Israel e Hamas se acusam mutuamente de sabotar negociações para trégua em Gaza

Um homem deitado sobre objetos recuperados observa palestinos inspecionarem barracas de um campo de deslocados que foram destruídas por bombardeios israelenses, perto de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, em 11 de julho de 2025 - AFP

Israel e o Hamas trocaram acusações, neste sábado (12), de obstruir as negociações indiretas para alcançar um cessar-fogo na Faixa de Gaza, onde mais de 20 palestinos morreram em ataques israelenses, segundo a Defesa Civil do território.

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Delegações de ambos os lados iniciaram negociações na capital do Catar, Doha, no domingo passado para tentar chegar a uma trégua para o conflito desencadeado pelo ataque do movimento islamista palestino Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023.

Tanto o Hamas quanto Israel indicaram que dez pessoas sequestradas pelos islamistas naquele dia e que permanecem reféns em Gaza seriam libertadas se um acordo de cessar-fogo de 60 dias fosse alcançado.

No entanto, uma fonte palestina afirmou à AFP que as negociações, nas quais Estados Unidos, Egito e Catar são mediadores, enfrentam “obstáculos e dificuldades complexas”, devido à recusa de Israel de se retirar do território.

Esta fonte destacou a “insistência” de Israel em se ater a um mapa que prevê “a manutenção de [suas] forças em mais de 40% da Faixa de Gaza”, um território de mais de dois milhões de habitantes devastado por mais de 21 meses de guerra.

Um dirigente político israelense respondeu à tarde, acusando o movimento islamista palestino de se negar “a fazer concessões” e de realizar “uma guerra psicológica destinada a sabotar as negociações”.

Enquanto isso, a situação humanitária no território palestino ameaça se degradar.

Sete agências da ONU alertaram, neste sábado, em uma declaração conjunta, que a escassez de combustível em Gaza atingiu “níveis críticos” e poderia constituir “uma nova carga insuportável para uma população à beira da inanição”.

‘Avanços’

Nos últimos dias, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reafirmou que, com esta guerra, seu país busca libertar os reféns cativos em Gaza, destruir as capacidades militares e governamentais do Hamas e expulsar o movimento islamista palestino de Gaza.

Semanas atrás, o premiê afirmou que queria assumir o controle do território palestino.

“O Hamas exige a retirada completa das forças israelenses de todas as áreas ocupadas por Israel após 2 de março de 2025” na Faixa de Gaza, disse à AFP outra fonte palestina, acusando Israel de “atrasar e obstruir o acordo, a fim de continuar com sua política de guerra de extermínio”.

No entanto, ele relatou “avanços” em questões como a ajuda humanitária e a troca de reféns por prisioneiros palestinos em Israel.

Das 251 pessoas sequestradas durante o ataque de 7 de outubro de 2023, 49 permanecem em Gaza, 27 das quais foram declaradas mortas pelo Exército israelense.

“Israel tem demonstrado sua vontade de se mostrar flexível nas negociações, enquanto o Hamas segue intransigente e se aferra a suas posições”, denunciou o dirigente israelense.

Na sexta-feira, antes de retornar de uma visita aos Estados Unidos, onde se reuniu com o presidente americano, Donald Trump, Netanyahu declarou estar disposto a negociar um cessar-fogo permanente em Gaza após uma possível trégua de 60 dias.

No entanto, condicionou isso ao desarmamento do Hamas e ao abandono do governo de Gaza, território que o grupo islamista controla desde 2007.

“250 alvos terroristas”

Enquanto isso, na Faixa de Gaza, o Exército de Israel continuou a ofensiva lançada em resposta ao ataque do Hamas contra seu território em 2023. Segundo a Defesa Civil de Gaza, mais de 20 pessoas morreram neste sábado em ataques israelenses.

Entre os falecidos estavam um homem, sua esposa e seu filho, que morreram quando sua barraca foi atingida por um bombardeio noturno no campo de deslocados de Deir al-Balah, no centro do território, disse Mahmoud Basal, porta-voz do corpo de socorristas.

O Exército israelense, por sua vez, informou ter “bombardeado cerca de 250 alvos terroristas” nas últimas 48 horas em todo o território palestino.

Dadas as restrições impostas à imprensa em Gaza e as dificuldades de acesso ao local, a AFP não está em condições de verificar de forma independente as alegações feitas pelas diversas partes.

O ataque de 7 de outubro de 2023 deixou 1.219 israelenses mortos, a maioria civis, de acordo com uma contagem da AFP baseada em dados oficiais.

Pelo menos 57.882 palestinos, a maioria civis, morreram nas operações de retaliação do Exército israelense em Gaza, segundo dados do Ministério da Saúde do governo do Hamas, considerados confiáveis pela ONU.