Israel continua bombardeando a Faixa de Gaza neste domingo (14), quando se completa o 100º dia da guerra contra o movimento palestino Hamas, mergulhando a população em uma grave crise humanitária e levando ao temor de um conflito em escala regional.

“Ninguém nos deterá, nem Haia, nem o ‘Eixo do Mal’, nem ninguém”, declarou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, no sábado (13), em referência às acusações de genocídio apresentadas pela África do Sul à Corte Internacional de Justiça (CIJ), sediada em Haia.

Em sua fronteira norte, Israel também enfrenta ataques do movimento islamista libanês Hezbollah, que faz parte do “eixo da resistência” do Irã e inclui grupos armados hostis a Israel e aos Estados Unidos.

A guerra começou em 7 de outubro, com um ataque de milicianos do Hamas em solo israelense a partir da Faixa de Gaza. Resultou em cerca de 1.140 mortes, na maioria civis, segundo dados israelenses compilados pela AFP.

Cerca de 250 pessoas foram feitas reféns durante o ataque, de acordo com autoridades israelenses. Cem foram libertadas, graças a uma trégua em novembro, e os familiares dos que ainda estão cativos mantêm a pressão pela libertação.

Em retaliação ao ataque, Israel prometeu “aniquilar” o Hamas, que está no poder em Gaza desde 2007 e é considerado um grupo terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia.

Os constantes bombardeios e a ofensiva terrestre de Israel causaram a morte de pelo menos 23.968 pessoas, principalmente mulheres, adolescentes e crianças, de acordo com o último balanço do Ministério da Saúde do Hamas.

No âmbito diplomático, os ministros das Relações Exteriores da China e do Egito, reunidos no Cairo, pediram neste domingo um cessar-fogo e a criação de um “Estado palestino independente e soberano nas fronteiras de 1967, com Jerusalém Oriental como capital”.

É necessário criar “um Estado palestino independente e soberano nas fronteiras de 1967, com Jerusalém Oriental como capital”, disse o ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Yi, em entrevista coletiva com seu homólogo egípcio, Sameh Shoukry, no Cairo.

– Morte e destruição –

No domingo, densas nuvens de fumaça foram vistas novamente sobre as cidades de Rafah e Khan Yunis, no sul da Faixa, conforme relatado por um jornalista da AFP.

Segundo o escritório de imprensa do governo do Hamas, mais de 100 pessoas morreram nos bombardeios noturnos israelenses em todo o território, especialmente em Khan Yunis.

As Brigadas Al Qassam, o braço armado do Hamas, afirmaram ter destruído um tanque israelense e falaram sobre combates em Al Maghazi, Deir Al Balah e Khan Yunis.

O Exército israelense afirma estar concentrando suas operações contra o Hamas em Khan Yunis, no sul da Faixa, onde centenas de milhares de civis se refugiaram dos bombardeios maciços no início da guerra.

O Exército também anunciou a morte de um soldado, elevando para 188 o número de soldados mortos desde o início das operações terrestres em Gaza, em 27 de outubro.

O bloqueio israelense à Faixa, reforçado pela guerra, está causando uma grave escassez de alimentos e combustível.

“A morte em massa, a destruição, os deslocamentos, a fome, as perdas e a dor dos cem dias de guerra em Gaza mancham nossa humanidade comum”, disse o diretor da agência de refugiados palestinos da ONU (UNRWA), Philippe Lazzarini, durante uma visita ao território.

Além disso, a chuva e o frio complicam a vida diária das famílias que vivem acampadas no pátio do complexo médico Al Naser, em Khan Yunis.

A ONU estima que 1,9 milhão de pessoas, ou quase 85% da população, tiveram que abandonar suas casas. Muitas buscam refúgio no sul do território, embora o Ministério da Saúde de Gaza tenha alertado repetidamente que não há infraestrutura para acomodá-los.

Fora de Gaza, os ataques dos Estados Unidos contra os rebeldes huthis do Iêmen, apoiados pelo Irã, fazem temer a extensão regional do conflito.

Os huthis estão intensificando os ataques no Mar Vermelho contra navios que consideram vinculados a Israel, e os Estados Unidos responderam com ataques a instalações rebeldes no Iêmen.

Na fronteira de Israel com o Líbano, os tiroteios entre o Hezbollah e as forças israelenses são quase diários desde 7 de outubro.

Na Cisjordânia ocupada, onde a violência tem aumentado essa data, o Exército israelense relatou a prisão por “incitação ao terrorismo” de duas irmãs do número dois do Hamas, Saleh Al Aruri. Ele morreu em 2 de janeiro, no Líbano, em um ataque de drones atribuído ao Exército israelense.

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