O Exército israelense intensificou nesta quinta-feira (8) os bombardeios contra a cidade de Rafah, refúgio de centenas de milhares de deslocados pela guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza, em meio a negociações para uma trégua.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ordenou na quarta-feira que as forças de segurança preparem uma operação nesta cidade do extremo sul do território palestino, na fronteira com o Egito.

O anúncio aconteceu depois que Netanyahu rejeitou as exigências do movimento islamista Hamas à proposta de cessar-fogo apresentada pelos mediadores do conflito.

Ao final de uma viagem diplomática pelo Oriente Médio, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, insistiu que ainda vê “margem para um acordo” e pediu que Israel “proteja” os civis.

Após a primeira fase da ofensiva concentrada no norte de Gaza, as tropas israelenses avançaram em direção ao centro e ao sul do território estreito, em particular na cidade de Khan Yunis, epicentro dos combates e dos bombardeios nas últimas semanas.

O Exército indicou nesta quinta-feira que suas operações aconteceram no norte e no sul da Faixa, e que prendeu dois “terroristas” que participaram do ataque de 7 de outubro.

Mas a atenção está voltada para Rafah, para onde seguiram 1,3 milhão de palestinos, a maioria deles deslocada pelos confrontos dos últimos quatro meses.

Um jornalista da AFP contou até sete bombardeios israelenses sobre Rafah à noite.

“Os bombardeios são a prova de que Rafah não é um lugar seguro”, disse Umm Hassan, uma palestina de 48 anos que teve a casa atingida por um bombardeio.

“Nosso mundo foi reduzido a cinzas”, afirmou Abu Ayman, um homem de 46 anos, que mora na região.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, advertiu que uma ofensiva terrestre em Rafah “aumentaria exponencialmente o que já é um pesadelo humanitário”.

Netanyahu anunciou na quarta-feira, durante um discurso exibido na televisão, que ordenou aos militares que se preparem para operações na cidade e que a “vitória total” contra o Hamas é questão de meses.

– “Crime de guerra” –

Uma nova rodada de negociações deve começar nesta quinta-feira no Cairo para tentar obter uma pausa no conflito em Gaza e uma troca de prisioneiros por reféns, informou uma autoridade egípcia.

O governo do Egito pediu “às partes que demonstrem a flexibilidade necessária” para alcançar um acordo, acrescentou a autoridade, que pediu anonimato.

O Hamas anunciou que uma delegação liderada por Khalil al Haya, comandante de seu gabinete político, deve viajar ao Cairo.

A guerra começou em 7 de outubro com o ataque do Hamas no sul de Israel que matou mais de 1.160 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado nos dados oficiais divulgados por Israel. Entre as vítimas estavam mais de 300 militares.

Os milicianos islamistas também sequestraram mais de 250 pessoas, incluindo militares, e 132 continuam em Gaza – as autoridades israelenses acreditam que 29 foram mortas.

Em resposta, Israel iniciou uma ofensiva militar que matou 27.840 pessoas na Faixa de Gaza, a maioria mulheres, crianças e adolescentes, segundo o Ministério da Saúde do Hamas, que governa o território e é classificado como grupo terrorista por União Europeia e Estados Unidos.

O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, afirmou em um comunicado que há informações de que o Exército israelense quer destruir todos os edifícios em Gaza localizados a um quilômetro da área que faz fronteira com Israel.

O objetivo do Exército seria criar uma “zona de segurança”.

– Temor pelos reféns e por Rafah –

A sociedade israelense vive um cenário de tensão com a situação dos reféns. Netanyahu insiste que a ação militar é a única forma de resgatar os sequestrados, mas enfrenta uma pressão crescente para alcançar um acordo com o Hamas para obter a libertação do grupo.

Ao mesmo tempo, aumenta o temor pelas condições humanitárias da população de Gaza e dos palestinos refugiados em Rafah diante dos preparativos israelenses para atacar a cidade.

A Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA) recordou que a última vez em que foi permitida a entrega de suprimentos no norte e no centro de Gaza foi em 23 de janeiro.

“A ONU identificou grandes focos de inanição e fome no norte de Gaza, onde se crê que a população esteja à beira de uma crise de fome”, escreveu o comissário-geral da UNRWA, Philippe Lazzarinim na rede social X.

“Pelo menos 300.000 pessoas que vivem na região dependem de nossa ajuda para sobreviver”, alertou.

A guerra em Gaza também exacerbou as tensões no Oriente Médio.

Nas últimas semanas, a violência recrudesceu no Líbano, Iraque, Síria e Iêmen, onde grupos apoiados pelo Irã lançaram ataques em apoio ao Hamas, gerando respostas de Israel, Estados Unidos e seus aliados.

Um alto funcionário militar do Hezbollah libanês ficou gravemente ferido nesta quinta-feira em um bombardeio israelense que atingiu seu veículo no sul do Líbano, indicou uma fonte de segurança deste país à AFP.

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