O Irã declarou, nesta segunda-feira (20), cinco dias de luto pela morte, em um acidente de helicóptero, do presidente Ebrahim Raisi, 63 anos, um ultraconservador que estava no poder há três anos e que era considerado um dos favoritos para suceder o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do país.

A morte de Raisi, de 63 anos, abre um período de incerteza política no Irã, no momento em que a guerra em Gaza entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas, um aliado de Teerã, sacode a região.

Khamenei designou como presidente interino o primeiro vice-presidente, Mohammad Mokhber, à espera da realização de eleições, que serão celebradas em 28 de junho, segundo a TV estatal.

Além disso, o principal negociador do programa nuclear iraniano, Ali Bagheri, foi nomeado ministro interino das Relações Exteriores após a morte do chanceler Hossein Amir Abdolahian, de 60 anos, que também viajava no helicóptero.

O funeral do presidente eleito em 2021 começará na terça-feira, e um dia depois as autoridades vão organizar um cortejo fúnebre em Teerã.

Nesta segunda-feira, milhares de iranianos se reuniram na praça Valiasr, na capital iraniana, e bandeiras tremulam a meio mastro.

“A nação iraniana perdeu um servo sincero e valioso”, declarou Khamenei, de 85 anos.

O helicóptero Bell 212 em que Raisi viajava perdeu contato na tarde de domingo, quando sobrevoava uma região montanhosa do Irã em condições meteorológicas difíceis, com chuva e uma neblina intensa.

– Preocupação internacional –

Além do presidente e do ministro das Relações Exteriores, também estavam no helicóptero o governador da província do Azerbaijão Oriental, o principal imã da região, o chefe de segurança do presidente e três tripulantes.

As equipes de emergência recuperaram nesta segunda-feira os corpos dos passageiros, que foram levados para Tabriz, uma grande cidade do noroeste do país, anunciou o Crescente Vermelho.

O estado-maior das Forçadas Armadas iranianas ordenou a abertura de uma investigação sobre a causa do acidente, informou a agência de notícias Isna.

A Turquia, que enviou no domingo à noite um drone para a região do acidente, afirmou que o helicóptero não tinha “sistema de identificação”, ou que este foi danificado com a queda.

A situação é acompanhada de perto pela comunidade internacional, em especial por Estados Unidos, Rússia, China e países vizinhos ao Irã.

Vários líderes enviaram mensagens de condolências, como o presidente russo, Vladimir Putin, que prestou homenagem a um “político notável” e “verdadeiro amigo da Rússia”. O presidente sírio, Bashar al Assad, expressou “solidariedade” a Teerã, que apoia seu governo na guerra civil síria.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva expressou no X “suas condolências aos familiares de todas as vítimas, ao governo e ao povo iraniano”.

Venezuela e Cuba lamentaram a morte de Raisi, um aliado-chave respectivamente dos governos de Nicolás Maduro e de Miguel Díaz-Canel.

O presidente da China, Xi Jinping, afirmou que a morte é “uma grande perda para o povo iraniano”.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas observou um minuto de silêncio nesta segunda-feira, e o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, declarou um dia de luto nacional em seu país.

O Departamento de Estado americano enviou uma mensagem de condolências ao Irã, apesar da inimizade entre os dois países e do fato de Raisi estar em uma lista de sancionados pelos Estados Unidos.

O porta-voz da Casa Branca, John Kirby, afirmou que Raisi “era um homem com as mãos manchadas de sangue” e responsável por abusos “atrozes” dos direitos humanos no Irã.

Considerado um político ultraconservador, Raisi foi eleito em 18 de junho de 2021 no primeiro turno de uma eleição marcada por uma taxa recorde de abstenção e pela ausência de uma oposição significativa.

Sempre vestido com turbante e um longo casaco religioso preto, Raisi sucedeu o moderado Hassan Rohani.

– Última mensagem pró-Palestina –

Raisi viajou no domingo à província do Azerbaijão Oriental para inaugurar, ao lado do presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, uma barragem na fronteira entre os dois países.

Na entrevista coletiva conjunta, Raisi expressou novamente seu apoio ao Hamas contra Israel. “Consideramos que a Palestina é a primeira questão do mundo muçulmano”, declarou.

Em uma mensagem de condolências, o movimento islamista palestino agradeceu o “apoio à resistência palestina”.

O Hezbollah, movimento libanês pró-Irã, também prestou homenagem a Raisi, quem chamou de “protetor dos movimentos de resistência”.

Raisi saiu ainda mais forte das eleições legislativas de março, a primeira votação no país depois dos protestos que abalaram o Irã no final de 2022 devido à morte de Mahsa Amini, uma jovem curda detida por supostamente não respeitar o código de vestimenta do país.

Nascido em novembro de 1960, Raisi passou a maior parte de sua carreira no Poder Judiciário. Antes de assumir o posto de presidente, ele foi procurador-geral de Teerã e procurador-geral do país.

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