Por Luana Maria Benedito e Rodrigo Viga Gaier

SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) – A inflação brasileira desacelerou em janeiro frente ao mês anterior, mas os preços de alimentos e combustíveis continuaram pesando no bolso do consumidor no início de 2023, mantendo o Banco Central sob pressão em meio a ataques do governo ao nível de juros no país e à condução da política monetária.

Em janeiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,53%, desacelerando depois de ter avançado 0,62% em dezembro, mostraram os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira.

Isso levou o índice a acumular em 12 meses até janeiro alta de 5,77%. A meta para a inflação este ano é de 3,25%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos, medida pelo IPCA.

As expectativas de analistas em pesquisa da Reuters eram de alta de 0,57% no mês e de 5,80% no acumulado em 12 meses.

Em 2022, a inflação medida pelo IPCA fechou com avanço acumulado de 5,79%, influenciada principalmente por alimentação, e a pressão agora é para que volte a ficar dentro da banda de tolerância.

Na semana passada, o Banco Central manteve a taxa básica de juros Selic em 13,75% e ressaltou que a incerteza fiscal e a deterioração nas expectativas de inflação do mercado elevam o custo para que a autoridade monetária atinja suas metas.

Depois disso, voltou a ser alvo de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que reclamou do nível da Selic e tratou a independência formal da autarquia como “bobagem”, além de questionar se a meta de inflação não está baixa demais, forçando uma deterioração da atividade econômica.

Em meio a isso, na ata de sua última reunião o BC fez um aceno ao pacote de medidas fiscais apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

O IPCA sofreu em janeiro o impacto do grupo Alimentação e bebidas, que avançou 0,59%, contribuindo com 0,13 ponto percentual para a alta do índice geral. Ainda assim, esse segmento desacelerou o avanço em relação à taxa de 0,66% vista em dezembro.

“Os alimentos têm sido um foco de resistência da inflação. Temos que aguardar, esse comportamento é importante mas pode ser influenciado por vários fatores como econômicos e até políticos”, disse o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.

Os alimentos tiveram grande influência dos subitens batata-inglesa e cenoura, que saltaram 14,14% e 17,55%, respectivamente, devido à grande quantidade de chuvas nas regiões produtoras. P

“Por outro lado, observamos queda de 22,68% no preço da cebola, por conta da maior oferta vindo das regiões Nordeste e Sul, item que teve alta de mais de 130% em 2022”, completou Kislanov.

O grupo Transportes exerceu o segundo maior impacto positivo sobre o IPCA em janeiro, acelerando a alta para 0,55%, frente a 0,21% no mês anterior, e contribuindo com 0,11 ponto percentual para o índice geral. Os combustíveis tiveram alta de 0,68%, puxados pelo aumento nos preços da gasolina (0,83%) e do etanol (0,72%).

Dos nove grupos de produtos e serviços que compõem o IPCA, apenas Vestuário apresentou variação negativa em janeiro, de 0,27%, primeira queda após 23 meses seguidos de altas graças a descontos sobre os preços que foram praticados em dezembro, para o Natal, segundo Kislanov.

A inflação de serviços, por sua vez, seguiu pressionando ao acelerar a 0,60% em janeiro, de 0,44% no mês anterior, acumulando em 12 meses alta de 7,80%.

O índice de difusão, que mostra o espalhamento das variações de preços, caiu a 63% em janeiro, de 69% em dezembro e bem abaixo dos 73% vistos em janeiro de 2022.

“Na nossa visão, a inflação deve continuar desacelerando a passos lentos, principalmente em função de serviços, que sofrem com a inércia inflacionária. Além disso, o aumento da massa salarial disponível para o consumo deve manter a demanda do segmento elevada”, disse em nota Claudia Moreno, economista do C6 Bank, projetando alta do IPCA de 5,8% ao final do ano.

O BC piorou suas estimativas para a inflação e informou que, em seu cenário de referência, as estimativas para a inflação estão em 5,6% para 2023 (contra 5,0% na reunião anterior) e 3,4% em 2024 (ante 3,0%).

Pesquisa Focus realizada pelo BC com uma centena de economistas mostra que a expectativa do mercado é de que a inflação encerre este ano a 5,78% e 2024 a 3,93%.

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