Israel e Hamas negociam detalhes finais para troca de reféns

Governo israelense aguarda entrega de 20 sequestrados vivos, enquanto grupo palestino exige inclusão de novas lideranças na lista de presos libertos. Trump prepara "cúpula de paz" e Netanyahu diz que luta "não acabou"

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Diferente de trocas anteriores, negociadores sugerem que a entrega dos reféns ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha ocorra sem qualquer cerimônia, sem a presença do público Foto: AFP

O grupo radical palestino Hamas afirmou neste domingo (12) que concluiu os preparativos para libertar os reféns vivos cativos em Gaza, cuja transferência a Israel deve ocorrer na manhã de segunda-feira, 13.

+ Trump e líder do Egito vão presidir cúpula pela paz em Gaza na segunda-feira

Segundo o acordo de cessar-fogo firmado entre Hamas e Israel, uma vez que os reféns estiverem em território israelense, o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu começará a libertar quase 2 mil palestinos detidos em troca. Eles incluem 250 pessoas que cumprem penas de prisão perpétua, além de 1,7 mil capturados em Gaza.

No entanto, os negociadores ainda discutem arranjos finais. O Hamas, por exemplo, passou a exigir que Israel inclua sete líderes palestinos na lista dos presos que serão soltos. As tratativas anteriores indicavam que nomes de alto escalão do grupo não seriam considerados no acordo.

Apesar do impasse, Shosh Bedrosian, porta-voz de Netanyahu, disse que a libertação dos reféns “começará na manhã de segunda-feira”, conforme previsto.

“Estamos esperando que todos os 20 de nossos reféns vivos sejam libertados juntos de uma só vez para a Cruz Vermelha e transportados entre seis a oito veículos”, disse a porta-voz do governo.

No entanto, à emissora Al Jazeera, o Hamas relatou que os cativos serão soltos em três locais diferentes de Gaza, o que deve exigir uma logística mais complexa.

Diferente de trocas anteriores, negociadores sugerem que a entrega dos reféns ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha ocorra sem qualquer cerimônia, sem a presença do público.

Ao chegar em Israel, os reféns serão levados a uma base militar para se reunirem com suas famílias ou, se necessário, serão transferidos a um hospital em Tel Aviv, que já fez preparativos para recebê-los.

Força-tarefa para encontrar e identificar mortos

Na etapa seguinte do acordo, o Hamas deverá entregar à organização humanitária os 28 corpos de sequestrados mantidos no território.

Alguns já serão transferidos na segunda-feira, mas o processo deve levar mais tempo, já que muitos restos mortais estão enterrados sob escombros e há dificuldade de localizá-los.

Uma força-tarefa internacional começará a trabalhar para encontrar os corpos que não forem devolvidos, disse Gal Hirsch, coordenador de Israel para Reféns e Desaparecidos.

Espera-se que os restos mortais de um soldado isralense morto em 2014 também seja entregue.

Os corpos serão transferidos para o Instituto de Medicina Forense Abu Kabir. No último acordo de cessar-fogo, quebrado em 18 de março, a entrega de um corpo que não correspondia ao da refém Shiri Bibas marcou uma pausa nas trocas de reféns por prisioneiros palestinos.

Netanyahu diz que luta “não acabou”

Em um pronunciamento neste domingo, Benjamin Netanyahu afirmou que o país obteve “grandes vitórias” em dois anos de guerra, mas defendeu que o conflito ainda não acabou.

“Juntos, alcançamos grandes vitórias, que surpreenderam o mundo inteiro. Mas, ao mesmo tempo, devo dizer a vocês que a luta ainda não acabou”, afirmou em um discurso televisionado.

“Ainda temos grandes desafios de segurança pela frente. Alguns de nossos inimigos estão tentando recuperar suas forças para nos atacar novamente”, acrescentou.

Ajuda chega a Gaza após garantia de liberação de reféns

Enquanto isso, grupos de ajuda humanitária começaram neste domingo a intensificar os esforços de socorro a Gaza, devastada por dois anos de guerra. Os envios foram autorizados após o Hamas confirmar que seguirá o cronograma de libertação de reféns.

