14/01/2021 - 19:14
Autoridades iranianas estão treinando militares na Venezuela “para controlar a sociedade venezuelana”, denunciou nesta quinta-feira (14) o diretor-executivo da ONG Instituto Casla perante autoridades da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da União Europeia (UE).
Em coletiva de imprensa organizada pelo gabinete do Secretário-Geral da OEA, Luis Almagro, e da qual participou também a Vice-Presidente do Parlamento Europeu Dita Charanzova, Tamara Suju destacou a presença de iranianos “ativamente” envolvidos em cursos de formação para venezuelanos no complexo militar Fuerte Tiuna em Caracas.
“A informação obtida pelo Instituto Casla é de que funcionários iranianos trabalham na chamada Escola de Operações Psicológicas que fica em Fort Tiuna”, disse Suju, advogado venezuelano que dirige o Instituto Centro de Estudos Latino-Americanos (Casla), com sede na República Tcheca.
“É uma escola de treinamento para oficiais, onde eles são treinados ideologicamente sobre como podem ser as operações psicológicas para controlar a sociedade venezuelana”, explicou.
“Esses cursos duram um ano e seis meses, e metade do curso é ministrado por funcionários cubanos e por funcionários iranianos”, acrescentou.
Em mais de 20 anos de governos chavistas, Caracas manteve relações estreitas com Havana e Teerã.
Na videoconferência promovida pela OEA, Suju apresentou o último relatório do Instituto Casla sobre a Venezuela, que desde 2018 acusa o governo de Nicolás Maduro de cometer crimes contra a humanidade com a colaboração de autoridades cubanas.
Choques elétricos nos seios e genitais, afogamento em água suja, martelamento das unhas, asfixia com saco plástico com fezes, permanências em celas estreitas sem luz natural e com ar viciado: Suju detalhou o tratamento recebido pelos oponentes de Maduro detidos nas prisões venezuelanas, segundo testemunhos recolhidos por Casla.
“2020 foi sem dúvida um ano em que o regime venezuelano aproveitou para avançar no exercício do controle social por meio da repressão e da manipulação”, afirmou.
Segundo a ONG de direitos humanos Foro Penal, há 350 “presos políticos” na Venezuela.
– “Dupla moral” –
Almagro disse que, de acordo com as investigações da OEA, desde 2014 na Venezuela foram identificadas 18.093 execuções extrajudiciais por forças de segurança e grupos ligados ao governo, 15.501 casos de detenções arbitrárias e 653 casos de tortura desde 2014, além de 724 casos de desaparecimento forçado em 2018 e 2019.
“Esses crimes não prescrevem”, assegurou, e pediu o fim da “cumplicidade com as ditaduras venezuelana e cubana” na comunidade internacional.
“A falta de justiça para os crimes contra a humanidade na Venezuela não é um problema por falta de provas, mas pela duplicidade de critérios que existe no sistema multilateral”, disse ele, sem dar exemplos concretos.
Almagro questionou em dezembro a “lentidão” do exame preliminar que a ação penal do Tribunal Penal Internacional realiza desde fevereiro de 2018 contra a Venezuela, o que segundo ele incentiva a impunidade.
O vice-presidente da UE destacou o trabalho de Casla e também pediu ao TPI que abrisse uma investigação sobre a Venezuela.
“Maduro está cada vez mais perto do poder absoluto”, alertou.
Charanzova disse que no debate sobre a Venezuela na próxima terça-feira no Parlamento Europeu irá insistir que a UE deve continuar a reconhecer o líder da oposição venezuelana Juan Guaidó e a Assembleia Nacional eleita em 2015 como as únicas autoridades legítimas.
“Nasci sob o regime comunista na República Tcheca e lembro como foi importante para meu país ter o apoio da comunidade internacional. E é isso que temos que fazer agora”, disse ele.
Maduro considerou como “mentiras” as denúncias de violações dos direitos humanos cometidas por seu governo ou aliados próximos.