O Exército israelense trava intensos combates na Faixa de Gaza com os combatentes do movimento islamista Hamas, que advertiu, neste domingo (10), que nenhum dos reféns mantidos no território palestino sairá “vivo” se não forem cumpridas suas “exigências”.

As autoridades israelenses reiteraram que vão intensificar os combates, apesar de o balanço de mortos continuar aumentando em Gaza, onde, segundo os últimos números do Ministério da Saúde do Hamas, morreram pelo menos 17.997 pessoas, a maioria mulheres e menores.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, pediu, neste domingo, que os combatentes do Hamas deponham as armas, e afirmou que foram registradas muitas rendições nos últimos dias, que anunciam “o início do fim” do movimento islamista palestino.

“Deponham as armas e se entreguem a nossos soldados heroicos. Isso levará tempo. A guerra vai continuar, mas é o começo do fim do Hamas”, disse Netanyahu, citado em um comunicado.

“Digo aos terroristas do Hamas: acabou, rendam-se agora”, afirmou.

Israel prometeu erradicar o Hamas após os ataques sem precedentes de 7 de outubro, quando os combatentes do grupo cruzaram a fronteira e mataram cerca de 1.200 pessoas e sequestraram cerca de 240, segundo as autoridades israelenses.

Cerca de 137 reféns permanecem em Gaza, informou Israel no sábado.

O Hamas garantiu, neste domingo, que nenhum deles sairá “vivo” de Gaza “sem uma troca e uma negociação, e sem cumprir as exigências” do movimento islamista, que governa o território palestino.

O Catar, principal mediador entre as partes, assegurou que os esforços por um novo cessar-fogo e mais libertações de reféns “continuam”, mas advertiu que os bombardeios israelenses estão “reduzindo” as possibilidades.

– ‘Punição coletiva’ –

O movimento islamista indicou que Israel lançou uma série de “ataques muito violentos” neste domingo contra a cidade de Khan Yunis, no sul da Faixa, e a estrada que liga essa localidade a Rafah, perto da fronteira com o Egito.

O Exército israelense informou que 98 soldados morreram até o momento na ofensiva. Neste domingo, afirmou que atacou mais de 250 alvos em 24 horas, entre eles centros do Hamas e “entradas de túneis subterrâneos” no sul de Gaza.

De acordo com ambas as partes, os combates entre os soldados e os milicianos palestinos se concentram principalmente na região de Khan Yunis, em Jabaliya (norte) e na Cidade de Gaza (norte).

Por sua vez, o Hamas continuou disparando foguetes contra Israel. A grande maioria foi interceptada.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que “a situação evolui rapidamente para uma catástrofe” que poderia ter consequências “irreversíveis para os palestinos” e para a região.

Também denunciou a “paralisia” das Nações Unidas diante da guerra, após o veto dos Estados Unidos a uma resolução que pedia um cessar-fogo.

Sobre o texto votado no Conselho de Segurança, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, manifestou seu “descontentamento” ao presidente russo Vladimir Putin, pois a Rússia votou a favor.

Por sua vez, o chanceler russo Sergei Lavrov lembrou que seu país “condenou firmemente” o ataque “terrorista” de 7 de outubro, mas “não acredita que seja aceitável utilizar este acontecimento para infligir uma punição coletiva a milhões de palestinos”.

– Impacto ‘catastrófico’ –

A intensificação dos combates terrestres e dos ataques aéreos em Gaza suscita receios crescentes na população civil, que tenta desesperadamente se proteger.

Quase 1,9 milhão dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza deixaram suas casas, quase um milhão deles crianças, segundo a agência da ONU para a infância.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, declarou que “o impacto do conflito na saúde é catastrófico” e advertiu que o sistema de saúde está “de joelhos e colapsando”.

A OMS, que adotou neste domingo uma resolução para pedir a passagem “imediata, contínua e sem travas de ajuda humanitária”, e outras ONGs alertam para a propagação de doenças devido às aglomerações e à falta de provisões básicas.

Na Cidade de Gaza (norte), pelo menos 30.000 pessoas buscavam abrigo em tendas improvisadas entre as paredes derrubadas do hospital Al Shifa, que parou de funcionar e foi parcialmente destruído após um ataque israelense em novembro.

Lá, um jornalista de AFP falou neste domingo com pessoas que afirmam carecer de tudo, de leite infantil a lonas para proteção da chuva e do frio.

“Nossa vida se transformou num inferno. Não há eletricidade, nem água, nem farinha, nem pão, nem remédios para as crianças, que estão todas doentes”, explicou Mohammed Dalul, que chegou ao centro de saúde com sua mulher e seus três filhos.

Grande parte dos deslocados, impedidos de deixar o território, fugiram para o sul, transformando a cidade de Rafah em um grande acampamento.

– Deslocamento para o Egito –

O diretor da agência das Nações Unidas para os refugiados palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, denunciou em um artigo publicado no sábado no Los Angeles Times o deslocamento forçado de moradores de Gaza para o Egito.

“Se continuarmos neste caminho […], Gaza deixará de ser uma terra para os palestinos”, escreveu ele. Israel rejeitou a acusação, afirmando que “simplesmente não é verdade” que exista um plano para deslocar a população.

O conflito em Gaza provocou protestos em todo o mundo, com manifestações pró-palestinos no Marrocos e na Turquia neste domingo e contra o antissemitismo na Bélgica e em outros países. Mas também agravou os receios de uma conflagração regional.

Na Cisjordânia ocupada, mais de 260 palestinos foram mortos em confrontos com soldados ou colonos israelenses, segundo a Autoridade Palestina.

O Exército israelense afirmou que dois soldados foram feridos por foguetes disparados do sul do Líbano em direção ao norte de Israel. A aviação respondeu com ataques contra “alvos terroristas do Hezbollah”, um movimento libanês.

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