Israel intensificou, nesta quinta-feira (8), os bombardeios contra a cidade de Rafah, aumentando a preocupação com o risco de um “desastre” humanitário nessa cidade do sul da Faixa de Gaza que serve de refúgio para milhares de palestinos deslocados pela guerra contra o movimento islamista Hamas.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ordenou na quarta-feira que as forças de segurança preparem uma operação nesta cidade do extremo sul do território palestino, na fronteira com o Egito.

O anúncio aconteceu depois que Netanyahu rejeitou as exigências do movimento islamista Hamas à proposta de cessar-fogo apresentada pelos mediadores do conflito.

Nesta quinta-feira, no entanto, os Estados Unidos, principais aliados de Israel, alertaram sobre os riscos dessa ofensiva, que Israel justifica por considerar Rafah um “dos últimos bastiões” do Hamas, após quatro meses de guerra.

“Ainda não vimos nenhuma prova de um planejamento sério para uma operação desse tipo, e realizar uma operação desse tipo agora sem planejamento e sem reflexão em uma região onde moram um milhão de pessoas seria um desastre”, declarou em Washington o porta-voz adjunto do Departamento de Estado, Vedant Patel.

Ao final de uma viagem diplomática pelo Oriente Médio, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, insistiu que ainda vê “margem para um acordo” e pediu que Israel “proteja” os civis.

As tropas israelenses, que iniciaram sua ofensiva no norte de Gaza, avançaram em direção ao centro e ao sul do território de 362km², em particular na cidade de Khan Yunis, epicentro dos combates e dos bombardeios nas últimas semanas.

Mas a atenção está voltada para Rafah, para onde fugiu 1,3 milhão dos 2,4 milhões de moradores da Faixa, a maioria deslocada pelos confrontos dos últimos quatro meses.

Um jornalista da AFP contou até sete bombardeios israelenses sobre Rafah à noite.

“Os bombardeios são a prova de que Rafah não é um lugar seguro”, disse Umm Hassan, uma palestina de 48 anos que teve a casa atingida por um bombardeio.

“Nosso mundo foi reduzido a cinzas”, afirmou Abu Ayman, um homem de 46 anos, que mora na região.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, advertiu que uma ofensiva terrestre em Rafah “aumentaria exponencialmente o que já é um pesadelo humanitário”.

– “Crime de guerra” –

Uma nova rodada de negociações começou nesta quinta-feira no Cairo para tentar obter uma pausa no conflito em Gaza e a troca de prisioneiros por reféns, informou uma autoridade egípcia de alto escalão.

O governo do Egito pediu “às partes que demonstrem a flexibilidade necessária” para alcançar um acordo, acrescentou.

O Hamas anunciou que uma delegação liderada por Khalil al Haya, comandante de seu gabinete político, deve viajar ao Cairo.

A guerra começou em 7 de outubro com o ataque do Hamas no sul de Israel que matou mais de 1.160 pessoas, a maioria civis, e sequestraram 250 em um ataque no sul de Israel, segundo um balanço da AFP baseado nos dados oficiais divulgados por Israel. Entre as vítimas estavam mais de 300 militares.

Uma trégua de uma semana no final de novembro permitiu a troca de cem reféns por presos palestinos detidos em Israel. Estima-se que cerca de 132 permanecem cativos em Gaza e 29 deles morreram.

Nos bombardeios e nas operações israelenses em represália, 27.840 pessoas morreram na Faixa de Gaza, a maioria mulheres, crianças e adolescentes, segundo o Ministério da Saúde do Hamas, que governa o território e é classificado como grupo terrorista por União Europeia e Estados Unidos.

O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, afirmou em um comunicado que há informações de que o Exército israelense quer destruir todos os edifícios em Gaza localizados a um quilômetro da área que faz fronteira com Israel.

O objetivo do Exército seria criar uma “zona de segurança”, mas tal ação constituiria “um crime de guerra”, alertou.

Há duas semanas, a Corte Internacional de Justiça (CIJ), a pedido da África do Sul, instou Israel a evitar atos genocidas em sua guerra contra o Hamas.

Nesta quinta-feira, a Nicarágua solicitou formalmente entrar como parte do processo sul-africano, alegando ter “interesses de ordem jurídica” nas audiências.

Por sua vez, o presidente ultraliberal argentino, Javier Milei, visitou o kibutz (fazenda coletiva) de Nir Oz, atacado pelo Hamas em 7 de outubro, onde declarou que Israel tem o direito a se defender diante do “nazismo do século XXI”.

– Temor pelos reféns e por Rafah –

A sociedade israelense vive um cenário de tensão com a situação dos reféns. Netanyahu insiste que a ação militar é a única forma de resgatar os sequestrados, mas enfrenta uma pressão crescente para alcançar um acordo com o Hamas para obter a libertação do grupo.

Israel também impôs a Gaza um restrito bloqueio que impede a entrada de alimentos, água, medicamentos e combustíveis.

A Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA) recordou que a última vez em que foi permitida a entrega de suprimentos no norte e no centro de Gaza foi em 23 de janeiro.

“A ONU identificou grandes focos de inanição e fome no norte de Gaza, onde se crê que a população esteja à beira de uma crise de fome”, escreveu o comissário-geral da UNRWA, Philippe Lazzarinim na rede social X.

“Pelo menos 300.000 pessoas que vivem na região dependem de nossa ajuda para sobreviver”, alertou.

A guerra em Gaza também exacerbou as tensões no Oriente Médio.

Nas últimas semanas, a violência recrudesceu no Líbano, Iraque, Síria e Iêmen, onde grupos apoiados pelo Irã lançaram ataques em apoio ao Hamas, gerando respostas de Israel, Estados Unidos e seus aliados.

Um alto funcionário militar do Hezbollah libanês ficou gravemente ferido nesta quinta-feira em um bombardeio israelense que atingiu seu veículo no sul do Líbano, indicou uma fonte de segurança deste país à AFP.

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