Ao mesmo tempo, palestinos continuam a retornar às áreas evacuadas pelas forças israelenses em busca de suas casas, a maioria delas reduzidas a escombros. Dos cerca de 2 milhões de palestinos, 90% tiveram que se deslocar durante a guerra.

Segundo os termos da primeira fase do acordo, a ajuda deve chegar em grande quantidade, diante do quadro de fome generalizada causado pelo bloqueio imposto por Israel. Entidades se preparam para enviar cerca de 600 caminhões com alimentos e suprimentos médicos por dia. Os caminhões terão que ser inspecionados pelas forças israelenses antes de serem autorizados a entrar.

Neste momento, há dezenas de caminhões cruzando o lado egípcio da passagem de Rafah, mais ao sul de Gaza. O Crescente Vermelho egípcio disse que os caminhões levam suprimentos médicos, tendas, cobertores, alimentos e combustível.

Nos últimos meses, a ONU e seus parceiros conseguiram entregar apenas 20% da ajuda necessária em Gaza devido aos combates, ao fechamento das fronteiras e às restrições israelenses sobre o que pode entrar.

Entre os obstáculos logísticos para o fornecimento de ajuda aos palestinos, as organizações enfrentaram saques, bombardeios, restrições de Israel e infraestruturas danificada pelos ataques israelenses em Gaza.

Futuro do Fundo Humanitário de Gaza em questão

O destino da Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês), uma organização apoiada por Israel e os EUA que substituiu a operação de ajuda da ONU em Gaza em maio como principal fornecedora de alimentos em Gaza, permanece incerto.

Os locais de distribuição de alimentos operados pelo grupo na cidade de Rafah e no centro de Gaza foram desmontados após o acordo de cessar-fogo, segundo relatos de palestinos.

A GHF havia sido promovida por Israel e pelos Estados Unidos como um sistema alternativo para impedir que o Hamas assumisse o controle da ajuda humanitária. No entanto, suas operações foram inconsistentes, e centenas de palestinos foram mortos por tiros israelenses enquanto se dirigiam aos quatro postos da organização.

As forças armadas israelenses afirmaram que suas tropas dispararam tiros de advertência para controlar as multidões.

Cúpula com Trump

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que ajudou a costurar o acordo de cessar-fogo, deve chegar a Israel na manhã de segunda-feira. Ele se reunirá com as famílias dos reféns e falará no Knesset, o parlamento de Israel, de acordo com a agenda divulgada pela Casa Branca.

Trump seguirá então para o Egito, onde copresidirá uma “cúpula de paz”, conforme informou o gabinete do presidente egípcio, Abdel-Fattah el-Sissi. Líderes de mais de 20 países se encontrarão na cidade egípcia de Sharm el-Sheikh.

Está previsa a presença de António Guterres, secretário-geral da ONU, Keir Starmer, primeiro-ministro do Reino Unido, Giorgia Meloni, primeira-ministra da Itália, Pedro Sánchez, primeiro-ministro da Espanha e Emmanuel Macron, presidente da França, entre outras autoridades.

Nenhum funcionário israelense nem do Hamas estará presente, confirmaram autoridades de ambos os lados.

Questões permanecem em aberto

Embora tanto os israelenses quanto os palestinos em Gaza tenham reagido com satisfação à suspensão inicial dos combates e os planos para libertar os reféns e prisioneiros, o destino a longo prazo do cessar-fogo permanece incerto.

Apesar do aparente avanço nas negociações, os mediadores ainda têm a difícil tarefa de garantir uma solução política de longo prazo que leve o Hamas a entregar suas armas. Questões sobre a governança de Gaza pós-guerra também ainda precisam ser resolvidas.

A guerra começou quando militantes liderados pelo Hamas lançaram um ataque surpresa ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023, no qual cerca de 1.200 pessoas foram mortas e 250 feitas reféns.

Na ofensiva israelense que se seguiu, mais de 67.000 palestinos foram mortos em Gaza, de acordo com o Ministério da Saúde do enclave, entre civis e combatentes.

sf/gq (AP, AFP, EFE, DPA, Reuters, ots)