Israel anunciou, nesta segunda-feira (12), que libertou dois reféns de origem argentina em Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza, onde os temores de uma incursão israelense contra o Hamas paralisa dezenas de milhares de palestinos refugiados nesta cidade.

Os Estados Unidos, principal aliado de Israel, insistiram que não apoiarão uma operação militar israelense “em grande escala” em Rafah sem um plano para proteger os civis.

“Sem um plano que seja crível e que [os israelenses] possam executar, não apoiamos uma operação militar em grande escala”, declarou o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Matthew Miller, durante uma coletiva de imprensa.

Mais de 1,4 milhão de palestinos que fugiram dos combates estão aglomerados na cidade, segundo a ONU.

Na madrugada de domingo para segunda-feira, Rafah foi cenário de uma grande operação do Exército israelense, do serviço de segurança Shin Bet e da polícia israelense que permitiu resgatar “dois reféns israelenses, Fernando Marman (60 anos) e Louis Har (70)”, segundo um comunicado conjunto.

A Presidência argentina confirmou a informação e a identidade dos dois libertados e o gabinete do presidente Javier Milei, que esteve em Israel há poucos dias e está nesta segunda-feira em Roma, agradeceu às forças de segurança israelenses na rede social X “por terem concluído com sucesso o resgate” de Marman e Har.

Sequestrados no kibutz Nir Yitzhak, os dois homens foram transferidos para o centro médico Sheba em Ramat Gan e “estão em condições estáveis”, disse Arnon Afek, diretor do estabelecimento, à imprensa.

As forças israelenses invadiram “com explosivos” o segundo andar de um prédio onde esses prisioneiros estavam mantidos, “abriram fogo contra alvos próximos e libertaram os reféns”, disseram o Exército e o Governo.

“O fogo irrompeu então deste edifício e dos edifícios vizinhos, seguido de longos combates, durante os quais dezenas de alvos do Hamas foram bombardeados para permitir a saída dos soldados”, disse o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

O Ministério da Saúde do território, governado pelo Hamas, relatou que a operação deixou “cerca de 100 mortos”, incluindo crianças.

– ‘Ponto de inflexão’ –

A operação é “uma das mais bem-sucedidas de toda a história” de Israel, comemorou Netanyahu.

Seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, enfatizou que a operação era “um ponto de inflexão” na campanha lançada contra o Hamas em 7 de outubro em represália ao ataque do movimento islamista contra o território israelense.

A operação “deu uma reviravolta na nossa maneira de pensar e na do Hamas”, porque, “de repente, o Hamas está vulnerável, podemos atingi-lo em qualquer lugar”, acrescentou. “Haverá outras operações”.

Cerca de 250 pessoas foram sequestradas em Israel no dia 7 de outubro e levadas para Gaza. Uma trégua de uma semana no final de novembro permitiu a libertação de uma centena delas em troca de cerca de 240 palestinos detidos em Israel.

Antes destas duas últimas libertações, as autoridades israelenses estimavam que 132 reféns ainda se encontravam em território palestino e que 29 deles tinham morrido.

“O tempo se esgota para os reféns. Suas vidas estão em perigo a cada momento que passa. O governo deve colocar todas as opções sobre a mesa para libertá-los”, afirmou o Fórum das Famílias de Reféns.

“Hoje estamos felizes, mas ainda não ganhamos. Este é apenas mais um passo para o retorno para casa” dos reféns ainda mantidos em cativeiro em Gaza, disse Idan Bejerano, genro de Louis Har, em frente ao hospital.

Netanyahu quer derrotar o Hamas no seu “último reduto”, em Rafah. “A vitória está ao nosso alcance”, disse à rede americana ABC, garantindo que Israel garantirá “uma passagem segura à população civil para que possa partir”, sem dizer onde poderá se refugiar.

“Somente a pressão militar contínua, até a vitória final, levará à libertação de todos os nossos reféns”, insistiu o premiê israelense nesta segunda-feira, dias após ordenar que o Exército preparasse uma ofensiva contra a cidade.

O Hamas alertou que tal ofensiva “minaria” qualquer acordo de libertação de reféns em seu poder em Gaza.

A guerra eclodiu em 7 de outubro com o ataque sem precedentes do grupo islamista ao território israelense, no qual morreram cerca de 1.160 pessoas, a maioria civis, segundo um relatório da AFP baseado em dados israelenses.

Em retaliação, Israel prometeu “aniquilar” o movimento islamista que governa Gaza, que considera uma organização terrorista. A ofensiva israelense deixou até agora mais de 28.300 mortos no enclave, especialmente mulheres e menores, segundo o Ministério da Saúde do território.

– ‘Evacuar para onde?’ –

Por sua vez, o procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, disse estar “profundamente preocupado com as informações sobre o bombardeio e uma potencial ofensiva terrestre das forças israelenses em Rafah”.

Ele não é o único a expressar preocupação com uma possível incursão na cidade, que se tornou o último refúgio para os palestinos fugindo dos combates.

“Para onde eles vão evacuar? Para a Lua?”, ironizou o alta representante da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, que pediu o fim do envio de armas para Israel.

“A possibilidade de uma verdadeira incursão militar em Rafah é assustadora”, apontou o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, que também alertou sobre o impacto que uma ofensiva teria na ajuda humanitária.

Rafah, o último centro urbano onde o Exército israelense não entrou, é o principal ponto de entrada de ajuda para o território palestno sitiado.

As negociações para alcançar um cessar-fogo ainda não deram resultados, mas uma fonte próxima às conversações disse à AFP que há planos para uma nova reunião no Cairo na terça-feira.

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