Nos últimos dias, muitas iranianas saíram às ruas sem véu, aos gritos de “Liberdade!”, em protesto pela morte da jovem Mahsa Amini após sua detenção. Fora do Irã, suas compatriotas da diáspora também apoiam sua revolta.

Várias pessoas morreram nas manifestações que eclodiram no Irã depois que as autoridades anunciaram o falecimento de Mahsa, de 22 anos, em 16 de setembro, depois de ser presa por “usar roupas inadequadas”. Ela foi detida pela polícia moral, responsável por aplicar e fazer cumprir o rigoroso código de vestimenta na República Islâmica.

“Foi a Teerã para visitar sua família. Podia ter sido eu, minha irmã, ou minhas primas”, disse à AFP Sara, de 48 anos, pseudônimo usado por motivos de segurança por essa mulher de origem iraniana e professora na França.

“Ela nem era uma ativista, apenas uma jovem tão normal quanto eu”, completou.

Segundo Azadeh Kian, professor de sociologia da Universidade de Paris Cité e especialista em Irã, “o inédito nessas manifestações é que as mulheres estão em primeiro plano”.

“As mulheres participaram do movimento de 2009”, recorda ele, destacando, no entanto, que, desde 2017, “os movimentos de protesto tinham como reivindicações a crise econômica, o desemprego, o bloqueio político, etc… Mas desta vez se ouvem protestos não apenas contra a situação geral do país, mas também pelos direitos das mulheres. É uma mudança importante”, detalha.

Em muitos dos vídeos divulgados nas redes sociais, vê-se várias mulheres tirando o véu e deixando o cabelo exposto.

As mulheres, especialmente no Curdistão iraniano, “queimaram seus véus em protesto contra os fundamentos ideológicos do regime islâmico. É muito forte”, ressalta Kian.

– Rumores de violência –

“Não tenho palavras (para explicar o que sinto)”, diz à AFP Mona (também de nome alterado), uma pesquisadora iraniana de 40 anos.

“Não consigo analisar a situação neste momento, meu cérebro está bloqueado. Muitas pessoas que conheço estão agora na cadeia”, continuou.

Com emoção, Sara se lembra de ter tido “muito medo”, ao ser detida pela polícia moral quando tinha 30 e poucos anos e estava de férias no Irã. Ela conta que esteve no mesmo centro de detenção que Mahsa. Sara foi acusada de “não usar meias” e de estar de calças “muito curtas”.

No Irã, as mulheres devem cobrir os cabelos. Também são proibidas de usarem casacos acima dos joelhos, calças justas, jeans rasgados, ou roupas de cores vivas.

Levada em um micro-ônibus para o centro de detenção, Sara foi conduzida para um porão, onde havia outras mulheres.

“Estava apavorada, porque tinha ouvido rumores de violência”, recorda-se.

Sua mãe enfim conseguiu buscá-la por volta da meia-noite, mas teve de deixar sua carteira de identidade. Recuperou o documento depois que Sara fez um curso de “correção de comportamento” que durou várias horas.

– Entre raiva e alegria –

Em Nova York, durante uma manifestação do lado de fora da ONU na quarta-feira, outra iraniana, uma profissional de saúde de 44 anos, que se apresentou sob o pseudônimo de Fereshteh, disse que as mulheres no Irã “atearam fogo em seus véus diante da polícia, porque não conseguem mais suportar esse regime de loucos”, comentou.

Saeideh Mirzaei, de 38, estudante de doutorado na Universidade de Manitoba, no Canadá, está dividida entre a “raiva” e a “alegria”.

“Esperamos muito tempo (para reagir)”, avalia.

Ela coorganizou várias manifestações em Winnipeg nos últimos dias e promete continuar, “enquanto as pessoas estiverem nas ruas no Irã”.

Azadeh – também um pseudônimo -, de 63 anos, protestou na terça-feira em Genebra, em frente à sede das Nações Unidas.

“Sentimos raiva e não podemos controlá-la”, reage, emocionada, pensando “em sua família no Irã”.

“O véu não deve ser obrigatório, tem que ser livre”, defende.