Os iranianos votam nesta sexta-feira (18), sem grande entusiasmo, para escolher um novo presidente, em um processo que tem o ultraconservador Ebrahim Raisi como grande favorito.

O guia supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, emitiu em Teerã o primeiro voto e iniciou a votação. Ele convocou os quase 60 milhões de eleitores a cumprir com seu “dever cívico” o mais cedo possível.

Em um local de votação instalado na mesquita Lorzadeh em Teerã era possível observar uma fila sob um retrato do general iraniano Qasem Suleimani, que morreu em um ataque dos Estados Unidos no Iraque em janeiro de 2020.

Na mesquita Hosseiniyeh-Ershad, uma família exibia cartazes com lemas ultraconservadores: “Oh Guia, estamos dispostos a sacrificar nossas vidas”, “Israel em breve será apagado do mapa”.

Após três semanas de campanha apática, as autoridades decidiram ampliar o horário de votação até meia-noite (16H30 de Brasília), que pode ser ampliado por mais duas horas, com o objetivo de obter a maior taxa de comparecimento possível. Os resultados devem ser divulgados no sábado.

De acordo com as poucas pesquisas divulgadas, o nível de abstenção pode registrar um resultado inédito e superar o recorde de 57%.

Os reduzidos cartazes eleitorais observados na capital Teerã mostram o rosto austero de Raisi com seu habitual turbante negro.

Diante dos apelos nas redes sociais por um boicote da votação, Khamenei convocou na quarta-feira os compatriotas a participar em grande número da votação para a eleição de um “presidente forte”.

O ultraconservador Raisi, de 60 anos e que comanda a Autoridade Judicial, não tem rivais de peso após o veto de seus principais adversários políticos.

Em maio, o Conselho de Guardiães da Constituição, órgão não eleito responsável por controlar as eleições presidenciais, autorizou a a candidatura de sete homens entre 600 candidatos.

Mas apenas quatro permaneceram na disputa, depois que três desistiram de participar na quarta-feira. E dois deles pediram votos para Raisi.

– “Forma de protesto” –

Os rivais são um deputado relativamente desconhecido, Amirhosein Ghazizadeh-Hachémi; um ex-comandante da Guarda Revolucionária, o general Mohsen Rezai, e um tecnocrata, Abdolnaser Hemati, ex-presidente do Banco Central.

Este último é considerado o único reformista na disputa.

“Eu amo meu país, mas não aceito estes candidatos”, declarou à AFP Abolfazi, um ferreiro de 60 anos que defendeu a Revolução Islâmica de 1979, mas que atualmente se declara decepcionado com as opções políticas.

Uma opinião ouvida com frequência nas ruas é a de que a eleição foi decidida de antemão, além de ter sido organizada para assegurar a vitória de Raisi, algo que as autoridades negam.

Funcionária do setor privado, Maryam afirmou que não vai votarr. “É uma forma de protesto”, explica.

O presidente tem prerrogativas limitadas no Irã, onde o poder real está nas mãos do guia supremo, Ali Khamenei.

O atual presidente, o moderado Hassan Rohani, não pode disputar novamente a eleição, após dois mandatos consecutivos de quatro anos.

Sua gestão foi prejudicada pelo golpe a sua política de abertura provocado pela saída dos Estados Unidos, em 2018, do acordo nuclear assinado três anos antes.

– Descontentamento –

O descontentamento e a rejeição às autoridades são cada vez maiores diante da grave crise econômica e social provocada pelo retorno das sanções americanas após a retirada de Washington do acordo de Viena, uma decisão do então presidente Donald Trump.

Entre o fim de 2017 e o início de 2018 e depois em novembro de 2019 o Irã registrou duas ondas de protestos por reivindicações socioeconômicas dos setores populares, e ambas foram violentamente reprimidas.

Para a oposição no exílio e as ONGs, Raisi é a encarnação da repressão e seu nome está associado às execuções de detidos de esquerda em 1988. Ele nega qualquer participação.

A prioridade do próximo presidente será a recuperação econômica.

Neste ponto, todos os candidatos concordam com a necessidade da suspensão das sanções americanas, medida que é objeto de negociações na capital austríaca para salvar o acordo de Viena e reintegrar os Estados Unidos.