SÃO PAULO, 5 NOV (ANSA) – Por Luciana Ribeiro – A irmã de Jéssica Stappazzollo, brasileira morta com 27 facadas pelo companheiro em Castelnuovo del Garda, na Itália, denunciou um suposto descaso da polícia local antes e depois do feminicídio, que chocou o país europeu pela extrema brutalidade.
Jéssica foi assassinada pelo também brasileiro Douglas Reis Pedroso no fim de outubro, em um caso que reacendeu o debate sobre a proteção às mulheres em situação de risco e sobre a atuação das autoridades diante de alertas de violência doméstica.
Em entrevista à ANSA, Laiza Stappazzollo afirmou ter sido atacada por Pedroso em 28 de dezembro de 2024, quando ele tentou arrancar a roupa dela e foi impedido pelo namorado da jovem.
Após fugir, Laisa decidiu acionar a polícia, a quem também relatou episódios de violência do homem contra Jéssica.
“Eu denunciei ele por mim e por ela também, mas não funcionou. Não fizeram nada. Estávamos esperando uma decisão judicial em setembro, mas isso nunca aconteceu”, contou.
Apesar da denúncia, Pedroso não foi preso e continuou agredindo Jéssica com frequência, segundo o relato da irmã, que acusou a polícia de se mostrar insensível diante do sofrimento da família.
“Os agentes entraram na casa da minha mãe às 5h da manhã, disseram ‘sua filha está morta’ e foram embora. Minha mãe quase sofreu um AVC”, relatou. Laiza também contou que recebeu um telefonema de policiais “aos gritos” para ela ir até a delegacia.
A jovem de 22 anos recordou momentos marcantes ao lado de Jéssica, 33, que sempre fez de tudo por ela e a tratava como uma filha, mesmo tendo duas crianças pequenas: um menino entre 11 e 12 anos e uma menina de nove.
Segundo Laiza, a irmã já não tinha mais forças nem cabeça para denunciar Pedroso e acabou permanecendo na casa onde ambos moravam, pois não tinha outro lugar para ir, apesar de ter avisado a todos que já havia alugado um quarto.
“Na nossa cabeça, ela estava bem, trabalhando normalmente, mas ela ainda estava na casa com ele”, enfatizou. Diante da tragédia, a família lançou uma campanha de arrecadação online para custear a repatriação do corpo de Jéssica para o Brasil.
“O pai da Jéssica [as duas eram irmãs por parte de mãe], que mora no Brasil e também está aqui, não queria ir embora sem ela.
Decidimos fazer o funeral na Itália e depois levar o corpo para o Brasil”, explicou Laiza.
Segundo ela, se os restos mortais fossem cremados na Itália, o custo seria de apenas 25 euros (R$ 154), mas como a família paterna deseja enterrar o corpo em Içara, cidade natal de Jéssica em Santa Catarina, será necessário desembolsar aproximadamente R$ 60 mil.
“Agora estou tentando fazer algo para mudar a lei. Não dá para ficar parada, porque minha irmã morreu há apenas uma semana e, há dois dias, outra garota de 13 anos também morreu. Duas vítimas de feminicídio”, ressaltou Laiza. (ANSA).