As forças iraquianas iniciaram nesta segunda-feira a ofensiva para reconquistar a cidade de Mossul, a segunda mais importante do país e reduto do grupo Estado Islâmico (EI) no Iraque, uma batalha que o governo dos Estados Unidos considera decisiva na luta contra os extremistas.

Após o anúncio do início da ofensiva, a ONU expressou uma profunda preocupação com a segurança de 1,5 milhão de civis que vivem em Mossul, cidade isolada do mundo.

“Algumas famílias enfrentam um risco extremo de ficar no meio do fogo cruzado ou de se tornarem alvos de franco-atiradores”, advertiu o vice-secretário-geral para Assuntos Humanitários e Assistência de Emergência da ONU, Stephen O’Brien.

O primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, anunciou o início da operação em um discurso exibido na televisão.

“O tempo da vitória chegou e as operações para libertar Mossul começaram”, declarou o chefe de Governo.

“Hoje declaro o início das operações vitoriosas para libertá-los da violência e do terrorismo do Daesh”, acrônimo árabe de Estado Islâmico (EI), completou Abadi, em uma frase dirigida aos moradores da região de Mossul.

Após o anúncio, uma coluna de veículos blindados iniciou o avanço para Mossul, a partir de uma posição a 45 km da grande cidade do norte do Iraque.

Mossul, que fica às margens do rio Tigre e que tem população majoritariamente sunita, caiu em poder do Estado Islâmico em 9 junho de 2014.

Em 29 de junho de 2014, o líder do EI, Abu Bakr al-Baghdadi, proclamou na grande mesquita de Mossul o Califado Islâmico nos territórios conquistados pelos extremistas no Iraque e na Síria durante campanhas relâmpago em 2014 e 2015.

O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Ashton Carter, afirmou que as operações para recuperar Mossul são fundamentais para derrotar o Estado Islâmico.

“Este é um momento decisivo para infligir uma derrota duradoura ao EI”, destacou Carter em um comunicado.

“Confiamos que nossos aliados iraquianos conseguirão impor-se ao nosso inimigo comum e libertarão Mossul e o resto do Iraque do ódio e da brutalidade do EI”.

O Pentágono considerou um sucesso o primeiro dia das operações.

“Por enquanto, o primeiro dia transcorreu conforme o previsto”, indicou o porta-voz do Pentágono, Peter Cook, em coletiva de imprensa. “No meio do dia, forças iraquianas quase tinham alcançado seu objetivo do dia”, declarou.

Uma longa batalha

O primeiro-ministro Al-Abadi não revelou detalhes sobre as operações militares iniciadas na madrugada de domingo para segunda-feira, mas de acordo com analistas a primeira etapa consistirá, antes dos combates nas ruas, em cercar completamente a cidade.

Os jihadistas em Mossul, entre 3.500 e 4.000, estão fortemente armados e tiveram tempo suficiente para preparar a defesa da cidade.

A ofensiva pode demorar semanas, ou até mais, de acordo com o comandante da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, o tenente-general americano Stephen Townsend.

“A batalha se anuncia longa e difícil, mas os iraquianos se prepararam e nós estaremos a seu lado”, completou.

Al-Abadi explicou no discurso que apenas o exército e a polícia iraquianos entrarão em Mossul, apesar de numerosas forças de segurança participarem na ofensiva, incluindo peshmergas curdos e milícias sunitas e xiitas.

Os sunitas, minoria em um Iraque de maioria xiita, temem as consequências da entrada na cidade das milícias paramilitares xiitas Hachd al-Shaabi (Unidades de Mobilização Popular), apoiadas pelo Irã.

Milhares de combatentes curdos iraquianos avançavam nesta segunda-feira em direção a localidades controladas pelo EI ao leste de Mossul.

A coalizão internacional chefiada pelos Estados Unidos oferece cobertura aérea e apoio terrestre através de conselheiros e forças especiais.

Em preparação à ofensiva, a Força Aérea iraquiana lançou dezenas de milhares de panfletos sobre Mossul, anunciando as operações e dando instruções de segurança para os moradores.

Previsto deslocamento em massa da população

Um deslocamento em massa da população pode ter início daqui a uma semana em Mossul, advertiu a ONU nesta segunda-feira, horas após o anúncio do início da operação iraquiana.

A coordenadora da ONU para o Iraque, Lise Grande, disse que “esperamos, baseando-nos no que nos disse o exército (iraquiano), que se ocorrem importantes deslocamentos da população, isto ocorrerá daqui a cinco ou seis dias”.

Grande, que se dirigiu por Skype a jornalistas em Erbil, capital da região autônoma do Curdistão iraquiano, acrescentou que se trabalha a partir de uma hipótese de 200.000 deslocados “nas primeiras duas semanas”, embora a cifra possa aumentar.

“No pior dos casos, vamos literalmente rumo à maior operação humanitária no mundo em 2016”, advertiu anteriormente.

Paris terá reunião sobre Mossul em 25 de outubro

Vários ministros da Defesa da coalizão internacional que combate o grupo Estado Islâmico (EI) se reunirão em 25 de outubro, em Paris, para fazer um balanço da ofensiva em Mossul, informou nesta segunda-feira o ministério francês.

Uma dezena de ministros, entre eles o secretário de Defesa americano, Ashton Carter, serão recebidos pelo contraparte francês, Jean-Yves Le Drian, informou a assessoria deste último.

Além dos ministros de Canadá, Austrália e Nova Zelândia, outros oito europeus (Grã-Bretanha, Alemanha, Bélgica, Holanda, Itália, Espanha, Noruega e Dinamarca) estarão presentes.

A coalizão conta com a participação de 60 países, incluindo árabes e asiáticos, com um nível de compromisso muito variável.

Os ministros da Defesa da coalizão contra o EI já se reuniram quatro vezes este ano, em janeiro em Paris, em fevereiro em Bruxelas, em maio em Stuttgart (Alemanha) e em julho em Washington.