A guerra entre Israel e o Hamas em Gaza completou 200 dias nesta terça-feira (23) sem sinais de desaceleração ou de que o movimento islamista se prepara para libertar os seus reféns ou de que Israel desistirá de invadir Rafah, no sul do território palestino.

“Depois de 200 dias, o inimigo ainda está preso nas areias de Gaza. Sem objetivo, sem horizonte, sem ilusão de vitória ou libertação de prisioneiros”, disse o porta-voz do braço armado do Hamas, Abu Obeida, em referência aos reféns feitos em Israel por comandos islamistas em 7 de outubro.

“Enquanto um único centímetro das nossas terras permanecer [sujeito] à agressão da ocupação, continuaremos a atacar e a resistir”, acrescentou em uma declaração transmitida pela televisão.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reafirmou na segunda-feira a sua “determinação inabalável” em garantir a libertação de quase 100 reféns (de acordo com estimativas israelenses) ainda detidos em Gaza.

Nas últimas 24 horas, os bombardeios israelenses mataram 32 palestinos, segundo o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, governada pelo Hamas, elevando o número total desde o início do conflito para 34.183 mortes, na sua grande maioria civis.

O Exército israelense bombardeou o centro da Faixa na manhã desta terça-feira, atingindo as proximidades do campo de refugiados de Bureij e do campo de Nuseirat, segundo um correspondente da AFP.

As câmeras da AFP também captaram bombardeios em Jabalia, no norte da Faixa, e o Exército afirmou ter atacado várias posições do Hamas no sul do território palestino.

O conflito começou em 7 de outubro com uma incursão de combatentes islamistas que mataram cerca de 1.170 pessoas no sul de Israel e sequestraram cerca de 250, segundo uma contagem baseada em dados oficiais israelenses.

O Catar, que juntamente com o Egito e os Estados Unidos atua como mediador para conseguir uma trégua e a libertação dos reféns, afirmou que os representantes do Hamas permanecerão em Doha enquanto a sua presença for “útil e positiva” para o avanço das negociações.

Essas conversas estão paralisadas e ambos os lados acusam-se mutuamente de bloqueá-las.

Netanyahu enfrenta uma crescente pressão interna para libertar os reféns. Na noite de segunda-feira, coincidindo com o início da Páscoa judaica, centenas de manifestantes protestaram em frente à sua casa, no norte de Tel Aviv.

– Ofensiva em Rafah? –

Para derrotar o Hamas, Netanyahu prometeu continuar a sua ofensiva contra Rafah, uma cidade na fronteira com o Egito que as autoridades israelenses dizem ser o último grande reduto do movimento islamista.

A comunidade internacional pede que se abstenha desta operação, temendo uma catástrofe humanitária em uma cidade de 1,5 milhão de pessoas, a grande maioria deslocada de outras áreas de Gaza pela guerra.

Segundo responsáveis egípcios citados pelo jornal americano Wall Street Journal, Israel planeja transferir civis de Rafah para Khan Yunis, onde pretende montar tendas e centros de distribuição de alimentos.

A retirada de civis duraria duas a três semanas e seria realizada em coordenação com os Estados Unidos, o Egito e outros países árabes, como os Emirados Árabes Unidos, segundo autoridades egípcias.

No entanto, o diretor regional do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) para o Oriente Médio, Fabrizio Carboni, destacou que tal evacuação seria impossível nas condições atuais.

“Quando vemos o nível de destruição no centro e no norte, não está claro para nós para onde poderiam deslocar as pessoas […] para que tenham abrigos decentes e serviços essenciais”, disse Carboni. “Portanto, hoje, com as informações que temos e do jeito que estamos, não vemos isso sendo possível.”

– Clima de impunidade –

Depois de mais de seis meses de guerra, os quase 2,4 milhões de habitantes de Gaza, sitiados pelas forças israelenses, correm o risco de passar fome, segundo a ONU, que exige a chegada de mais ajuda humanitária.

A ONU apelou nesta terça-feira a uma investigação internacional independente sobre as valas comuns encontradas nos dois principais hospitais da Faixa, Al Shifa e Nasser, denunciando o “clima de impunidade reinante”.

A Proteção Civil de Gaza afirma que nos últimos dias exumou 340 corpos que haviam sido enterrados pelas forças israelenses em valas comuns escavadas nos terrenos do hospital Nasser, em Khan Yunis.

Israel chamou essas acusações de “infundadas”.

Segundo o Exército israelense, durante a sua intervenção no hospital Nasser, “os corpos enterrados pelos palestinos foram cuidadosamente examinados” para descobrir se havia reféns entre eles.

A violência também aumentou na fronteira de Israel com o Líbano, entre o Exército e o movimento xiita libanês Hezbollah, um aliado do Hamas.

O Hezbollah afirmou que lançou “dezenas” de foguetes contra Israel, enquanto o movimento libanês também atacou duas posições militares no norte de Israel com drones.

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