Duzentos e cinquenta foguetes foram disparados da Faixa de Gaza contra Israel, que lançou ataques em represália que mataram ao menos quatro palestinos, entre eles um bebê palestino e sua mãe, grávida, informaram fontes em Gaza, o que fragiliza o precário cessar-fogo na região.
Este é o mais intenso disparo de foguetes contra Israel em um único dia nos últimos anos.
Desde a manhã, 250 foguetes foram disparados por milicianos palestinos contra localidades do sul e do centro de Israel. Várias dezenas foram interceptados pela defesa antimísseis, indicaram as Forças Armadas israelenses. Grande parte dos foguetes impactou áreas não habitadas, segundo a Polícia.
Uma israelense de 80 anos ficou gravemente ferida por estilhaços de um foguete em Kyriat Gat, a 20 km de Gaza, e um israelense de 50 anos ficou ferido em Ashkelon, segundo a Polícia.
Nas dezenas de ataques lançados por Israel, quatro palestinos morreram e 17 ficaram feridos, segundo o ministério da Saúde de Gaza, enclave controlado pelo Hamas.
Uma bebê de 14 meses e sua mãe, grávida, morreram em um ataque que atingiu sua casa em Gaza, segundo esta fonte e pessoas próximas das vítimas. Uma irmã da bebê ficou gravemente ferida.
“Estávamos almoçando quando a casa foi bombardeada por um avião israelense. (A bebê) Saba morreu na hora” contou à AFP Abu Mohamed Abu Arar, um amigo da família. “Falastin Abu Arar, de 37 anos, grávida, morreu pelos disparos que sofreu na cabeça”, informou o ministério.
O Exército israelense negou esta versão. O porta-voz militar Avichay Adraee sugeriu no Twitter, em árabe, que a morte da mãe e da filha talvez tenha ocorrido por um disparo palestino, sem dar mais detalhes.
– 120 alvos em Gaza –
Ao cair da tarde, as sirenes continuavam soando nas regiões israelenses fronteiriças com a Faixa de Gaza, segundo os militares. A Polícia pediu aos moradores que se dirigissem aos refúgios a cada alerta.
O movimento Jihad Islâmica reivindicou ter disparado uma parte destes foguetes e disse que continuaria com o ataque.
Em vídeo divulgado pelas redes sociais, o braço armado do grupo ameaçou atacar vários objetivos estratégicos israelenses, como o aeroporto internacional Ben Gurion, perto de Tel Aviv.
A Força Aérea atacou 120 posições do Hamas e de seu aliado, Jihad islâmica, segundo fontes militares, entre elas várias bases e um túnel da Jihad Islâmica destinada a realizar ataques em território israelense.
As Forças Armadas israelenses também destruíram dois edifícios de vários andadres na Cidade de Gaza, segundo moradores. O Exército indicou que um deles alojava serviços de Inteligência militar e serviços de segurança do Hamas.
Moradores do bairro contaram que o prédio com vários andares abrigava o escritório da agência de imprensa estatal turca Anadolu, uma informação confirmada pela Turquia, que condenou “com firmeza” o ataque, denunciando uma “agressividade sem limites”.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, condenou o ataque no Twitter e assegurou que “a Turquia e a agência Anadolu continuarão contando ao mundo sobre o terrorismo e as atrocidades de Israel em Gaza e em outras partes da Palestina”.
Segundo a Anadolu, o pessoal da agência conseguiu deixar o prédio pouco antes do ataque, pois este foi antecedido de um aviso.
Neste contexto, Israel anunciou o fechamento das passagens fronteiriças de Gaza e a proibição à pesca no litoral do enclave.
– Mediação do Egito –
Segundo uma fonte da Jihad Islâmica no Egito, que atua como intermediário entre Hamas e Israel, tenta fazer uma mediação para reduzir a tensão.
Em Bruxelas, a União Europeia (UE) pediu o “cessar imediato” dos disparos.
O emissário da ONU encarregado do conflito israelense-palestino, Nickolay Mladenov, exortou “todas as partes a acalmar a situação e retornar ao entendimento dos últimos meses”.
Já os Estados Unidos disseram apoiar o “direito” de Israel à sua “defesa própria”.
Israel e Hamas se enfrentaram em três guerras desde 2008.
No fim de março, sob os auspícios do Egito e da ONU, negociou-se um cessar-fogo, anunciado pelo Hamas, mas nunca confirmado por Israel. Isto permitiu manter uma relativa tranquilidade, durante as eleições legislativas israelenses de 9 de abril.
Mas a situação se degradou durante esta semana. Voltaram os disparos de foguetes e balões incendiários palestinos, assim como represálias israelenses.
Três fatores poderiam, no entanto, empurrar Israel a acalmar a situação: as negociações em andamento para a formação de uma coalizão governamental após a vitória de Netanyahu nas eleições, o concurso musical Eurovision previsto em Tel Aviv em meados de maio, e as celebrações pela criação do Estado de Israel na quinta-feira.
Desde março de 2018, os palestinos se manifestam na fronteira entre a Faixa de Gaza e Israel contra o bloqueio do enclave e pelo retorno dos refugiados que foram expulsos ou tiveram que deixar suas terras após a criação de Israel, em 1948.
Ao menos 271 palestinos morreram desde o início da mobilização, nas manifestações ou nos ataques israelenses como represália. Do lado israelense, dois soldados morreram.
Os organizadores das manifestações e o Hamas asseguram que o movimento da “Grande marcha do retorno” é independente. Israel, ao contrário, acusa o Hamas de orquestrar estas manifestações.