Depois de emprestar R$ 25 milhões para o Botafogo erguer um Centro de Treinamento em Vargem Pequena, na zona oeste do Rio de Janeiro, os irmãos João e Walther Moreira Salles querem modernizar a gestão do clube para investir mais. Sócios do Itaú Unibanco e herdeiros de uma das maiores fortunas do País, eles contrataram a consultoria Ernst & Young para realizar um diagnóstico do clube, cujo patrimônio maior está em sua história centenária no futebol, com craques como Garrincha. O resultado deste trabalho, que será finalizado em março do ano que vem, vai definir como os Moreira Salles podem continuar contribuindo e atrair mais investidores. O Botafogo já aprovou o pedido de estudo.

Apaixonados pelo Botafogo, os irmãos dizem enfaticamente que não têm a intenção de “comprar” o clube, como acontece com frequência no cenário europeu. Também não querem participar da gestão do futebol, de forma direta ou indireta. Eles acreditam que o modelo de controle e administração dos clubes, de maneira geral, precisa de uma nova forma de estruturação. Rejeitam a posição de eventuais “donos” do Botafogo, pois acreditam que o esporte é algo mais coletivo.

Os Moreira Salles representam uma família tradicional e bilionária. Filhos do banqueiro, embaixador e ministro Walther Moreira Salles, morto em 2001, os quatro irmãos (Fernando, João, Pedro e Walther) são acionistas do Grupo Itaú Unibanco e da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), maior produtora mundial de nióbio – o mais leve dos metais refratários.

João e Walther têm atuação destacada no cenário cultural, mais exatamente no cinema brasileiro. Em 1987, eles fundaram a produtora Videofilmes, que se tornou importante na chamada retomada do cinema brasileiro.

Walther dirigiu o filme Central do Brasil, título que concorreu ao Oscar em duas categorias – não ganhou. João recebeu uma nomeação ao Grande Prêmio Cinema Brasil de melhor diretor por Entreatos, em 2004. Também é produtor e documentarista.

O Instituto Moreira Salles, instituição cultural sem fins lucrativos, possui importantes patrimônios nas áreas de fotografia, música, literatura, iconografia e cinema. A revista Piauí, de grandes reportagens, também está nas mãos da família.

No futebol, João e Walther são botafoguenses de coração. No ano passado, os irmãos já ofereceram uma ajuda efetiva. Emprestaram R$ 25 milhões para a construção do CT. O valor será ressarcido no prazo de 30 anos, em pagamentos mensais.

O estudo atual, encomendado com a anuência do clube, deve definir novas maneiras de organização legal do Botafogo. Uma das opções é a criação de um clube-empresa, associação que busca lucro a partir dos esportes. Outra saída é a criação de uma fundação amparada por um fundo patrimonial. Dependerá do resultado do estudo.

Independentemente das opções apontadas pela consultoria, o Botafogo mudará sua forma de gestão. O negócio ainda precisará ser discutido pelo Conselho Deliberativo. Possivelmente, o estatuto também precisará ser alterado. O Botafogo poderá ter alterações na importância e na efetiva função de alguns cargos, por exemplo.

VISÃO DO CLUBE – Se efetivada, a proposta não deverá ter dificuldade de aprovação em General Severiano. Diretores ouvidos pelo Estado veem com bons olhos a aproximação com os Moreira Salles. A parceria é vista como solução para os problemas financeiros do clube, que tem dívida em torno de R$ 700 milhões.

“Já havíamos concluído que o modelo tradicional de fazer operações de empréstimo de curto prazo para apagar incêndios é um modelo que não funciona”, diz o vice-presidente financeiro do Botafogo, Luis Felipe Novis. “Tínhamos de procurar alternativas menos conjunturais e mais estruturais. Esse modelo será apresentado aos Salles. Eles analisarão e, depois, isso será submetido ao Botafogo e a seus poderes para que seja definido até meados de 2019”, diz o dirigente.

Ainda não está definido o que a família fará com o clube nem como a parceria seria feita. Existe a expectativa dos botafoguenses de que os Moreira Salles assumiriam a dívida e ganhariam com as receitas do clube. Mas isso ainda não está fechado.

FORTUNA – Os Moreira Salles fizeram fortuna no setor bancário, mas expandiram o negócio para outras áreas. O patrimônio da família supera US$ 20 bilhões (cerca de R$ 77 bilhões), segundo a revista Forbes. Cada um dos irmãos – Pedro, Fernando, João e Walther – aparece com cerca de US$ 5 bilhões (R$ 19 bilhões), cifra que os coloca entre os dez mais ricos do Brasil.

A fortuna tem origem no Unibanco, que se tornou um dos maiores do setor sob o comando do pai do quarteto, o banqueiro Walther Moreira Salles, morto em 2001. Os herdeiros acertaram, em 2008, a fusão do Unibanco com o Itaú, criando uma potência no segmento. Seguiram como sócios: Pedro é copresidente do conselho de administração do Itaú Unibanco e João, membro do colegiado.

Outra parte considerável da riqueza da família vem da exploração de nióbio, negócio no qual Walther Moreira Salles decidiu investir ainda na década de 1960. Hoje, a CBMM, empresa de mineração da família, é responsável pelo fornecimento da maior parte do nióbio do mundo, metal que é usado na produção de aço.