22/11/2023 - 0:35
O governo israelense anunciou na madrugada desta quarta-feira (22) que havia aprovado um acordo para obter a libertação de reféns sequestrados pelo Hamas em troca de presos palestinos e de uma trégua na Faixa de Gaza após semanas de guerra.
“O governo aprovou as linhas gerais do primeiro estágio de um acordo pelo qual pelo menos 50 pessoas sequestradas – mulheres e crianças – serão libertadas nos próximos quatro dias, durante os quais haverá uma pausa nos combates”, disse o governo israelense em uma nota enviada à AFP.
Antes da reunião do gabinete de ministros, que começou na noite de terça-feira, o premiê israelense Benjamin Netanyahu havia dito que aceitar o acordo é “uma decisão complicada, mas é uma decisão correta”.
Seu gabinete estava sob pressão das famílias das cerca de 240 pessoas sequestradas pelo grupo islamista em seu ataque de 7 de outubro, que também deixou 1.200 mortos, a maioria civis, segundo as autoridades israelenses.
Desde então, Israel lançou uma ofensiva contra Gaza com o propósito de “aniquilar” o Hamas, que já deixou mais de 14.000 mortos neste território, vítimas dos bombardeios incessantes e das operações terrestres israelenses.
O Hamas, cujo líder Ismail Haniyeh havia anunciado avanços nas negociações mediadas por Catar, Egito e Estados Unidos, deu boas-vindas em um comunicado ao acordo de “trégua humanitária” e assegurou que suas disposições foram “formuladas em conformidade com a visão da resistência”.
Tanto os Estados Unidos quanto o Catar haviam garantido na terça-feira que o acordo estava muito perto, após semanas de negociações.
Duas fontes próximas das negociações disseram à AFP que o acordo provisório se baseia na libertação de entre “50 e 100” reféns, entre eles crianças e mulheres, em troca da saída de 300 detentos palestinos das prisões de Israel.
Segundo um alto funcionário da Casa Branca, entre os reféns que serão libertados nos próximos dias há três cidadãos americanos, incluindo um menino de três anos. A fonte acrescentou que o governo americano esperava a libertação de “mais de 50 reféns”.
O acordo de trégua não vai significar o fim da guerra na Faixa de Gaza, havia alertado na terça o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, que disse desejar uma retomada “com força total” das operações para “derrotar” o Hamas.
“O governo israelense, o Exército israelense e as forças de segurança vão continuar a guerra para trazer de volta todas as pessoas sequestradas, eliminar o Hamas e garantir que não exista nenhuma ameaça para o Estado de Israel vinda de Gaza”, coincidiu o governo na nota sobre o acordo.
O movimento palestino Hamas também se mostrou desafiador em seu comunicado: “Confirmamos que nossos dedos vão continuar nos gatilhos e que nossos batalhões triunfantes vão permanecer de prontidão.”
O acordo chega como um respiro para a população de Gaza, que também está submetida a um “cerco total” por parte de Israel, que bloqueia o fornecimento de comida, água, eletricidade e medicamentos.
A ONU, que junto com outras organizações internacionais reivindicava há semanas um cessar-fogo por motivos humanitários, calcula que a guerra provocou o deslocamento de quase 1,7 milhão dos 2,4 milhões de habitantes da Faixa de Gaza.
Uma verdadeira “tragédia” sanitária é iminente no território, alertou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
O grupo de economias emergentes do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) solicitou na terça-feira, durante uma cúpula extraordinária virtual “uma trégua humanitária imediata e duradoura” em Gaza.
“Se conseguirem uma trégua de cinco dias agora, acredito que vai abrir caminho para tréguas mais longas, ou até mesmo um cessar-fogo total”, dizia esperançoso Hamza Abdel Razeq, morador de Rafah, no sul da Faixa.
“As pessoas realmente estão sofrendo”, explicou à AFP.
Este acordo “é ruim para a segurança dos israelenses, é ruim para os reféns, é ruim para os soldados”, se opôs o Partido Sionista Religioso, uma legenda de extrema direita com representação no governo de Netanyahu.
Na terça-feira, as tropas israelenses continuaram lutando no norte da Faixa de Gaza, a área mais afetada pela guerra, onde bairros foram reduzidos a escombros.
O Exército garantiu que seus bombardeios atingiram “cerca de 250” alvos do Hamas no último dia, e acrescentou que dois soldados morreram no norte do território palestino.
A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) e o Crescente Vermelho palestino anunciaram que três médicos, dois deles da MSF, morreram em um bombardeio contra o hospital Al Awda do campo de refugiados de Jabaliya. O Crescente Vermelho denunciou um bombardeio “israelense”.
Segundo o Ministério da Saúde do Hamas, o Hospital Indonésio – situado nas imediações do campo -, continuava cercado por tanques israelenses nesta terça, e “50 mortos” jaziam no pátio do estabelecimento.
Na véspera, “terroristas dispararam do interior do Hospital Indonésio em Gaza”, declarou o Exército israelense, acrescentando que respondeu dirigindo-se “diretamente” contra a fonte dos disparos.
O movimento islamista acusa Israel de executar uma “guerra contra os hospitais” de Gaza – a zona norte do território tem poucos centros médicos operacionais no momento.
As autoridades israelenses argumentam que o Hamas utiliza os hospitais com fins militares e usa os civis como “escudos humanos”, o que o movimento palestino nega.
Em outra frente de batalha, quatro civis, incluindo dois jornalistas, morreram nesta terça-feira em bombardeios israelenses no sul do Líbano, segundo a imprensa libanesa.
Desde o início da guerra em Gaza, o Exército de Israel e o Hezbollah, aliado do Hamas e apoiado pelo Irã, executam ataques na fronteira.
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