Israel diz que abrirá corredor humanitário para ONU em Gaza

Israel diz que abrirá corredor humanitário para ONU em Gaza

"AgênciasGoverno israelense também inicia lançamento de suprimentos por via aérea e promete suspender combates em áreas povoadas. Reino Unido propõe plano para evacuar crianças doentes e feridas.Israel afirmou neste sábado (26/07) que vai estabelecer corredores humanitários em Gaza para permitir o trânsito seguro de comboios das Nações Unidas para distribuição de suprimentos à população palestina, que sofre com uma escalada generalizada de fome no território.

O Exército israelense também informou, em comunicado separado, que retomou o lançamento de ajuda humanitária por via aérea – estratégia criticada por agências humanitárias por oferecer quantidade insuficiente de suprimentos e envolver riscos significativos.

"Os lançamentos incluirão sete paletes de ajuda contendo farinha, açúcar e alimentos enlatados, fornecidos por organizações internacionais", afirmaram as Forças de Defesa de Israel. Fontes palestinas confirmaram à agência de notícias Reuters que os materiais já começaram a ser lançados no norte de Gaza.

Segundo o anúncio, as medidas devem melhorar e situação humanitária no local e refutarão "a falsa alegação de fome deliberada na Faixa de Gaza".

O anúncio ocorre poucos dias após uma centena de organizações alertarem para a fome em massa que se espalha no território palestino e atinge principalmente crianças. Segundo o governo israelense, as Forças Armadas farão pausas nos combates em áreas povoadas para permitir a entrada de ajuda humanitária.

Reino Unido propõe retirada de crianças feridas e doentes

Mais cedo, o Reino Unido havia afirmado que trabalha com a Jordânia para também lançar ajuda humanitária por via aérea. O governo britânico ainda sugere liderar um plano para evacuar crianças que necessitam assistência médica.

A informação foi confirmada pelo primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, em conversa com os líderes da França e da Alemanha.

"O primeiro-ministro explicou como o Reino Unido também vai avançar com planos para trabalhar com parceiros como a Jordânia para lançar ajuda aérea e evacuar crianças que precisam de assistência médica", diz o comunicado do governo sobre o diálogo com o presidente francês Emmanuel Macron e o chanceler federal alemão Friedrich Merz.

O gabinete de Merz disse que houve "amplo consenso" durante a chamada. "Estaremos coordenando muito de perto nos próximos dias para dar os próximos passos", disse.

Ajuda aérea é "cortina de fumaça", diz ONU

Para o chefe da agência da ONU para refugiados palestinos, Philippe Lazzarini, os lançamentos aéreos são "uma distração e uma cortina de fumaça". Segundo ele, o método é incapaz de reverter a fome em Gaza.

"Uma fome provocada pelo homem só pode ser resolvida com vontade política. É preciso acabar com o cerco, abrir as passagens e garantir movimento seguro e acesso digno às pessoas necessitadas", afirmou Lazzarini.

Ele reforçou que os lançamentos aéreos são perigosos. "Eles são caros, ineficientes e podem até matar civis famintos", alertou.

Em 2024, Emirados Árabes Unidos, Jordânia, França e outros países realizaram lançamentos aéreos de ajuda em Gaza, em um momento em que o transporte terrestre de suprimentos também enfrentava restrições. Na ocasião, problemas durante a queda das caixas fizeram vítimas entre os palestinos.

Israel sofre pressão; ONGs relatam fome severa

O governo israelense sofria intensa pressão para autorizar a entrada de assistência humanitária no território. O país impôs um bloqueio total à entrada de suprimentos em Gaza em 2 de março, depois que as negociações para prolongar um cessar-fogo com o Hamas fracassaram. No fim de maio, voltou a permitir o ingresso de recursos essenciais, mas de forma pontual.

O exército israelense vem argumentando que não limita o número de caminhões que entram na Faixa de Gaza" e acusa a ONU de não recolher e distribuir os alimentos.

Agências internacionais por sua vez, dizem que o Israel impõe restrições excessivas aos produtos permitidos e às rotas disponíveis para transportar a ajuda até os pontos de distribuição.

ONGs também relatam que a ofensiva militar em curso tem feito seus próprios funcionários "definharem" e que cada vez mais crianças estão morrendo por falta de alimentos.

Ao menos 85 crianças e 42 adultos morreram de causas relacionadas à desnutrição em Gaza, segundo o balanço mais recente divulgado pelo Ministério da Saúde do território.

Neste grupo estava a filha de Ahmed Abu Halib que, segundo reportagem da agência de notícias AP, morreu com um peso menor do que quando nasceu. "Ela precisava de uma fórmula especial para bebês, que não existe em Gaza", contou o pai.

A mãe, Esraa Abu Halib, que também sofre de desnutrição, contou que conseguiu amamentar a filha por apenas seis semanas.

"Com a morte da minha filha, muitos outros virão", disse ela. "Seus nomes estão em uma lista que ninguém olha. São apenas nomes e números. Nós somos apenas números. Nossos filhos, que carregamos por nove meses e depois demos à luz, viraram apenas números."

Mortos enquanto aguardam ajuda

O atual modelo de distribuição de ajuda humanitária também é duramente criticado internacionalmente. Neste sábado, 40 pessoas morreram enquanto esperavam por ajuda humanitária, incluindo 16 que foram baleadas pelo exército israelense perto da Cidade de Gaza.

Abu Samir Hamoudeh, de 42 anos, disse à agência de notícias AFP que o exército israelense atirou "enquanto as pessoas esperavam para se aproximar do ponto de distribuição", que fica próximo a um posto militar israelense na área de Zikim, a noroeste de Sudaniyah.

Segundo autoridades de saúde palestinas, mais de mil pessoas já morreram em situações similares desde que a GHF (Fundação Humanitária de Gaza), apoiada por Israel e pelos EUA, assumiu a distribuição de ajuda humanitária.

gq (AFP, AP, DPA, OTS)