O Irã ainda pode sonhar com uma inédita vaga nas oitavas de final da Copa do Mundo do Catar após a vitória por 2 a 0 sobre o País de Gales nesta sexta-feira (25), em Doha, em jogo do Grupo B que abriu a segunda rodada do torneio.

Apesar da menor posse de bola, os iranianos criaram mais chances de gol, mandando duas bolas na trave. Mas os gols só vieram nos acréscimos por meio de Roozbeh Cheshmi (90+8) e Ramin Rezaeian (90+11), enquanto os galeses ficaram reduzidos a 10 em campo após a expulsão do goleiro Hennessey, que levou o primeiro cartão vermelho da competição por uma entrada dura em Mehdi Taremi.

A preparação para o confronto foi marcada pelo comportamento dos jogadores iranianos durante o hino nacional, quando se recusaram a cantar na estreia, um gesto interpretado como um protesto contra a dura repressão das manifestações em curso em seu país.

Na partida dessa sexta-feira, o elenco cantou o hino enquanto os assobios voltaram a ser ouvidos nas arquibancadas.

Quando a bola começou a rolar, a postura do time do técnico português Carlos Queiroz foi radicalmente diferente daquela mostrada no confronto anterior contra a Inglaterra, em que perderam pelo placar elástico de 6 a 2.

A seleção teve um gol anulado já aos 16 minutos do primeiro tempo, em um lance em que Connor Roberts deu um passe errado para o meio de campo, abrindo espaço para uma tabela entre Sardar Azmoun e Ali Gholizadeh, que chutou para o gol.

Sem jogar um Mundial desde 1958, o País de Gales não conseguiu se soltar na partida, vendo em Aaron Ramsey a única opção para tentar movimentar o meio de campo buscando uma ligação com Gareth Bale, que acabou ficando isolado no ataque.

“Estamos arrasados. Não há outra maneira de dizer isso”, disse o atacante à BBC. “Lutamos até o último segundo. É uma daquelas coisas difíceis de aceitar, mas temos de nos recuperar e tentar de novo”, completou.

O resultado garantiu os três pontos para o Irã e o segundo lugar provisório em seu grupo. Já a seleção galesa, com um ponto, precisa buscar uma vitória contra a Inglaterra na próxima terça-feira (29) para manter vivo o sonho da classificação inédita às oitavas de final da competição.

– “Voltamos ao futebol” –

A participação do Irã no Mundial está rodeada de protestos que vêm ocorrendo há semanas no país, desencadeados pela morte da jovem Mahsa Amini quando ela estava sob custódia policial por suposta violação do código de vestimenta das mulheres.

Um fotógrafo da AFP notou várias bandeiras com a inscrição “Woman Life Freedom” (o slogan do protesto) nas arquibancadas, levantadas por torcedoras vestidas com as cores do Irã.

Os jogadores e a comissão técnica da seleção, incluindo Carlos Queiroz, se abraçaram em campo após o apito final, comemorando ao som do canto de sua torcida.

“Graças aos nossos torcedores, eles sempre nos ajudaram”, disse o atacante Mehdi Taremi. “Precisamos desses fãs para nos apoiar como sempre (…) Mesmo aqueles que estão no Irã na frente da TV, precisamos de sua energia positiva”, comemorou.

“Temos um sonho e queremos dar uma oportunidade a esse sonho”, afirmou.

“Acho que foi um dia maravilhoso para nós”, concordou Queiroz. “Voltamos ao futebol e não tenho palavras para agradecer aos nossos jogadores. Eles merecem toda atenção e respeito”, completou.

– O cerco iraniano –

A seleção do Irã começou pressionando no segundo tempo e logo colocou duas bolas na trave. A primeira, em uma investida de Sardar Azmoun que parou na trave esquerda, a segunda, logo em seguida após Gholizadeh aproveitar a sobra e carimbar a trave oposta.

A pressão iraniana acabou sendo intensificada nos minutos finais, quando o goleiro Wayne Hennessey foi expulso por uma entrada dura em Mehdi Taremi.

No lance, o jogador acertou o pescoço do atacante com a perna e viu primeiro um cartão amarelo do árbitro guatemalteco Mario Escobar, que alterou a decisão após revisar o lance no VAR e aplicou a primeira expulsão do Mundial do Catar.

Os torcedores galeses, superados pelos iranianos ao longo do jogo, não puderam nem mesmo recorrer ao seu salvador Gareth Bale.

O jogador do Los Angeles FC foi autor do único gol marcado pela sua seleção em Copas do Mundo, mas não abriu o marcador para seu país e ainda viu o Irã superar sua defesa nos acréscimos (90+8) com um poderoso chute de fora da área de Rouzbeh Cheshmi, deixando o goleiro Danny Ward sem chances de salvar.

Com a festa nas arquibancadas, a zaga galesa abriu espaço e Ramin Rezaeian aumentou o placar para 2 a 0 (90+11), na primeira vitória do Irã contra uma seleção europeia em uma Copa do Mundo.

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