Israel voltou a bombardear a Faixa de Gaza neste domingo (3), apesar da crescente pressão internacional para proteger a população civil e retomar a trégua com o movimento islamista palestino Hamas.

Do Vaticano, o papa Francisco instou os dois lados a implementarem um novo cessar-fogo o mais rápido possível.

“É triste que a trégua tenha sido rompida, isso significa morte, destruição e miséria”, lamentou, em um texto lido em italiano por um de seus assistentes após a tradicional oração do Angelus.

A trégua, negociada pelo Catar com a ajuda dos Estados Unidos e do Egito, entrou em vigor em 24 de novembro, depois de mais de um mês de guerra, e expirou na sexta-feira, quando o Exército israelense retomou os bombardeios na Faixa de Gaza.

O grupo armado afirma ter realizado “cerca de 10.000 ataques aéreos desde o início da guerra” no estreito território. Também indicou que lançou mais de 400 bombardeios desde sexta-feira.

O exército bombardeou o norte neste domingo, ao longo da fronteira com Israel, e disparou artilharia. Também multiplicou os seus ataques no sul da Faixa, onde centenas de milhares de palestinos foram deslocados pelo conflito.

Segundo a ONU, 1,8 milhão de habitantes de Gaza, mais de dois terços da população, abandonaram seu lares desde o início dos confrontos.

A guerra começou em 7 de outubro, quando milicianos islamistas invadiram o sul de Israel, matando 1.200 pessoas, a maioria civis, e sequestrando cerca de 240, segundo as autoridades israelenses.

Em resposta, Israel prometeu aniquilar o Hamas e iniciou uma campanha de ataques aéreos e terrestres em Gaza que, de acordo com o governo do Hamas, deixou 15.523 mortos.

“Nas últimas horas, apenas 316 mortos e 664 feridos puderam ser retirados dos escombros e transportados para hospitais, mas muitos outros ainda estão sob os escombros”, afirmou o porta-voz do Ministério da Saúde do Hamas, que governa o território palestino.

– Foguetes sobre Israel –

O exército afirmou na rede social X que havia “eliminado cinco terroristas” e apontado contra “túneis [de] terroristas, centros comando e depósitos de armas” pertencentes ao Hamas.

Autoridades de Gaza indicaram que ao menos sete pessoas morreram em um bombardeio israelense perto da fronteira com o Egito.

Israel anunciou que dois de seus soldados morreram em combate, os primeiros desde o fim da trégua.

O exército afirmou que, desde o início de sua ofensiva terrestre, destruiu cerca de 500 entradas dos túneis que, segundo Israel, o Hamas utiliza para suas operações. Até agora, os israelenses descobriram cerca de 800 dessas entradas, a maioria em “zonas civis […] como escolas, creches, mesquitas ou áreas de lazer”.

Tanto o Hamas como a Jihad Islâmica disseram neste domingo que lançaram foguetes contra cidades israelenses, incluindo Tel Aviv.

A maioria destes dispositivos são interceptados pelo poderoso sistema de defesa aéreo israelense.

O Reino Unido anunciou que pretende mandar voos de vigilância sobre Israel e Gaza para ajudar a localizar os sequestrados.

– Muitas vítimas –

Segundo o Exército israelense, ainda há 137 reféns nas mãos do Hamas e outros grupos. Durante a trégua, cerca de cem foram liberados em troca de 240 presos palestinos.

“No há outra maneira de vencer senão continuar com nossa campanha terrestre”, enfatizou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

O número dois do gabinete político do Hamas, Saleh al Aruri, declarou que a libertação do reféns depende da “libertação de todos nossos prisioneiros, após um cessar-fogo”.

Falta comida, água e outros bens essenciais para os habitantes da Faixa de Gaza, e muitas residências estão destruídas.

A falta de eletricidade e combustível para operar os geradores mergulhou muitos hospitais no caos.

De acordo com a ONU, “nenhum hospital no norte está em condições de operar”, então os feridos mais graves estão sendo transferidos para os hospitais do sul, que estão saturados com feridos e mortos.

“Estou ficando sem palavras para descrever os horrores que atingem as crianças aqui”, disse James Elder, porta-voz da agência da ONU para a infância (Unicef), em um vídeo do hospital Nasser em Jan Yunes.

– Sem “lugar seguro” em Gaza –

Huda, de nove anos, foi transferida pela Cruz Vermelha para o hospital de Deir al Balah, vinda do norte.

A menina sofreu “uma hemorragia cerebral e foi conectada a um respirador artificial em cuidados intensivos”, contou seu pai à AFP. “Ela não está mais respondendo”, repetiu entre soluços.

O alto comissário da ONU para os direitos humanos, Volker Turk, advertiu que devido às ordens de evacuação emitidas por Israel “centenas de milhares de pessoas” estavam “confinadas em áreas cada vez menores”.

Não há “lugar seguro em Gaza”, insistiu.

As duas partes se culpam mutuamente por violar as condições do cessar-fogo.

Os negociadores israelenses deixaram Doha no sábado devido à falta de acordos para uma nova pausa nas hostilidades.

burs-mca/mas/ag/pc/sag/eg/jc/ic