“O que devemos dizer” à população de Gaza que “morre” de fome?, perguntou nesta quarta-feira (23) o embaixador palestino no Conselho de Segurança da ONU, em meio a intensos confrontos verbais com Israel sobre a situação humanitária nesse território devastado pela guerra.
Diante de Riyad Mansour, seu contraparte palestino, o embaixador israelense, Danny Danon, acusou o movimento islamista palestino Hamas de usar o “sofrimento” dos palestinos para “alimentar sua propaganda”, e detalhou as medidas contra funcionários do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha), aos quais acusa de “parcialidade” contra Israel.
Mais de uma centena de organizações humanitárias alertaram nesta quarta-feira sobre a propagação da “morte de fome em massa” na Faixa de Gaza devastada pela guerra, enquanto os Estados Unidos anunciaram que o enviado Steve Witkoff viajará esta semana à Europa para finalizar o estabelecimento de um “corredor” para a ajuda humanitária.
Israel enfrenta crescente pressão internacional devido à dramática situação humanitária em Gaza.
No final de maio, aliviou muito parcialmente o bloqueio total imposto no início de março ao território palestino, o que provocou uma grave escassez de alimentos, medicamentos e outros produtos de primeira necessidade.
Jornalistas da AFP em Gaza relataram a dificuldade de encontrar comida e, portanto, de exercer sua profissão nesse estado de debilidade.
O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), com sede em Nova York, acusou nesta quarta-feira Israel de “matar de fome a imprensa para silenciar a verdade”.
“Em Gaza, jornalistas que morrem de fome cobrem a realidade de profissionais de saúde e trabalhadores humanitários que tentam salvar a vida de bebês, crianças e suas famílias, que também morrem de fome”, declarou Mansour diante do Conselho de Segurança.
“Nossos filhos e os habitantes de Gaza nos dizem: ‘Estou com fome. Não há comida para minha família. Estamos morrendo. Ajudem-nos’.”
“O que devemos dizer a eles? O que o Conselho de Segurança deve lhes dizer?”, disparou.
“Estamos fazendo o necessário para salvar milhões de vidas em perigo? Estamos cumprindo com nossas obrigações jurídicas, políticas, humanitárias e morais? A resposta é clara: não estamos fazendo”, respondeu Mansour.
Israel “está fazendo o trabalho da ONU” na Faixa de Gaza, retrucou o embaixador israelense, acusando a Ocha, por exemplo, de “subestimar” o número de caminhões de ajuda humanitária que entram na Faixa de Gaza e de “parcialidade” contra o governo israelense.
O chefe da diplomacia israelense, Gideon Saar, anunciou no domingo que havia ordenado a não renovação do visto do diretor da Ocha nos Territórios Palestinos, Jonathan Whittall, que denunciou em várias ocasiões as condições em Gaza.
Whittall, que reside em Jerusalém, “deixará o país antes de 29 de julho”, precisou Danon.
“Israel não concederá mais vistos automáticos ao pessoal internacional da Ocha. A partir de agora, os vistos terão validade limitada a um mês. O que acontecia antes não voltará a acontecer”, acrescentou.
“Chega. Chega de hipocrisia, chega de parcialidade (…) Israel está fazendo o trabalho para o qual a ONU foi criada: desmantelamos redes terroristas, protegemos civis, defendemos minorias ameaçadas”, disse ele, referindo-se neste último caso aos drusos na Síria.
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