26/11/2024 - 20:31
Trégua negociada por EUA e França pode encerrar mais de um ano de conflito entre Israel e a poderosa formação xiita libanesa, que é armada e apoiada pelo Irã.O governo da Israel aprovou nesta terça-feira (26/11) uma trégua de 60 dias com o grupo xiita Hezbollah no Líbano.
O cessar-fogo, mediado pelos EUA e pela França, deve encerrar mais de um ano de disparos entre fronteiras e dois meses de guerra aberta entre Israel e a poderosa formação libanesa, que é armada e apoiada pelo Irã.
O premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, conversou por telefone com o presidente dos EUA, Joe Biden, e agradeceu-lhe por "seu envolvimento" na obtenção do acordo, informou o gabinete do chefe de governo israelense.
Biden, por sua vez, saudou as "boas notícias" e disse que a trégua começa a vigorar às 4h de quarta-feira (horário local).
Em discurso na Casa Branca, o presidente americano chamou o pacto de um "novo começo" para o Líbano e disse que o plano é "projetado para ser uma cessação permanente das hostilidades".
Já o primeiro-ministro libanês, Nayib Mikati, disse que a trégua entre Israel e o Hezbollah é um "passo fundamental" para a estabilidade regional.
O gabinete de Netanyahu informou que 10 de seus ministros votaram a favor e um se opôs ao acordo.
Depois que o Gabinete de Segurança – que reúne os principais ministros e as lideranças militares e de inteligência de Israel – deu sinal verde para o acordo, o Conselho de Ministros se reuniu e aprovou a trégua.
Ao anunciar que o Gabinete de Segurança aceitou o acordo de cessar-fogo, Netanyahu destacou que Israel manterá a “liberdade de ação” se o Hezbollah violar o compromisso.
"A duração do cessar-fogo dependerá do que acontecer no Líbano e manteremos total liberdade de movimento”, declarou o primeiro-ministro em pronunciamento.
Três estágios
A proposta inclui três estágios: uma trégua seguida pela retirada das forças xiitas libanesas do Hezbollah ao norte do rio Litani; uma retirada total das tropas israelenses do sul do Líbano em 60 dias; e, finalmente, negociações entre Israel e Líbano sobre a demarcação da fronteira, que atualmente é um limite estabelecido pela ONU após a guerra de 2006.
"Em pleno entendimento com os Estados Unidos, mantemos total liberdade de ação militar. Se o Hezbollah violar o acordo e tentar se armar, nós atacaremos. Se ele tentar renovar a infraestrutura terrorista perto da fronteira, nós atacaremos. Se ele lançar um foguete, se cavar um túnel, se trouxer um caminhão de mísseis, nós atacaremos”, disse Netanyahu.
A "liberdade de ação” militar dentro do Líbano foi um dos elementos mais controversos do acordo, ao qual o governo libanês e o Hezbollah se opuseram fortemente, mas Israel se dispôs a aceitar uma carta de compromisso de Washington sobre essa questão.
Em relação aos críticos do acordo, incluindo seus parceiros de extrema direita e prefeitos de comunidades do norte que temem que ainda não haja garantias de segurança para que os residentes evacuados retornem às suas casas, o primeiro-ministro prometeu que as tropas entrarão novamente no Líbano, se necessário.
Netanyahu lembrou que, há um ano, ele já assinou uma trégua com o Hamas na Faixa de Gaza para libertar alguns reféns, mas com condições para "atacar novamente e renovar a guerra”.
"Alguns dizem que o Hezbollah permanecerá em silêncio por um ou dois anos, ficará mais forte e depois nos atacará. Mas o Hezbollah não só violará o cessar-fogo se disparar contra nós, como também o fará quando tentar se armar para nos atacar no futuro. Para cada violação deles, responderemos com firmeza”, alertou.
O premiê comentou que o momento era "certo” para um cessar-fogo no Líbano por três motivos: foco na ameaça iraniana, renovação completa das forças e isolamento do Hamas.
"Desde o segundo dia da guerra, o Hamas contou com o Hezbollah para lutar ao seu lado. E quando o Hezbollah está fora de cena, o Hamas fica sozinho na campanha. Nossa pressão sobre ele aumentará e isso contribuirá para a missão sagrada de libertar nossos reféns”, comentou Netanyahu sobre a situação na Faixa de Gaza.
Mais de 3,5 mil libaneses mortos
Sobre a guerra no Líbano, na qual mais de 3,5 mil libaneses foram mortos, Netanyahu disse que alcançou seus objetivos, não apenas desmantelando a organização – assassinando toda a sua liderança, inclusive o líder Hassan Nasrallah – mas também fazendo-a retroceder "milhares de anos” depois de destruir a maior parte de seu arsenal de armas e infraestrutura subterrânea.
"Há alguns anos, isso pareceria ficção científica, mas não é. Conseguimos”, enfatizou, com o argumentou de que havia escolhido estrategicamente o momento de lançar a ofensiva de guerra no norte – paralelamente à guerra em Gaza – bem como o momento de responder ao ataque de 181 projéteis do Irã em outubro.
Poucas horas antes de o cessar-fogo entrar em vigor para pôr fim a uma escalada que se arrasta há mais de um ano e se agravou no final de setembro, Israel continuou a bombardear pesadamente várias regiões no Líbano, especialmente Beirute.
As Forças de Defesa de Israel (FDI) confirmaram ataques nesta terça-feira em Beirute, Sidon, Tiro e Bekaa, enquanto as sirenes antiaéreas também foram acionadas no norte de Israel devido aos bombardeios do Hezbollah.
md (EFE, AFP, Reuters)