04/09/2019 - 10:46
O presidente do Irã, Hasan Rohani, ordenou nesta quarta-feira (4) eliminar todos os limites para a pesquisa e o desenvolvimento do setor nuclear, um novo passo que reduz os compromissos adotados com a comunidade internacional em 2015.
Isso representa a “terceira fase” do plano de redução de compromissos iranianos no tema nuclear, lembrou o mandatário, desafiando a política de sanções dos Estados Unidos.
“A organização de energia nuclear (iraniana) tem ordens de adotar todas as medidas necessárias em matéria de pesquisa e desenvolvimento e de abandonar todos os compromissos atuais neste campo”, declarou Rohani à emissora pública.
O Irã e três países europeus – Reino Unido, França e Alemanha – discutem há alguns dias as formas para salvar o acordo internacional de 2015 sobre o programa nuclear iraniano, ameaçado desde que o governo dos Estados Unidos se retirou unilateralmente do pacto em maio de 2018.
Os esforços foram liderados pelo presidente francês, Emmanuel Macron, que tenta convencer Washington a conceder a Teerã algum tipo de alívio das sanções impostas desde que abandonou o acordo.
O presidente iraniano disse mais cedo que as partes estão próximas de um acordo sobre a maneira de resolver alguns pontos delicados.
“Se, no passado, estávamos em desacordo sobre 20 temas com os europeus, hoje há três temas. Muitos foram resolvidos, mas não alcançamos um acordo final”, afirmou.
Mas Washington descartou, nesta quarta, conceder dispensas para permitir uma linha de crédito para Teerã, no âmbito de uma proposta feita pela França.
Além disso, o Tesouro americano sancionou uma rede de transporte marítimo que seria dirigida pela Guarda Revolucionária, afirmando que esta estrutura permitiu a venda de milhões de barris de petróleo em benefício do presidente sírio, Bashar al Assad.
Em sua política de sanções e acenos, o presidente Donald Trump reiterou que não se importaria de se reunir com Rohani na próxima Assembleia Geral da ONU, em Nova York.
– ‘Acelerar os processos’ –
Após a saída dos Estados Unidos do acordo de 2015, que oferecia a Teerã uma suspensão parcial das sanções internacionais em troca de uma desaceleração do programa nuclear, o Irã alertou que começaria a reduzir seus compromissos.
Em 1º de julho, o regime iraniano anunciou o aumento das reservas de urânio enriquecido além do limite de 300 quilos estabelecido pelo acordo. Uma semana depois revelou que superou a barreira de 3,67% na pureza de suas reservas de urânio.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) afirmou em 30 de agosto que as reservas de urânio do Irã eram de 360 quilos e que quase 10% tinham sido enriquecidos a 4,5%.
– Crédito do petróleo –
O vice-ministro das Relações Exteriores, Abas Araghchi, voltou a afirmar que o país está disposto a retornar a uma aplicação total do acordo sobre o programa nuclear em troca de uma linha de crédito de 15 bilhões de dólares, atualmente negociada com os europeus.
Araghchi expressou dúvidas, porém, sobre a possibilidade de um acordo para o plano dentro do prazo estabelecido pelo Irã para o alívio das sanções.
“O Irã […] voltará a aplicar completamente o JCPOA (acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano) somente se puder vender seu petróleo e se beneficiar plenamente das receitas dessas vendas”, afirmou.
“A proposta francesa vai neste sentido”, completou o vice-chanceler.
Araghchi descartou uma renegociação do acordo de Viena, mas disse que o Irã está disposto a discutir como implementá-lo de modo mais eficiente.
O acordo sobre o programa nuclear de 2015 foi assinado pelo Irã e pelo grupo P5+1: os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU – Reino Unido, China, França, Rússia e Estados Unidos – e a Alemanha.