Irã conversa com potências europeias sobre seu programa nuclear

O Irã teve uma reunião, nesta sexta-feira (16), em Istambul, com representantes de Alemanha, França e Reino Unido sobre como avançam suas negociações com os Estados Unidos a respeito de seu programa nuclear, depois que o presidente americano, Donald Trump, exigiu que Teerã tome uma decisão rápida sobre o tema.

O trio de potências europeias já tinha assinado em 2015, juntamente com China, Estados Unidos e Rússia, um acordo com Teerã para limitar suas atividades nucleares em troca da flexibilização das sanções que sufocam a economia iraniana.

Contudo, durante o primeiro mandato de Trump, Washington abandonou unilateralmente o acordo e retomou as sanções ao Irã, que então parou de cumprir os compromissos assumidos a respeito do desenvolvimento nuclear.

Atualmente, Teerã enriquece urânio a 60%, muito acima do limite de 3,67%, definido em 2015. Para construir uma arma nuclear, como os Estados Unidos e seus aliados suspeitam que o Irã pretenda fazer, é necessário alcançar 90%.

“Eles [os iranianos] têm uma proposta. Sabem que devem agir rapidamente ou algo ruim vai acontecer”, advertiu nesta sexta-feira o presidente dos Estados Unidos antes de deixar Abu Dhabi, última etapa de sua viagem pelo Golfo.

O chefe da diplomacia iraniana, Abbas Araghchi, afirmou, por sua vez, que seu país não recebeu “nenhuma proposta por escrito dos Estados Unidos, nem direta, nem indiretamente”, escreveu o ministro no X.

O vice-ministro iraniano das Relações Exteriores, Kazem Gharibabadi, declarou que representantes de seu país conversaram com funcionários dos governos de Alemanha, França e Reino Unido em Istambul sobre os avanços nas negociações entre Teerã e Washington e sobre uma hipotética suspensão das sanções.

“Se for necessário, voltaremos a nos encontrar para continuar as conversações”, disse Gharibabadi no X.

O diretor de política do Ministério de Relações Exteriores britânico, Christian Turner, indicou no X que as partes reafirmaram seu “compromisso com o diálogo, aplaudiram as conversas EUA/Irã em curso e (…) concordaram em se reunir novamente”.

– “Estratégia de confronto” –

Uma fonte do governo dos Estados Unidos afirmou, por sua vez, que o secretário de Estado Marco Rubio se reuniu em Istambul com assessores diplomáticos e de segurança da França, do Reino Unido e da Alemanha para conversar sobre o programa nuclear iraniano e sobre o conflito na Ucrânia.

Em uma coluna publicada no domingo na revista francesa Le Point, Araghchi fez um alerta aos países europeus contra uma “estratégia de confronto”.

No final de abril, o chanceler francês, Jean-Noël Barrot, afirmou que os três países não hesitariam em restabelecer sanções contra Teerã se a segurança europeia fosse ameaçada por seu programa nuclear.

Relegados ao segundo plano com as negociações diretas entre Estados Unidos e Irã, os países europeus ponderam se devem ativar um mecanismo do acordo de 2015 que permite a reimposição automática de sanções a Teerã.

O encontro desta sexta-feira entre o Irã e os países europeus aconteceu menos de uma semana após a quarta rodada de negociações com os Estados Unidos, sob a mediação de Omã.

Desde seu retorno à Casa Branca em janeiro, Trump retomou a política de “pressão máxima” sobre o Irã e exigiu que Teerã negocie um novo acordo, sob a ameaça de uma ação militar caso a via diplomática não prospere.

– “Ramo de oliveira” –

Na quinta-feira, o site americano de notícias Axios informou que a administração Trump entregou à parte iraniana uma “proposta por escrito” para um acordo nuclear em sua última reunião.

Na terça-feira, em Riade, Trump afirmou que havia oferecido um “ramo de oliveira” aos líderes iranianos, mas destacou que se tratava de uma proposta que não duraria eternamente.

A República Islâmica afirma que seu programa nuclear tem exclusivamente fins civis, mas não quer renunciar ao enriquecimento de urânio e não deseja que as negociações se estendam a questões como seu programa de mísseis.

Em uma entrevista ao canal NBC News, um conselheiro do guia supremo Ali Khamenei, Ali Shamkhani, disse que o Irã se comprometerá a não fabricar armas nucleares, a descartar suas reservas de urânio altamente enriquecido, a enriquecer urânio apenas no nível necessário para uso civil e a permitir inspeções internacionais de suas instalações nucleares.

Em troca, o país exige a retirada imediata de todas as sanções econômicas que sufocam a República Islâmica.

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