O Irã lançou um ataque direto contra Israel na madrugada deste domingo, com drones militares e mísseis balísticos e de cruzeiro. Por volta de 1h45 (19h45 do sábado em Brasília), sirenes foram acionadas em Jerusalém, e defesas aéreas israelenses foram ativadas contra alvos no céu. Alertas também foram emitidos no norte e sul de Israel.

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Como o Irã fica a mais de 1.000 km, esperava-se que os drones iranianos demorassem horas para se aproximar de Israel. Segundo militares israelenses, foram lançadas cerca de 200 armas ofensivas, entre drones e mísseis.

Até às 5h45 (23h45 em Brasília), as Forças Armadas de Israel afirmavam ter interceptado a “grande maioria” dos mísseis e drones, com seu sistema de defesa aérea Arrow, juntamente com aliados estratégicos na região, antes que as as armas entrassem em seu território.

Os israelenses classificaram os danos causados pelo ataque como “mínimos” e na maior parte restritos a uma base militar no sul, com alguns membros do contingente local sofrendo ferimentos leves. Segundo militares dos Estados Unidos, suas forças na região também abateram vários drones iranianos, sem mencionar números nem locais exatos.

O ataque ocorre após semanas de tensão crescente entre Israel e o Irã. Neste sábado, Israel seguia em alerta devido a ameaças de represália de Teerã na esteira de um bombardeio israelense ao complexo da embaixada iraniana em Damasco, Síria, no início do mês.

No Irã, houve celebrações quando o ataque foi anunciado. Várias centenas de iranianos se reuniram durante a noite em Teerã para comemorar, na Praça da Palestina e em frente à universidade da capital, de acordo com a imprensa iraniana.

Irã afirma que ofensiva é resposta a ataque a consulado

A Guarda Revolucionária do Irã divulgou uma declaração, confirmando o lançamento do ataque, apontando que a ação foi uma “resposta” ao bombardeio israelense contra o complexo diplomático iraniano na Síria.

“Lançamos uma operação usando drones e mísseis em resposta ao crime da entidade sionista de atacar o consulado iraniano na Síria. A operação foi realizada com dezenas de mísseis e drones para atingir alvos específicos nos territórios ocupados”, declararam os militares iranianos.

Na quarta-feira, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, ameaçara Israel: “Quando o regime sionista ataca um consulado iraniano na Síria, é como se tivesse atacado o solo iraniano. Esse regime malicioso tomou uma decisão errada. Deve ser punido e será punido.” As declarações foram repetidas na conta do líder iraniano na rede social X (ex-Twitter).

Na mesma plataforma, a missão iraniana nas Nações Unidas pareceu indicar que a ofensiva iraniana pode se restringir à ação desta madrugada, e que os próximos passos dependerão da reposta israelense. O Irã também pareceu indicar que não procura uma escalada com os EUA, aliado de Israel.

“Conduzida com base no Artigo 51 da Carta da ONU, referente à legítima defesa, a ação militar do Irã foi uma resposta à agressão do regime sionista contra nossas instalações diplomáticas em Damasco. A questão pode ser considerada concluída. No entanto, se o regime israelense cometer outro erro, a resposta do Irã será consideravelmente mais severa. Trata-se de um conflito entre o Irã e o regime israelense desonesto, do qual os EUA devem se afastar!”

Israel já se preparava

Neste sábado, Israel determinou a suspensão das aulas em todas as escolas. Países como Alemanha, França e Reino Unido pediram que seus cidadãos evitassem viajar para Israel. Berlim atém mesmo instou seus cidadãos a deixarem o Irã.

Antes, um navio porta-contêineres ligado a Israel foi apreendido por forças do Irã após um ataque por helicóptero próximo ao Estreito de Hormuz.

Netanyahu: “Estamos prontos para qualquer cenário”

Na madrugada do domingo (hora local), o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reuniu-se com seu gabinete de guerra, e divulgou uma declaração em meio ao lançamento de drones pelo Irã.

