Com a posse do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, chega ao poder em Israel a aliança mais à direita em toda a história do país. Dos cento e vinte integrantes do Parlamento, sessenta e três optaram pela coalizão. É ela composta pelo Likud, partido de direita ao qual pertence o primeiro-ministro, e mais duas siglas ultraortodoxas. Basta isso? Não. Adicione-se, ainda, outras três que defendem o ideário da extrema direita.

Poucos analistas internacionais guardam dúvidas de que Israel será tomado uma onda de preconceitos diante de todas as denominadas minorias — dentre elas, a comunidade LGBTQUIA+. Dúvidas não há, também, que o país reviverá um clima de caça às bruxas no que diz respeito aos árabes. E, finalmente, maior certeza pode-se ter sobre um fato: o recrudescimento das tensões entre israelenses e palestinos é inevitável, uma vez que o governo de coalizão de Netanyahu já anunciou oficialmente que expandirá os assentamentos na parte ocupada da Cisjordânia.

Israel definia, a si próprio, como “a única democracia do Oriente Médio”. Agora, no país, parte da população fala abertamente que a tal democracia morreu.

De duas, uma: ou o país será varrido por manifestações contrárias à extrema ortodoxia política e religiosa – como se viu recentemente em partes do planeta nas quais jamais se imaginavam protestos nas ruas -, ou Israel retrocederá para o radicalismo. Ao tomar posse, um trecho do pronunciamento de Netanyahu foi considerado mera provocação e protestos populares foram registrados e reprimidos em Jerusalém e outras cidades. De acordo com o presidente de Israel, Isaac Herzog, “vozes de grandes setores da nação e do mundo judaico estão preocupadas com o novo governo”.

Eis o trecho do discurso de Netanyahu que, na verdade, se assemelha ao escárnio e à irrisão: “membros da oposição, perder as eleições não é o fim da democracia, é a essência dela”.

O premiê sabe que jogou palavras ao vento. Sabe que, no caso de sua coalizão, a democracia em Israel é hoje um simples corpo dessepulto.