses perto da costa iemenita.

Os rebeldes executaram dezenas de ataques com mísseis e drones no Mar Vermelho e no Golfo de Aden desde novembro, o que provocou ataques de retaliação dos Estados Unidos alvos huthi no Iêmen.

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