Acostumados a levar o Brasil ao pódio em Olimpíadas, os irmãos Torben e Lars Grael acreditam que a nova geração da vela tem todas as condições de manter o País brigando pelo topo. E não se restringem aos membros da família. Coordenador técnico da Confederação Brasileira de Vela, Torben aposta em duas medalhas nos Jogos de Tóquio, adiados para 2021.

“Vamos tentar uma ou duas medalhas, está de bom tamanho. Continuamos formando muito jovem com excelente potencial de resultados na vela olímpica”, afirma o velejador, em entrevista ao Estadão. “A confederação tem dedicado uma atenção especial à vela jovem para que a gente consiga manter essa garotada competindo para levá-los para a vela olímpica. Isso vai render bons frutos no futuro.”

Enquanto a nova geração se prepara para o futuro, Torben aposta principalmente no veterano Robert Scheidt, na classe Laser, e na dupla formada por Fernanda Oliveira e Ana Barbachan, na 470F, sem deixar de mencionar os filhos Martine e Marco. “A Martine e a Kahena Kunze são as atuais campeãs olímpicas e o Marco e o Gabriel fizeram o melhor Mundial deles até agora, em 13º lugar. Estão progredindo bem.”

Para Lars, o Brasil deve seguir com sucesso em eventos mundiais, mas sem repetir os feitos do irmão e de Scheidt. “A comparação com Scheidt e Torben não é fácil. Eles são fora de série. É como falar de renovação no automobilismo e comparar com Fittipaldi, Piquet e Senna. Mas tem uma geração de velejadores do Brasil, alguns se aproximando dos 30 anos, idade que na vela você ainda tem bastante lenha para queimar, como o Jorge Zarif, bicampeão mundial. Acredito nele com possibilidade de medalha”, comenta o dono de dois bronzes em Jogos Olímpicos.

Na avaliação dos irmãos, o Brasil deve ter bom rendimento na vela em Tóquio apesar de ter aproveitado mal a herança dos Jogos do Rio-2016. “Em termos de legado, poderia ter sido muito mais. Acho que foi feito uma série de investimentos que foram mal aproveitados, tanto na mobilidade quanto com as instalações esportivas, subutilizadas ou deterioradas. É uma pena”, afirma Torben.

“Não foi dada a devida atenção para se aproveitar esses investimentos que foram feitos. Em termos do lado dos esportistas, trouxe um nível de investimento que nunca tínhamos tido antes. Mas acontece que não foram muitos os esportes que conseguiram aproveitar esses investimentos para formar centros de treinamento e formação de atleta. Precisamos olhar muito para a base do esporte.”

Lars lamenta as “derrotas” que o esporte sofreu no Brasil desde a Olimpíada. “Sediamos o maior evento da humanidade e o legado que ficou foi muito pouco porque o esporte deixou de ter ministério específico, o orçamento caiu muito de lá para cá, não conseguimos equiparação da Lei de Incentivo com a Lei de Incentivo da Cultura.”

Para os medalhistas olímpicos, o Brasil perdeu oportunidade de transformar o esporte em política pública. “O esporte deveria ser obrigatório nas escolas. Investimento no esporte é investimento na saúde, é dinheiro que você deixar de gastar na saúde”, disse Torben. “Perdemos a oportunidade de promover um grande programa nacional de estímulo à atividade física. Para melhorar os níveis de saúde pública, combater o sedentarismo. O que mais lamento é perder a oportunidade de usar o esporte como elemento de promoção social”, afirma Lars, que atuou no governo na gestão de Fernando Henrique Cardoso.