Israel está em dúvida entre implementar imediatamente o plano dos Estados Unidos para acabar com o conflito com os palestinos, que prevê a anexação pelo Estado hebreu de partes da Cisjordânia, ou esperar as eleições legislativas de março para implementá-lo.
Este plano, apresentado na terça-feira em Washington pelo presidente Donald Trump junto com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu – que está em campanha eleitoral – teve uma recepção muito favorável entre os israelenses, mas hostil entre os palestinos.
Prevê, entre outros aspectos controversos, a anexação por Israel das colônias judaicas da Cisjordânia ocupada, em particular o Vale do Jordão, que se tornaria a fronteira oriental de Israel.
Consideradas “vitais” por Netanyahu, essas áreas podem ser anexadas “sem demora”, disse o embaixador dos Estados Unidos, David Friedman.
Mas o arquiteto americano do projeto, Jared Kushner, genro e consultor de Trump, expressou o “desejo de que (o governo israelense) espere até depois das eleições” para anexar os setores estabelecidos no plano.
Depois de elogiar o projeto, o governo israelense agora parece esperar. Ele se reúne no domingo e o gabinete do primeiro-ministro não confirmou se as anexações estavam na ordem do dia.
As eleições legislativas estão agendadas para 2 de março. Nelas, Netanyahu enfrenta pela terceira vez consecutiva a lista de seu principal rival, Benny Gantz, para tentar permanecer no poder.
– “Oportunidade única” –
“Vamos começar a trabalhar na parte técnica a partir de agora, mas acho que precisamos de um governo israelense estabelecido para seguir em frente”, disse Jared Kushner, em entrevista ao veículo Gzero.
O Likud, partido de Netanyahu – acusado de corrupção – não foi capaz de formar uma coalizão após as duas últimas eleições e nada indica que terá os votos suficientes para fazê-lo após as eleições de 2 de março.
Desde terça-feira, a direita israelense pede ao primeiro-ministro que implemente o plano americano o mais rápido possível.
“Tudo o que for adiado para depois das eleições nunca ocorrerá. Todo mundo sabe. Toda colônia, todo pedaço de terra (cuja anexação) for adiada após a eleição será deixada de fora (de Israel) por mais 50 anos”, disse na quarta-feira o ministro da Defesa, Naftali Bennet.
“Se adiarmos ou mitigarmos a implementação de nossa soberania, a oportunidade do século se tornará o fiasco do século”, ressaltou.
O ministro do Turismo, Yariv Levin, em visita a Moscou com Netanyahu, disse que o governo deseja tomar uma decisão sobre a anexação “o mais rápido possível”.
Durante sua reunião com o presidente russo Vladimir Putin, o primeiro-ministro de Israel não se referiu às anexações, embora tenha dito que o plano dos EUA é uma “oportunidade única” para resolver o conflito com os palestinos.
A comunidade internacional considera que as colônias judaicas da Cisjordânia são ilegais sob o direito internacional, e qualquer tentativa de anexar territórios palestinos pode gerar controvérsia diplomática.
O plano foi rejeitado pelo movimento islâmico do Hamas, que controla a Faixa de Gaza, e pelo presidente palestino Mahmoud Abbas, mas só gerou algumas manifestações populares, com pouca violência.
Um tiro de foguete foi registrado de Gaza contra Israel na quarta-feira à noite. Em resposta, o Exército israelense anunciou que havia bombardeado uma série de “alvos do Hamas” no sul do enclave palestino.
O Exército também enviou tropas adicionais na quarta-feira para a Cisjordânia e perto da fronteira com Gaza, para “minimizar os riscos” de distúrbios, segundo um oficial militar israelense.
E a polícia israelense reforçou suas tropas em Jerusalém e arredores, antecipando a oração semanal muçulmana de sexta-feira na Esplanada das Mesquitas, o terceiro local sagrado do Islã.