No universo do entretenimento, as fronteiras culturais estão cada vez mais porosas, e, nesse cenário, o streaming se tornou a principal via de mão dupla entre artistas e públicos de diferentes partes do mundo. Um dos rostos que simbolizam esse intercâmbio é o da atriz Isabela Souza, a primeira brasileira a protagonizar uma produção internacional da Disney.
A artista ganhou projeção internacional com “Bia”, série que estreou originalmente na televisão em 2019, mas cujo sucesso se prolongou e se reinventou nas plataformas digitais, conquistando novas gerações e consolidando uma base de fãs em toda a América Latina.
Na pele de Bia Urquiza, uma jovem criadora digital que transforma a arte em forma de expressão e conexão, Isabela transcendeu o papel de protagonista para se tornar um símbolo de representatividade latino-americana dentro de um império midiático global.
A atriz, que recentemente encerrou um ciclo interpretando a professora Pilar na novela do SBT, “A Caverna Encantada”, carrega em sua trajetória um repertório que atravessa fronteiras, iniciando em produções como “Juacas” e expandindo-se com projetos como o spin-off “Bia: Um Mundo do Avesso”, seguindo o fluxo de artistas brasileiros que ocupam novos espaços na cena internacional sem abrir mão da própria identidade cultural.

Isabela Souza em ‘A Caverna Encantada’
A atriz, em suas próprias palavras, viveu intensamente a experiência de uma produção rodada além das fronteiras. Gravada na Argentina, “Bia” reuniu artistas de diferentes países e consolidou uma rede de colaboração cultural que ultrapassou a ficção.
“Foi uma experiência riquíssima. Estar em um set com pessoas de diferentes países da América Latina e Europa fez com que cada dia fosse uma troca. Aprendíamos uns com os outros, tanto artisticamente quanto pessoalmente. Ficamos muito amigos e percebemos que, apesar das diferenças culturais, existe um sentimento muito forte de pertencimento, como uma ‘latinoamericanidade’ que nos une”, afirma.
“Há algo de muito bonito nessa mistura de sotaques, histórias e jeitos de viver. Ela cria um ambiente de colaboração, de aprendizado mútuo, de diversão, risadas, amizade. Eu saí das gravações não só com novos e grandes amigos, mas com uma visão ainda mais ampla do que significa ser artista na nossa região”, completa.
Na sequência, detalha que, para ela, o streaming foi decisivo nessa virada cultural. “Acredito que o streaming abriu um espaço muito interessante para nós, artistas latino-americanos. Ele permite que nossas histórias atravessem fronteiras e cheguem a públicos que talvez nunca tivessem contato com a nossa cultura antes. Ao mesmo tempo, existe um desafio: como manter viva a singularidade do nosso olhar, da nossa linguagem, sem cair em uma estética global padronizada?”, questiona.
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A fala da atriz toca num ponto central do debate contemporâneo sobre o papel da globalização: a tensão entre o universal e o local. Ao mesmo tempo em que a tecnologia democratiza o acesso à produção e distribuição de conteúdo, também impõe o desafio de resistir à pasteurização cultural.
Isabela reconhece essa ambiguidade, mas aposta no poder da autenticidade: “Durante as gravações de ‘Bia’ na Argentina, percebi o quanto a nossa identidade local é uma força, não um obstáculo. Cada sotaque, cada referência, cada detalhe da maneira como contamos uma história contribui para essa riqueza”.
“Acho que o público internacional não quer uma versão ‘neutra’ da América Latina, e sim algo autêntico, que revele quem somos de verdade. Esse diálogo entre o local e o global é o que torna o streaming tão potente, e eu estou amando ver o espaço que a arte latino-americana está ganhando”, complementa.
Esse sentimento de pertencimento e de unidade latino-americana é parte daquilo que o streaming tem potencializado: a circulação de vozes, sotaques e perspectivas que, por muito tempo, estiveram confinadas a circuitos regionais.
Para Isabela, a globalização do audiovisual não precisa ser um processo de homogeneização, mas de expansão de olhares: “Vejo a globalização do audiovisual com um olhar muito otimista. O streaming tem suas complexidades, claro, mas também abriu portas para que vozes diversas sejam ouvidas. Produções feitas na América Latina, na Ásia, na África estão sendo vistas no mundo todo, e isso muda a forma como o público enxerga o que é ‘universal’”.
“Para mim, a pluralidade vem justamente desse intercâmbio. Quando diferentes culturas dialogam, quando histórias locais ganham visibilidade internacional, todos saem ganhando. O importante é que nesse processo a gente não perca nossa essência, porque é justamente ela que nos torna interessantes para o mundo”, conclui.