Se não fosse suficiente o estrago que os quatro filhos do presidente causam ao governo, por suas ligações com malfeitos de toda ordem, de rachadinhas a acusações de enriquecimento ilícito, o clã Bolsonaro acaba de ganhar mais dois integrantes para o time que vem contaminando o País com sua filosofia antidemocrática e ações suspeitas de favorecimento. Carlos Eduardo Antunes Torres e Diego Torres Dourado, irmãos da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, vêm obtendo notoriedade no Distrito Federal, onde moram, pelo envolvimento com práticas pouco republicanas.

BENESSES O soldado Diego Torres recebeu aumento de 140% (Crédito:Divulgação)

Carlos Eduardo é o mais enrolado dos dois. Fotógrafo e editor terceirizado da Caixa Econômica Federal desde 2009, ele teve uma carreira meteórica dentro do banco público a partir da posse de Bolsonaro e com a proteção recebida da irmã. Em 2019, logo no início do governo do cunhado, Carlos Eduardo passou a ter o privilégio de acompanhar eventos ao lado dos principais executivos do órgão. No início deste ano, por exemplo, esteve ao lado do presidente da Caixa em uma live feita com o mandatário. Apesar de receber uma boa remuneração por meio de uma agência de publicidade que presta serviços à estatal, ele sacou o auxílio emergencial de R$ 3,6 mil do governo federal entre julho e dezembro de 2020, pago pela própria Caixa. Um dos requisitos para ter direito a essa ajuda durante a pandemia é ter renda familiar mensal de até R$ 3,3 mil. O salário do fotógrafo, porém, não foi divulgado pela instituição.

Ofensas ao STF

Entusiasta do presidente, o irmão de Michelle o ajudou a disseminar desinformação e maus exemplos na pandemia. Mesmo nesse período triste da história, com mais de meio milhão de pessoas mortas pela Covid, o irmão de Michelle fez questão de ir a uma motociata em apoio a Bolsonaro, sem usar máscara e desrespeitando o distanciamento. Nas redes sociais, o fotógrafo mostra simpatia pelas idéias golpistas de Bolsonaro. No Instagram, Torres apoiou o impeachment dos ministros do STF, como Gilmar Mendes e Alexandre de Morais, e chamou os dois de “canalhas” e “vagabundos”. Ele se diz também favorável ao voto impresso.

O fotógrafo já tentou entrar, de fato, para a carreira política. Em 2018, disputou as eleições para deputado no Distrito Federal. Era filiado ao PRP, partido que, à época, tinha lançado o então bolsonarista general Paulo Chagas ao governo. Ele chegou a subir em um trio elétrico com o ex-capitão em Ceilândia, cidade onde mora a família de Michelle. Em vários momentos da sua campanha, ostentou a credencial de “cunhado de Bolsonaro”, mas foi em vão: Torres não foi eleito.

AUXÍLIO Apesar de trabalhar para a Caixa, Eduardo sacou a ajuda emergencial

Outro irmão de Michelle, Diego Torres Dourado, foi agraciado neste ano com um cargo de confiança no Senado e recebeu um expressivo aumento de salário. Desde março, Diego ocupa a vaga de assistente parlamentar na 1ª Secretaria da Casa, controlada atualmente pelo senador Irajá (PSD-TO), e tem um salário mensal de R$ 13,5 mil. A secretaria onde ele trabalha é responsável por fiscalizar os atos administrativos do Senado. Antes disso, Diego, que é soldado da Aeronáutica, ocupava um cargo civil (e também de confiança) no Ministério da Defesa. Era assistente-técnico do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, com um contracheque de R$ 5,6 mil.

O soldado também se revela bastante alinhado à filosofia do mandatário. Em seus perfis nas redes sociais, ele exalta Bolsonaro em fotos ao seu lado, com destaque para almoços dos quais participa ao lado da irmã e do presidente. Além disso, ele faz diversas publicações com apologia à liberação das armas de fogo, uma bandeira de campanha bolsonarista. Apesar dos problemas que levam para o presidente, essa afinidade nas pautas conservadoras deram passe livre para os dois irmãos entrarem no Palácio do Alvorada quando bem entendem, ao contrário de outros parentes de Ceilândia que, no passado, se envolveram com o tráfico de drogas e que Michelle nem convida para os almoços de domingo.