Um Mariam, parteira no sul do Iraque, costuma atender suas pacientes em casa. Com o novo coronavírus, seu trabalho mais que dobrou, pois muitas grávidas temem ir ao hospital.

Em sua cidade de Kut, como em outras partes do país, os hospitais estão começando a superlotar e oficialmente mais de 3.000 profissionais de saúde já foram contaminados.

“Muitas mulheres preferem dar à luz comigo porque têm medo”, contou à AFP.

Em um país que até os anos 80 se orgulhava de ter um dos melhores sistemas de saúde do Oriente Médio, gratuito para todos, os hospitais públicos agora são abomináveis.

– Conta exorbitante –

Com equipamentos desatualizados, funcionários mal treinados, edifícios em ruínas e um orçamento inferior a 20%, os hospitais públicos competem há anos com clínicas particulares.

Especialmente diante da COVID-19, que já contagiou quase 130.000 iraquianos e matou 5.000.

Mayce, 29 anos, deve dar à luz seu primeiro filho em algumas semanas.

Normalmente, ela seria atendida em um hospital público, por um preço simbólico.

“Mas por medo do coronavírus, meu ginecologista me aconselhou uma clínica particular”, diz ela.

A conta é exorbitante: quase 1.300 euros (cerca de 1.500 dólares), “minhas amigas fazem o mesmo porque os serviços de obstetrícia também cuidam de pacientes com coronavírus”.

– Clínicas superlotadas –

Os números são altos também em clínicas particulares.

“Todos os dias, 200 pacientes chegam, principalmente para cirurgias”, diz um médico de uma clínica de Kut, sob anonimato.

Em Kirkuk, ao norte de Bagdá, o Dr. Kilan Ahmed também está sobrecarregado em sua clínica em Azadi. “Pessoas com doenças cardíacas, diabetes ou que precisam de diálise têm imunidade fraca e preferem evitar hospitais públicos”, explica ele.

Em Bagdá, Abu Karar, de 32 anos, prefere ir a centros particulares para tratar seu filho de cinco anos, Hossam, que parece anêmico.

“É difícil pagar pelas consultas e remédios, mas é melhor que o risco de infectar meu filho em um hospital público”, explica.

Poucas são as famílias que podem pagar tal quantia no Iraque, onde a taxa de pobreza já era de 20% antes da pandemia.

– Autodiagnóstico –

Para fugir dos hospitais, muitos procuram os farmacêuticos.

“90% dos meus clientes descrevem sua dor para que eu possa receitar um remédio porque não consultaram um médico antes de vir”, afirmou um farmacêutico, sob anonimato.

Muitos iraquianos com COVID-19 optam por ficar em casa em um país que possui, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 14 leitos hospitalares para cada 10.000 habitantes.

A fábrica estatal de balões de oxigênio medicinal em Taji, perto de Bagdá, precisou aumentar a produção. “Todos os dias produzimos entre 1.000 e 1.500 unidades para hospitais e outros cem para distribuição domiciliar”, explica Ahmed Abdel Mutlak, número dois na fábrica.

Mas no Iraque, onde a corrupção reina e a indústria farmacêutica é pouco fiscalizada, os preços dispararam.

O balão de oxigênio, a vitamina C e suplementos minerais chegam a custar o triplo.

Muitos preferem esses tratamentos improvisados, que, segundo eles, valem mais a pena do que enfrentar os hospitais.