22/09/2020 - 9:21
Quando Francisco Everardo Oliveira Silva elegeu-se deputado federal em 2010, com quase 1,4 milhão de votos (o mais votado naquela eleição), fiquei com a sensação de termos atingido o fundo do poço. Afinal, ao lado dele, elegia-se também, como presidente da República, uma certa Dilma Rousseff.
Porém, no fundo do poço do Brasil, há sempre um alçapão. Nunca desistimos de descer sempre mais. Se o céu é o limite para muitos, nem o inferno é o nosso piso. Dez anos depois, nosso presidente chama-se Jair Bolsonaro e oferece cloroquina às emas. Já seus filhos, Flávio e Eduardo, possuem outras manias.
Flávio, como todos sabem, é o campeão mundial de vendas de panetone em dinheiro vivo. Além disso, deve ser também o campeão mundial de depósitos fracionados. E, como se não bastasse, um dos maiores empregadores de funcionários-fantasma do Brasil. Com tantos predicados, foi eleito senador da República em 2018.
Seu irmão Eduardo, mais conhecido como bananinha, repetiu o feito do palhaço Tiririca – sim, Francisco Everardo Oliveira Silva é o Tiririca. Como curiosidade, Dudu Bananinha é o deputado federal mais votado da história. Atrás dele, outros “gênios da política”, respectivamente: Enéas Carneiro (1938-2007) e Celso Russomanno.
Percebam os caros leitores que, para se dar muito bem nas eleições, não precisa ser intelectual, ter um currículo invejável, possuir uma lista de realizações e serviços prestados à população e ao país. Basta saber fazer arminha com as mãos, berrar o próprio nome no horário eleitoral, estrelar um programa popular de TV e ser palhaço.
Flávio Bolsonaro fora intimado a comparecer, nesta segunda-feira (21), a uma acareação com seu ex-companheiro Paulo Marinho, que o acusa de ter recebido informações sigilosas de operações policiais. Em vez de atender à convocação judicial, preferiu participar de um “circo” na TV, em Manaus.
Ao seu lado, em vez de estar trabalhando para os eleitores de São Paulo, que lhe conferiram os mais de 1.5 milhão de votos, e respeitar o bolso de todos os brasileiros que lhe pagam o salário e as mordomias, seu irmão Eduardo, o bananinha, o fritador de hambúrguer que quase foi nomeado embaixador nos EUA.
Ambos participaram do programa do apresentador Sikêra Júnior, fenômeno de audiência, que produz um programa sensacionalista e pastelão, bem em linha com o que é a política brasileira. A palhaçada irá ao ar esta semana, mas Sikêra fez questão de antecipar o ponto alto do seu show de horrores:
Ele, os dois bolsokids e um figurante, trajando uma máscara de burro, cantavam e dançavam como verdadeiros palhaços que são. A letra: “Yoga, yoga, yoga… todo maconheiro dá o boga”. Pessoalmente, chorei de rir. Adoro este tipo de palhaçada e Sikêra é um craque! Não tenho qualquer preconceito sobre esse tipo de televisão.
Tampouco irei promover o discurso hipócrita sobre conotação sexual, homofobia, desprezo aos viciados etc. O programa, como já disse, é sensacionalista e pastelão. E é divertidíssimo, se querem saber. Mas ter dois políticos, filhos do presidente da República, sendo um deles um “fujão” da Justiça, aí não dá.
Um senador da República deveria dar o bom exemplo – já que o mau, as rachadinhas, ele deu – e se apresentar à Justiça. Além disso, ao lado do irmão deputado, deveria estar trabalhando, e não promovendo palhaçada na TV. Nunca é demais lembrar: era isso o que o papis Bolsonaro tentou emplacar na embaixada americana.
Não sei nem quero saber se todo maconheiro dá ou não o boga. Mas quero – e faço questão de saber – se Flávio Bolsonaro, bem como o papai-presidente, empregavam ou não funcionários-fantasma, em troca de grande parte dos salários destes. E quero saber, também, se Eduardo Bolsonaro está metido nas tretas das fake news.
Quem sabe Sikêra, com toda sua criatividade e originalidade, não inventa outras rimas? Poderiam ser: ado, ado, ado, todo Bolsonaro é investigado. Ou: inha, inha, inha, Flávio explique a rachadinha. Ou: é nóis, é nóis, é nóis, Micheque gosta do Queiroz. Afinal, humor e liberdade de expressão são para todos. Ou não?