O regime teocrático do Irã, liderado pelo aiatolá Ali Khamenei, enfrenta sua mais profunda crise nos últimos dez anos. Desde 28 de dezembro, milhares de trabalhadores foram às ruas para protestar contra a corrupção, o aumento dos preços de produtos básicos e a escalada do desemprego, que já afeta cerca de 12% da população e alcança taxas de 30% entre os mais jovens. O movimento ganhou força e o discurso dos manifestantes evoluiu para a crítica direta ao regime, com pedidos para que o líder supremo renuncie. O governo reagiu com violência. Mais de mil pessoas foram presas e pelo menos 22 morreram, incluindo uma criança.

O Irã não enfrentava um momento de tamanha agitação popular desde 2009, quando houve uma série de manifestações contra a reeleição do ex-presidente Mahmoud Ahmadinejad. Para conter os protestos, o aiatolá Khamenei veio a público na semana passada e, numa declaração apresentada na TV estatal, atribuiu a crise à interferência externa dos “inimigos do Irã”, numa mensagem clara aos Estados Unidos, Israel e Arábia Saudita. “Eles usaram diferentes ferramentas como dinheiro, armas, política e aparato de inteligência para criar problemas”, afirmou. Nos dias seguintes às declarações de Khamenei, várias manifestações pró-governo pipocaram no país. A televisão estatal transmitiu ao vivo passeatas nas cidades de Kermanshah, Ilam e Gorgan em que os manifestantes portavam bandeiras do Irã e fotos do aiatolá. “O governo controla todas as mesquitas e tem grande poder de mobilização popular”, diz o professor de relações internacionais Renatho Costa, especialista em Oriente Médio da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), com o conhecimento de quem já morou no Irã.

REAÇÃO Apoiadores de Ali Khamenei vão às ruas: ele afirma que os protestos foram causados por “inimigos do Irã” (Crédito:MOHAMMAD ALI MARIZAD)

RESULTADOS PÍFIOS

A política reformista promovida pelo atual presidente Hassan Rouhani tem sido questionada por apresentar resultados pífios. Rouhani atribui o agravamento da crise econômica à decisão unilateral de Donald Trump de rever o acordo nuclear assinado em 2015 por Barack Obama. Com isso, o Irã sofre sanções que afetam seu desempenho econômico. Mas não é só. Um dos maiores produtores de petróleo do mundo, o Irã também sofre com os baixos preços do produto. Trump entrou no debate apoiando os protestos e declarou pelo Twitter: “o povo do Irã está finalmente agindo contra o regime brutal e corrupto”. Ainda que os iranianos tenham ido às ruas, é cedo para avaliar que tipo de mudanças essa revolta trará. “Há uma parcela pequena da população que está descontente e a tendência é que haja um apaziguamento dos ânimos”, afirma o professor Renatho Costa.

Mais de mil pessoas foram presas e pelo
menos 22 morreram, incluindo uma criança