O ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, declarou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva “persona non grata” nesta segunda-feira (19) por ter comparado a atual guerra contra o Hamas em Gaza com o Holocausto.

“Ele é persona non grata no Estado de Israel, enquanto não se retratar por suas declarações e pedir desculpas”, disse Katz, referindo-se ao presidente.

Lula declarou no domingo que o conflito entre Israel e o movimento islamista Hamas em Gaza não é “uma guerra, mas um genocídio”.

Em Adis Abeba, na Etiópia, onde participou como convidado da cúpula anual da União Africana, Lula também comparou a ofensiva de Israel à campanha de Adolf Hitler para exterminar os judeus.

“O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus”, afirmou.

Em resposta, o governo israelense convocou o embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, e o convidou para se reunir com o chefe da diplomacia no centro memorial do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém.

As declarações de Lula “são uma vergonha e um grave ataque antissemita contra o povo judeu e o Estado de Israel”, declarou Katz durante visita ao memorial, com a presença da AFP.

– “Linha vermelha” –

Israel lançou uma ofensiva aérea e terrestre contra o Hamas em Gaza em 7 de outubro, após o ataque do grupo islamista ao seu território, que deixou pelo menos 1.160 mortos, segundo um relatório da AFP baseado em números israelenses.

Os milicianos islamistas também capturaram cerca de 250 pessoas, das quais 130 permanecem em Gaza, incluindo 30 que foram dadas como mortas, segundo Israel.

A resposta militar israelense deixou mais de 29 mil mortos em Gaza, segundo o Hamas, que governa o estreito território desde 2007.

Em novembro, Lula descreveu o ataque do Hamas em 7 de outubro como um “ato de terrorismo”. Mas também chamou a resposta israelense de “desproporcional”.

“Não é uma guerra entre soldados e soldados”, declarou ele no domingo. “É uma guerra entre soldados altamente preparados e mulheres e crianças”, disse.

As declarações de Lula, importante representante dos países do sul global e que detém a presidência rotativa do G20, são as mais contundentes proferidas até agora sobre o conflito.

O Hamas saudou os comentários do presidente em um comunicado, dizendo que eram “uma descrição precisa do que o seu povo sofre” em Gaza.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que Lula cruzou “uma linha vermelha”.

“Ao comparar a guerra de Israel em Gaza contra o Hamas, uma organização terrorista genocida, ao Holocausto, o presidente da Silva desonra a memória dos seis milhões de judeus assassinados pelos nazistas e demoniza o Estado judeu como o mais virulento dos antissemitas. Deveria ter vergonha”, acrescentou.

A Alemanha nazista exterminou sistematicamente seis milhões de judeus durante o Holocausto, aproximadamente um terço da população judaica mundial.

Após a Segunda Guerra Mundial, o recém-fundado Estado de Israel, em 1949, acolheu centenas de milhares de sobreviventes.

O presidente do comitê diretor do Yad Vashem, Dani Dayan, também destacou que as declarações do presidente demonstram “um claro antissemitismo” e descreveu a sua comparação com o Holocausto como “inaceitável”.