O Exército israelense intensificou nesta quinta-feira (8) os bombardeios contra a cidade de Rafah, refúgio de centenas de milhares de deslocados pela guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza, em meio a negociações para uma trégua.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ordenou na quarta-feira que as forças de segurança preparem uma operação nesta cidade do extremo sul do território palestino, na fronteira com o Egito.

O anúncio aconteceu depois que Netanyahu rejeitou a resposta do movimento islamista Hamas à proposta de cessar-fogo apresentada pelos mediadores do conflito.

Ao final de uma viagem diplomática pelo Oriente Médio, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, insistiu que ainda vê “margem para um acordo” e pediu que Israel deve “proteger” os civis.

Após a primeira fase da ofensiva concentrada no norte de Gaza, as tropas israelenses avançaram em direção ao centro e ao sul do território estreito, em particular na cidade de Khan Yunis, epicentro dos combates e dos bombardeios nas últimas semanas.

A atenção está voltada agora para Rafah, para onde seguiram 1,3 milhão de palestinos, a maioria deslocados pelos confrontos dos últimos quatro meses.

Testemunhas e fontes médicas relataram bombardeios fatais no sul de Gaza durante a noite. Um correspondente da AFP contou até sete bombardeios israelenses em Rafah.

“Os bombardeios são a prova de que Rafah não é um lugar seguro”, disse Umm Hassan, uma palestina de 48 anos que teve a casa atingida por um bombardeio.

“Nosso mundo foi reduzido a cinzas”, afirmou Abu Ayman, 46 anos, que mora na região.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, advertiu que uma ofensiva terrestre em Rafah “aumentaria exponencialmente o que já é um pesadelo humanitário”.

Netanyahu anunciou na quarta-feira, durante um discurso exibido na televisão, que ordenou aos militares que se preparem para operações na cidade e que a “vitória total” contra o Hamas é questão de meses.

“Ceder às exigências bizarras do Hamas que acabamos de ouvir… será apenas um convite para outro massacre”, disse.

– Mais discussões –

Uma nova rodada de negociações deve começar nesta quinta-feira no Cairo para tentar obter uma pausa no conflito em Gaza e uma troca de prisioneiros por reféns, informou uma fonte egípcia.

O governo do Egito pediu às partes que demonstrem a “flexibilidade necessária” para alcançar um acordo, acrescentou a fonte, que pediu anonimato.

O Hamas anunciou que uma delegação liderada por Khalil al Haya, comandante de seu gabinete político, deve viajar ao Cairo.

Uma fonte do movimento disse que o Hamas aceitou participar nas negociações visando um “cessar-fogo e o fim da guerra, assim como uma troca de prisioneiros”.

A guerra começou em 7 de outubro com o ataque do Hamas no sul de Israel que matou mais de 1.160 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado nos dados oficiais divulgados por Israel. Entre as vítimas estavam mais de 300 militares.

Os milicianos islamistas também sequestraram mais de 250 pessoas, incluindo militares, e 132 continuam em Gaza – as autoridades israelenses acreditam que 29 foram mortas.

Em resposta, Israel iniciou uma ofensiva militar que matou 27.840 pessoas na Faixa de Gaza, a maioria mulheres, crianças e adolescentes, segundo o Ministério da Saúde do Hamas, que governa o território e é classificado como grupo terrorista por União Europeia e Estados Unidos.

O Ministério afirmou que 130 pessoas morreram nas últimas 24 horas.

– Temor pelos reféns e por Rafah –

A sociedade israelense vive um cenário de tensão com a situação dos reféns. Netanyahu insiste que a ação militar é a única forma de resgatar os sequestrados, mas enfrenta uma pressão crescente para alcançar um acordo com o Hamas para obter a libertação do grupo.

“Tenho muito medo e estou muito preocupada que se você seguir nesta linha de destruir o Hamas, não restará nenhum refém para libertar”, disse Adina Moshe, uma refém libertada na trégua de novembro, a Netanyahu.

Ao mesmo tempo, aumenta o temor dos palestinos refugiados em Rafah diante dos preparativos israelenses para atacar a cidade.

Mais da metade dos 2,24 milhões de habitantes de Gaza buscaram refúgio nesta cidade.

“Suas condições de vida são terríveis, carecem das necessidades básicas para sobreviver, são assolados pela fome, doenças e morte”, afirmou Martin Griffiths, subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários

Sem pedir o fim do avanço de Israel sobre a cidade, Blinken insistiu que “qualquer operação militar realizada por Israel deve colocar os civis em primeiro lugar”.

“Os israelenses já foram desumanizados da forma mais horrível no dia 7 de outubro e os reféns têm sido desumanizados a cada dia desde então. Mas isto não pode servir de desculpa para desumanizar os outros”, afirmou.

burs-gl-smw/cwl/mas/zm/dbh/zm/fp/aa