Um jovem MC é assassinado com dois tiros em cima do palco na frente de milhares de fãs. O crime que aconteceu durante um show em Campinas, interior de São Paulo, é filmado e os vídeos viralizaram.

Dez anos depois, o assassinato continua impune, ainda não se sabe quem matou Daniel Pellegrini, o MC Daleste. Produzida pelo jornalismo da Globo, a série documental Original GloboplayMC Daleste – Mataram o Pobre Loco” já está disponível na plataforma e revela detalhes do fim trágico do funkeiro que virou lenda nas periferias do Brasil.

Em quatro episódios, que serão lançados em sequência, a produção conta a história do MC, se aprofunda na investigação do crime, além de percorrer a trajetória do funk ostentação em São Paulo. A série tem direção de Guilherme Belarmino e Eliane Scardovelli, que também assina o roteiro junto com Caio Cavechini.

A equipe do documentário teve acesso ao processo criminal, que tem quase mil páginas, e foi arquivado pela última vez em 2019. As linhas de investigação consideram desde o relacionamento de Daleste com namoradas de traficantes até uma possível participação da polícia.

“É um crime que chama muita atenção, até mesmo de pessoas que não gostam de funk, que não conheciam o Daleste. Foi chocante ver um jovem de 20 anos no auge da carreira ser baleado em pleno show. Ao longo dos quatro episódios da série, esmiuçamos a investigação e trazemos uma série de elementos que podem ter relação com o assassinato dele”, explicou Eliane Scardovelli.

Dona de fã clube do MC Daleste guarda lembranças do artista em sua residência
Dona de fã clube do MC Daleste guarda lembranças do artista em sua residência (Crédito:Divulgação/Globo)

“A impunidade do assassinato de MC Daleste é um retrato do descaso do país com a população da periferia. Infelizmente, ele é um entre milhares de jovens mortos sem que suas famílias tenham respostas. Dez anos depois, os fãs não esqueceram MC Daleste e querem justiça. Nós, jornalistas, temos esse papel de ouvi-los e de cobrar as autoridades”, comentou Guilherme Belarmino.

“Reviver tudo isso é difícil, mas sei que o propósito disso é maior ainda”

Nesta sexta-feira, 23, Carol, irmã de MC Daleste, esteve no “Encontro com Patrícia Poeta” e falou sobre o lançamento do documentário e sobre a falta de respostas sobre a morte do jovem.

“O maior propósito é solucionar o crime. A gente não está atrás de vingança, a gente só quer justiça, que é direito de todo ser humano, o mínimo. E o descaso foi demais”, comentou Carol.

Na atração, Carol lembrou um momento que foi revelado no documentário. A irmã de Daleste disse que ele teve uma premonição de sua própria morte. Carol disse que família estava assistindo a série “O Canto da Sereia”, da Globo. No último capítulo, a personagem de Isis Valverde é alvejada por tiros durante um show. A série foi ao ar poucos meses antes do funkeiro ser assassinado.

Quando ele tomou um tiro, ele ainda não era famoso. Mas estávamos assistindo a série e ele vira para a família toda e fala: ‘eu vou morrer assim, eu vou abrir os braços e vou tomar um tiro’. Isso ficou gravado na minha mente”, desabafou. 

Carol cobrou respostas pela morte do irmã. Ela diz que a polícia não soube dar informações sobre o crime e espera que alguma solução venha com o lançamento do documentário. “Eu não sei o calibre da bala que matou meu irmão, eles não tiveram a capacidade de me responder isso”, lamentou.

“Ele me chamava de ‘irmãe’. A dor que eu tenho hoje é de mãe. Como se eu não tivesse perdido um irmão, mas como se eu tivesse perdido um filho”, disse

Ela cobrou respostas pela morte do irmão e disse que a polícia não soube dar informações sobre o crime e espera que alguma solução venha com o lançamento do documentário.

“Eu não sei o calibre da bala que matou meu irmão, eles não tiveram a capacidade de me responder isso”, lamentou ela.

A história do funk ostentação

A série traz depoimentos exclusivos de testemunhas, do delegado do caso, do irmão e da irmã de Daleste, além de artistas como Glória Groove, MC Livinho, MC Hariel, entre outros.

Em homenagem ao funkeiro, Glória Groove usou o refrão de “Quem é”, sucesso do MC, na canção “Vermelho”, que entrou na lista das músicas mais ouvidas do país. A produção também mostra as transformações que o movimento passou na última década.

Em 2013, no auge do funk ostentação, surgiram os “rolezinhos” nos shoppings de São Paulo, encontros que reuniam centenas de jovens de periferia.

Assista ao trailer: 

“O funk ostentação hoje virou uma indústria. Talvez seja o único estilo musical que consegue se aproximar do sertanejo no número de plays, views etc. A série mostra o contraste entre essa realidade de hoje e a da época de Daleste, que gravava com a voz baixinha dentro de uma Lan House para não atrapalhar os outros frequentadores. É uma voz da periferia que começa assim mesmo, baixinha, e logo está no Brasil todo – e até hoje. Milhares de pessoas cantaram um refrão dele no último The Town”, afirma Caio Cavechini.