Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier

SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) – A queda nos custos dos combustíveis, combinada com preços de alimentos mais baratos, garantiu em setembro a terceira baixa consecutiva dos preços ao consumidor no Brasil, porém em ritmo de queda mais fraco do que nos meses anteriores e abaixo da expectativa.

Na primeira vez que o IPCA marca três quedas seguidas desde 1998, o resultado levou a taxa acumulada em 12 meses abaixo de 8%, o que não acontecia desde abril de 2021.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou 0,29% em setembro, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira.

O ritmo de recuo, entretanto, vem perdendo força depois de quedas de 0,68% em julho e 0,36% em agosto do índice que serve de baliza para a meta oficial.

Ainda assim, a inflação em 12 meses seguiu em um dígito ao desacelerar a 7,17%, de 8,73% em agosto. A meta oficial para o aumento dos preços este ano é de 3,5%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos, alvo já abandonado pelo Banco Central.

As expectativas em pesquisa da Reuters eram de recuo de 0,34% na comparação mensal e de alta de 7,10% em 12 meses.

O grupo Transportes deu novamente a maior contribuição para a deflação do mês, na esteira de queda dos preços praticados pela Petrobras nas refinarias em meio à retração dos custos do petróleo no mercado internacional, bem como impacto residual da lei que estabelece um teto para as alíquotas de ICMS sobre os setores de combustíveis, gás, energia, comunicações e transporte coletivo.

Com deflação de 1,98%, Transportes apresentou o terceiro mês seguido de queda. Os preços da gasolina caíram 8,33% em setembro, enquanto etanol teve queda de 12,43%, óleo diesel caiu 4,57% e gás veicular ficou 0,23% mais barato. Se a gasolina fosse tirada da conta, segundo o IBGE, o IPCA teria registrado alta de 0,15%.

“Com a alta recente do petróleo, o próximo movimento dos preços de combustíveis no mercado doméstico deveria ser para cima, mas é pouco provável que isso ocorra até a conclusão das eleições. Por outro lado, preços de alimentos começaram a cair com mais força do que se esperava há algumas semanas”, destacou Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos.

LEITE

Já o grupo alimentação e bebidas passou a cair 0,51% em setembro, depois de alta de 0,24% em agosto, puxado pela alimentação no domicílio (-0,86%).

O leite longa vida, cujos preços caíram 13,71% em setembro, deu a maior contribuição para o resultado do grupo, depois de ter subido forte este ano, segundo o IBGE, por conta da entressafra e da guerra na Ucrânia. Ainda assim, o produto tem alta de 36,93% no acumulado dos últimos 12 meses.

Na outra ponta, Vestuário e Despesas Pessoais registraram as maiores altas no mês, respectivamente de 1,77% e 0,95%.

“Alimentos…devem passar por uma reversão já no IPCA de outubro. Além disso, Transportes … deve (ter a queda) revertida porque o preço do petróleo tem subido no mercado internacional. Daqui para a frente a gente deve ver equalização entre preços livres e administrados”, avaliou Carla Argenta, economista chefe da CM Capital.

Serviços também mostraram aceleração da alta, passando a 0,40% em setembro de 0,28% em agosto, movimento relacionado, segundo o IBGE, a passagens aéreas, estética e turismo.

“Já vemos uma retomada da demanda por conta da queda do desemprego. É uma economia em recuperação, a demanda está reagindo em alguns setores”, disse o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.

Os dados apontam ainda que o índice de difusão, que mostra o espalhamento das variações de preços, caiu a 62% em setembro, de 65% no mês anterior, o mais baixo desde agosto de 2020.

Diante do cenário de inflação elevada, o Banco Central tirou a taxa básica de juros de uma mínima de 2% e a elevou a 13,75%, mas interrompeu o ciclo de aperto ao decidir manter a Selic nesse nível no mês passado.

A autoridade monetária deixou claro, entretanto, que não hesitará em retomar as altas nos juros se a redução da inflação não transcorrer como o esperado.

Cenário de referência do BC aponta para uma inflação de 5,8% em 2022 e 4,6% em 2023, enquanto o mercado calcula respectivamente taxas de 5,71 e 5,00%, segundo a última pesquisa Focus.

Embora a inflação dê indícios de estar controlada em meio às medidas tributárias recentes adotadas pelo governo, para o ano que vem o BC afirmou que a probabilidade de estouro da meta subiu de 29% para 46%, citando elevação das projeções de mercado, “possivelmente refletindo uma persistência da inflação de serviços”.

O cenário considera o retorno da tributação federal sobre combustíveis em 2023, após desoneração implementada neste ano. No entanto, o governo já prometeu que manterá esse corte tributário e incluiu a medida na proposta de Orçamento do ano que vem –a iniciativa ainda precisa ser aprovada no Congresso.

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