O acordo para libertar os reféns sequestrados pelo Hamas em troca de uma trégua na Faixa de Gaza, onde Israel trava uma guerra com o movimento islamista, parece estar muito “perto”, informaram, nesta terça-feira (21), as partes em conflito, o Catar e os Estados Unidos, mediadores-chave juntamente com o Egito.

“Agora estamos muito, muito perto”, disse o presidente americano, Joe Biden. “Muito em breve poderemos estar devolvendo alguns reféns a suas casas. Mas não quero entrar em detalhes porque nada está feito até que esteja feito”, acrescentou.

Tanto o Hamas quanto Israel informaram sobre este avanço no acordo para libertar os reféns sequestrados pelo grupo islamista em seu ataque mortal de 7 de outubro em território israelense.

“Estamos avançando (…) Espero que tenhamos boas notícias em breve”, disse o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que condicionou qualquer cessar-fogo à libertação dos reféns.

Os negociadores “nunca estiveram tão perto de um acordo”, anunciou, por sua vez, o ministério das Relações Exteriores do Catar. As negociações chegaram à sua “fase final”, afirmou o porta-voz da pasta, Majed Al Ansari.

“Estamos perto de alcançar um acordo sobre uma trégua”, disse o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em mensagem publicada no Telegram.

Segundo fontes do Hamas e da Jihad Islâmica, outro grupo armado palestino, os dois movimentos aceitaram um acordo cujos detalhes devem ser anunciados pelo Catar e outros mediadores.

Em seu ataque de 7 de outubro contra o sul de Israel, os milicianos do Hamas mataram 1.200 pessoas, a maioria civis, e sequestraram cerca de 240 reféns, que foram levados para Gaza.

Israel, que prometeu “aniquilar” o Hamas, respondeu com bombardeios incessantes e operações terrestres na Faixa de Gaza que, segundo o Ministério da Saúde deste território controlado pelo movimento islamista, mataram mais de 14.000 pessoas, entre elas milhares de menores.

– “Trégua humanitária de cinco dias” –

Duas fontes próximas destas negociações explicaram à AFP que o projeto de acordo se baseia na libertação de “50 a 100” reféns em troca da soltura de 300 presos palestinos em Israel, entre eles mulheres e crianças.

A troca seria realizada no ritmo de “10” reféns israelenses diários para “30” prisioneiros palestinos e também incluiria a entrada de comida, assistência médica e combustível em Gaza, bem como uma “trégua humanitária de cinco dias”.

A ONU, que há semanas pede um cessar-fogo com motivos humanitários em Gaza, estima que a guerra tenha forçado o deslocamento de quase 1,7 milhão dos 2,4 milhões de habitantes do território, também submetido desde 9 de outubro a um “assédio total” por parte de Israel, que bloqueia o fornecimento de comida, água, eletricidade e medicamentos.

Uma verdadeira “tragédia” sanitária se avizinha no enclave, advertiu o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). “Temos uma grave escassez de água. As fezes cobrem áreas densamente povoadas. Há uma escassez inaceitável de latrinas”, denunciou a instituição.

O Brics, bloco de economias emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, pediu, nesta terça-feira, durante uma cúpula extraordinária on-line, “uma trégua humanitária imediata e duradoura” em Gaza.

“Se alcançarem uma trégua de cinco dias, acho que isto abrirá o caminho para tréguas mais longas ou, inclusive, a um cessar-fogo total”, disse, esperançoso, Hamza Abdel Razeq, morador de Rafah.

“O povo realmente está sofrendo”, explicou à AFP.

Segundo as duas fontes próximas da negociação, um dos pontos de discórdia é a libertação de reféns militares.

O Hamas se opõe a ela, mas Israel defende o conceito de “reagrupamento familiar”, ou seja: se um civil é libertado, os membros de sua família também devem ser, ainda que sejam militares.

– Hospital atacado –

Na madrugada de terça-feira, as tropas israelenses “continuavam combatendo” no norte da Faixa de Gaza, região mais castigada pela guerra, onde quarteirões inteiros foram reduzidos a cinzas.

O exército assegurou que seus bombardeios atingiram “cerca de 250” alvos do Hamas no último dia, e acrescentou que dois soldados morreram no norte do território palestino.

Fontes palestinas mencionavam tensões ao redor do Hospital Indonésio, alvo na véspera de um ataque israelense que, segundo o Hamas, matou 12 pessoas.

O movimento islamista acusa Israel de lançar “uma guerra contra os hospitais” em Gaza, cuja região norte mal dispõe de centros médicos operacionais.

As autoridades israelenses argumentam que o Hamas usam estes hospitais com fins militares e usa os civis como “escudos humanos”, o que o movimento palestino desmente.

Segundo fontes hospitalares locais, mais de uma centena de feridos foram trasladados do Hospital Indonésio para o complexo Nasser, em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza.

Na segunda-feira, 28 bebês prematuros foram retirados ao longo do fim de semana do hospital Al Shifa, atacado em 15 de novembro pelo exército israelense, e levados também para o Egito, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Outros dois, que precisavam ser retirados do hospital, morreram pouco antes da evacuação.

Em outra frente, quatro civis, dois deles jornalistas, morreram em bombardeios israelenses, nesta terça, no sul do Líbano, segundo a imprensa libanesa.

Desde o início da guerra em Gaza, há trocas de tiros na fronteira entre o exército israelense e o Hezbollah, aliado do Hamas e apoiado pelo Irã.

O ministério da Saúde da Autoridade Palestina, na Cisjordânia, afirmou que o exército israelense matou um palestino em Nablus.

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