Milhares de palestinos fugiram nesta segunda-feira (8) dos combates na Cidade de Gaza, onde o Exército israelense deslocou tanques e emitiu novas ordens de evacuação, em um momento no qual os esforços diplomáticos se intensificam com vistas a uma eventual trégua.

Nove meses depois do início da guerra na Faixa de Gaza entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas, ocorrerão novas discussões com vistas a uma trégua esta semana no Catar e Egito, dos dois países mediadores do conflito ao lado dos Estados Unidos.

Enquanto isso, os combates continuam nesta segunda-feira no território palestino, onde os tanques israelenses atacaram, com apoio aéreo, vários bairros da Cidade de Gaza, no norte, e milhares de habitantes tiveram que fugir, indicaram testemunhas e a Defesa Civil.

Os habitantes fugiram a pé ou em cima de caminhões, levando consigo alguns pertences, entre as ruínas e sob os bombardeios incessantes dos drones israelenses.

O Exército israelense emitiu novas ordens de evacuação pela terceira vez desde 27 de junho, desta vez no centro da cidade, após os primeiros pedidos de evacuação no bairro de Shujaiya, no leste.

O Exército anunciou que havia “iniciado uma operação antiterrorista” na Cidade de Gaza, em especial ao redor do edifício da Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA).

– “Viver entre as ruínas” –

“Para onde vamos?”, perguntava-se Abdullah Khammash. “Nos dizem para abandonar esse local por outro, e depois vêm em direção a nós”, acrescentou.

“Às três da manhã, nós fugimos, dormimos na rua. Agora, vamos voltar para viver entre as ruínas”, declarou esse palestino.

Houve “dezenas” de mortos e feridos em alguns bairros, segundo a Defesa Civil, que disse que não conseguiu lhes dar assistência devido à intensidade dos disparos.

Quase 2,4 milhões de habitantes da Faixa de Gaza estão cercados por Israel, com escassez de água e alimentos. Mais de 80% da população foi forçada ao deslocamento, segundo a ONU.

No bairro de Shujaiya, “dezenas de terroristas foram eliminados”, afirmou o Exército israelense.

Em Rafah, no extremo sul, na fronteira com o Egito, mais de 30 terroristas foram “eliminados” e áreas de lançamento de foguetes em Khan Yunis foram bombardeadas, acrescentaram fontes militares.

A guerra começou em 7 de outubro, quando comandos islamistas mataram 1.195 pessoas, a maioria civis, e sequestraram 251 no sul de Israel, segundo contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses.

O Exército israelense calcula que 116 pessoas permanecem em cativeiro em Gaza, das quais 42 teriam morrido.

Israel prometeu aniquilar o Hamas, que governa a Faixa de Gaza desde 2007 e é considerado uma organização terrorista pelo país, pelos Estados Unidos e pela UE.

Em resposta ao ataque, Israel iniciou uma ofensiva no território palestino que matou 38.193 pessoas, também em sua maioria civis, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.

– “Bloqueia tudo” –

Após meses de negociações indiretas sem resultados, Israel anunciou que enviará uma delegação ao Catar nos próximos dias.

Por sua vez, o chefe da CIA, William Burns, viajará para o Cairo e Doha, de acordo com a mídia e um funcionário próximo às negociações.

De acordo com o jornal egípcio Al Qahera News, que é próximo aos serviços de inteligência, as delegações israelenses e americanas participarão no Cairo de negociações para uma trégua sobre a libertação dos reféns.

Um alto funcionário do Hamas disse no domingo que seu movimento não estava mais exigindo um cessar-fogo permanente antes que as negociações pudessem começar.

Em vez disso, os mediadores “prometeram que, enquanto as negociações estiverem em andamento”, um “cessar-fogo permanecerá em vigor”, acrescentou.

Mas o gabinete de Netanyahu disse no domingo que “qualquer acordo permitiria que Israel retornasse e lutasse até que todos os objetivos da guerra fossem alcançados”, ou seja, a destruição do Hamas e a libertação de todos os reféns.

“As intenções de Netanyahu são claras. Toda vez que há progresso em direção a um acordo, ele bloqueia tudo e intensifica a agressão contra nosso povo”, disse uma autoridade do Hamas na segunda-feira, sob condição de anonimato.

Para aumentar a pressão sobre o governo israelense, novas manifestações serão realizadas em Israel na segunda-feira.

Até o momento, os mediadores internacionais só conseguiram fazer com que os dois lados chegassem a uma trégua no final de novembro, o que permitiu a libertação de 80 reféns em troca de 240 palestinos presos em Israel.

A guerra também ameaça se espalhar para o vizinho de Israel, o Líbano, após uma escalada nos disparos entre o Exército israelense e o movimento islâmico libanês Hezbollah, aliado do Hamas.

O Exército disse na segunda-feira que havia “eliminado” um oficial do Hezbollah em um ataque no sul do Líbano. O movimento islamista confirmou a morte.

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