“Nos últimos anos, e especialmente nas últimas semanas, Israel tem se preparado para um ataque direto do Irã. Nossos sistemas defensivos estão instalados; estamos prontos para qualquer cenário, tanto defensivo quanto ofensivo. O Estado de Israel é forte. As Forças de Defesa de Israel são fortes. A população é forte. Apreciamos o fato de os EUA estarem ao lado de Israel, bem como o apoio do Reino Unido, França e muitos outros países.”

“Determinamos um princípio claro: quem nos causar danos sofrerá danos. Nós nos defenderemos de qualquer ameaça e o faremos com cabeça erguida e determinação. Cidadãos de Israel, sei que vocês também são sensatos. Eu os convido a seguirem as diretrizes do Comando da Frente Interna das FDI. Juntos nos manteremos firmes e, com a ajuda de Deus, venceremos todos os nossos inimigos.”

A última vez que Israel enfrentou um ataque aéreo diretamente organizado pelo governo de outro país – não considerando grupos como Hamas e Hisbolá – foi em 1991, quando o ditador iraquiano Saddam Hussein ordenou o lançamento, contra Tel Aviv e Haifa, de mais de 40 mísseis Scud, de fabricação soviética.

Atualmente, Israel conta com uma série de camadas de defesa aérea, capazes de interceptar desde foguetes até mísseis de longo alcance. O porta-voz do Exército israelense Daniel Hagari admitiu que o sistema de defesa aérea é “excelente”, mas não é 100% efetivo, e orientou a população a seguir as instruções de segurança.

Aliados reforçam apoio a Israel

O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, condenou na X o ataque do Irã contra Israel como uma “escalada sem precedentes”: “A UE condena veementemente o inaceitável ataque iraniano contra Israel. Trata-se de uma escalada sem precedentes, e uma grave ameaça à segurança regional.”

Igualmente pela rede social X, o presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou: “Acabo de me reunir com minha equipe de segurança nacional para uma atualização sobre as ofensivas do Irã contra Israel. Nosso compromisso com a segurança de Israel contra as ameaças do Irã e de seus grupos aliados é inabalável.”

A Alemanha, também aliada de Israel, também demonstrou apoio aos israelenses e condenou o ataque iraniano: “O Irã disparou drones e mísseis contra Israel. Condenamos veementemente o ataque em curso, que tem o potencial de mergulhar uma região inteira no caos. O Irã e os seus grupos aliados devem acabar com isto imediatamente. Toda a nossa solidariedade vai para Israel neste momento”, disse a ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock.

O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, também comentou a situação na madrugada deste domingo: “O ataque aéreo ao território israelense, que o Irã iniciou durante a noite, é irresponsável e não pode ser justificado por nada. O Irã está arriscando uma conflagração regional”.

O chefe de governo confirmou que a Alemanha “está ao lado de Israel”, e que pretende discutir com os demais aliados as medidas cabíveis.

Ataque a embaixada do Irã na Síria aumentou tensão

As tensões entre o Irã e Israel remontam a décadas e são particularmente alimentadas pelo apoio do regime fundamentalista de Teerã a grupos islâmicos que se opõem aos israelenses, como o Hisbolá e o Hamas. Com este último Tel Aviv vem travando, desde os atentados de 7 de outubro de 2023, uma guerra em Gaza. Teerã nega o direito de Israel de existir, e ameaça regularmente o que chama de “regime sionista” com a aniquilação

Mas as tensões tiveram nova escalada em 1º de abril, com o bombardeio aéreo de um complexo diplomático iraniano na Síria, deixando 16 mortos, inclusive dois altos comandantes da Guarda Revolucionária iraniana. Teerã culpa Israel, que não confirmou nem desmentiu a acusação. Desde então, líderes do regime iraniano vinham ameaçando lançar uma retaliação.

Na sexta-feira, o governo americano também alertara para a possibilidade de o Irã lançar um ataque contra alvos israelenses. Reconhecendo que isso poderia ocorrer “mais cedo do que tarde”, o presidente Biden instou os iranianos a frearem qualquer iniciativa hostil: “Estamos dedicados à defesa de Israel. Apoiaremos Israel. Ajudaremos a defender Israel, e o Irã não terá sucesso.”